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Economia

5 coisas que você precisa saber para entender a crise na China

O gigante asiático registrou a sua menor taxa de crescimento na história, além de uma corrida bancária e queda drástica no setor imobiliário, indicando que a economia pode estar engasgando.

O gigante asiático registrou a sua menor taxa de crescimento na história, além de uma corrida bancária e queda drástica no setor imobiliário, indicando que a economia pode estar engasgando e nascendo uma crise na China.

Foi em 1961 que o economista americano e prêmio Nobel, Paul Samuelson, primeiro previu que a União Soviética iria ultrapassar o PIB dos Estados Unidos em questão de algumas décadas.

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Ao longo das edições seguintes de seu livro, um dos mais conceituados manuais de economia da segunda metade do século XX, e amplamente adotado ao redor do mundo, Samuelson continuou a revisar a previsão, adiando o prazo, mas garantindo que a trajetória permitiria uma ultrapassagem.

As previsões continuaram até a última edição em 1989, quando a economia soviética entraria em colapso. 

Sua ideia era a de que o planejamento central soviético seria capaz de guiar o investimento de maneira mais ágil do que o capitalismo. De fato, como John Robson e Daron Acemoglu citam em seu “Por que as nações fracassam”, poucos países do mundo tiveram um crescimento tão acelerado quanto os soviéticos sob o regime de Stalin, saindo de uma sociedade quase feudal para uma sociedade industrial.

Como ambos ainda citam, o efeito é comum em economias centralizadas, que conseguem “cobrir o gap” entre países pobres e ricos, e guiar por meio do planejamento central a alocação de recursos para copiar indústrias já estabelecidas. O problema, claro, está na parte da inovação.

Regimes centralizados garantem péssimos incentivos para inovação, com pouca segurança jurídica e muita incerteza. Este é o caso da China atual, onde a despeito de o setor de tecnologia ter ganhado destaque, suas ambições contrastam com o poder do partido, o que tem levado a repressões pesadas, restringindo o potencial de empresas como Alibaba, Tencent ou outros players chineses frente ao resto do mundo.

De fato, a China garante por meio do seu planejamento a formação de inúmeros engenheiros e outros profissionais necessários a indústria 4.0, mas há pouca ou nenhuma liberdade para se inovar, o que limita o futuro do país.

Neste momento, porém, os sinais de crise na China começam a vir do mais tradicional dos setores: a construção civil, e se espalham por outros tantos. 

Estes são os 5 pontos que você precisa saber para entender o que está acontecendo na crise da China e porque o país teve no segundo trimestre de 2022 o seu pior crescimento na história, de apenas 0.4%.

1) Demografia: a China está cada vez mais velha 

Conhecido por ser o país mais populoso do mundo, a China tem revertido sua trajetória de crescimento demográfico há algumas décadas, seja pela política do filho único (terminada em 2016, após ter sido responsável por impedir o nascimento de cerca de 400 milhões de crianças), ou pela migração do campo para a cidade.

A população do país hoje se encontra em uma rápida aceleração na sua média de idade. Na média, os chineses possuem hoje 38,4 anos, contra 29,8 no início dos anos 2000. 

Essa tendência é relevante quando tratamos de crescimento econômico, tendo em vista a vantagem comparativa da própria China. Historicamente conhecida por uma abundância de trabalhadores, o país se tornou o centro fabril do planeta. Agora, com a diminuição da população, os custos de mão de obra tem aumentado, e o crescimento econômico também. 

Hoje, um trabalhador industrial chinês, já possui um salário médio superior ao brasileiro. Trata-se de uma boa notícia para os chineses, mas acende um alerta no próprio governo.

Isso ocorre pela ausência de um sistema de seguridade social no país. Assim como diversos outros países orientais, os chineses não possuem uma previdência pública e um sistema destinado a financiar a população idosa, que se torna dependente da riqueza acumulada ao longo da vida, além da ajuda dos filhos.

Em um país que era considerado um dos mais pobres do mundo em 1970, e onde o número de filhos é limitado, o problema se torna ainda maior. 

Como se não bastasse, cerca de 50% da riqueza dos chineses, estimada em $120 trilhões, está concentrada em imóveis, que somam $66 trilhões em valor.

Com menos pessoas nascendo, a demanda por novos imóveis e consequentemente a taxa de remuneração destes imóveis cai. 

Estima-se que um imóvel em Shangai, centro financeiro da China, gere hoje um rendimento de 2% ao ano em alugueis, uma taxa significativamente baixa, tornando a ideia de viver de renda uma impossibilidade para inúmeros aposentados chineses.

A taxa de poupança do país, de 44,9%, segue sendo uma das maiores do mundo, mas seu fator de remuneração continua caindo. 

2) Como o governo inflou uma bolha imobiliária

Ao menos 25,7% do PIB chinês possui origem no setor da construção civil, um número considerado extremamente elevado quando comparado aos 4,2% do PIB dos Estados Unidos, 5,9% do Brasil ou 7% do Reino Unido.

Isso ocorre em boa medida pela elevada migração de chineses para as cidades nas últimas décadas, e consequentemente seu aumento no nível de renda. Ainda assim, há outros fatores relevantes nessa história, que fizeram a participação da construção civil saltar de 11% em 2010 para ¼ do PIB hoje.

Na China, a terra é propriedade do Estado. Para utilizar essa terra, desenvolvedores imobiliários precisam pagar taxas de uso, o que por sua vez representa até 50% da receita de governos locais.

Em 2020, por exemplo, governos embolsaram 8,49 trilhões de Yuans com direitos de uso de terra, o que equivale a cerca de $1,26 trilhão, ou quase ⅔ do PIB brasileiro.

Essa política, de inspiração inglesa, somada à meta de crescimento do PIB entregue pelo partido em Beijing, obriga governos locais a emitir mais e mais direitos de construção, seja para se financiar, ou para impulsionar o PIB.

Como mencionado acima, essa questão torna os chineses extremamente dependentes de imóveis como parte de sua riqueza guardada, mas gera problemas na medida em que a oferta de imóveis não para de subir. A demanda, por outro lado, segue em queda.

Há cada vez menos pessoas demandando imóveis novos, menos pessoas se mudando do campo para a cidade, ou ascendendo de classe social.

O crédito farto concedido pelos bancos públicos também é um problema, tendo em vista que as taxas de juros seguem em alta no mundo.

Neste momento, compradores de 35 imóveis em 22 cidades na China ameaçam suspender os pagamentos o que, como aponta o Citibank, pode acabar se tornando um problema maior. 

A motivação dos compradores: atraso nas obras e desvalorização dos imóveis, que em Maio tiveram perda de 0,43% no seu valor médio. 

3) Venda de imóveis novos cai 43% em junho

Em junho de 2022, os 100 maiores desenvolvedores imobiliários chineses tiveram uma queda de 43%. 

O menor nível de vendas afeta o fluxo de caixa das empresas, ameaçando gerar problemas junto aos bancos que concedem crédito. 

Este mesmo sinal já havia sido acendido em meio a quebra da construtora Evergrande, em 2021.

As hipotecas, ou seja, o pagamento dos imóveis, corresponde hoje a cerca de 50 trilhões de Yuans, ou ⅙ de todo dinheiro em circulação na China, o que significa, como ocorreu em 2008 nos Estados Unidos, que um mínimo nível de calote, pode criar um risco sistêmico. 

Como mencionado acima, o nível de risco na China supera aquele dos Estados Unidos em 2008 por duas razões: a dívida americana de subprimes encontrava-se em boa parte espalhada ao redor do planeta, e o peso da construção civil no PIB do país era muitas vezes menor.

Caso a construção civil chinesa siga enfrentando problemas, o que poderemos ver é uma diminuição do nível de crescimento no país.

E isso acabaria implicando em questões globais, não pelo risco de crédito, mas pela demanda de materiais. Entre 2013 e 2016, por exemplo, a China consumiu mais concreto do que os Estados Unidos em todo o século 20.

Um estudo publicado pela japonesa Nomura, aponta que apenas 60% dos imóveis vendidos na China entre 2013-2020 foram entregues, o que implica em uma forte possibilidade de que os compradores tenham de encarar obras inacabadas, na medida em que as construtoras por lá se responsabilizam em boa parte das vezes apenas pelo esqueleto dos prédios, sem os acabamentos.

Caso os bancos comecem a sentir pressão por ausência de pagamentos de hipoteca, é provável que as construtoras logo comecem a ter problemas de caixa. 

Este, na visão de analistas de alguns analistas, é um problema essencialmente político, tendo em vista que os bancos locais são apenas repassadores de crédito, e as decisões de construção e peso sobre o setor imobiliário são tomadas pelos governantes locais. 

4) A corrida bancária nos pequenos bancos do interior

Com 270% do PIB em dívida, a China possui uma forte dependência do setor imobiliário também para girar o seu sistema financeiro. 

Todo este sistema é organizado entre grandes bancos, de nível nacional, mas também em pequenas instituições locais, com foco no mercado rural e regional.

Em Maio, alguns destes bancos, ou mais especificamente 3 deles, anunciaram o congelamento de 10 bilhões de Yuans, ou $1,43 bilhão, de 1 milhão de clientes.

Autoridades do PBOC, o banco central chinês, alegam estar investigando a situação, mas até o momento, o que se sabe é que estes bancos com permissão para operar localmente, haviam migrado para o online, aceitando clientes de outras regiões e prometendo taxas de juros muito mais promissoras.

Neste momento, a taxa de juros na China está em 4,45%, o que considerando a inflação oficial em 2,5%, garante ao país uma das maiores taxas de juros do mundo (de fato, na maior parte do planeta há juros negativos em função da inflação).

A despeito de ser alto frente ao resto do mundo, os 2% reais ao ano têm sido insuficientes para a maior parte dos poupadores chineses conseguirem viver de suas poupanças, o que os leva a se arriscar em bancos que prometem juros maiores.

Estes pequenos bancos, que somam cerca de 4 mil, detém ¼ dos ativos chineses, e estão mais vulneráveis em uma situação de desaceleração econômica. 

Na prática, mesmo a queda brusca de receita dos governos locais, que arrecadaram 38% menos em permissões de terra e 5% menos de maneira geral, pode acabar atrasando pagamentos de dívidas em um país com tamanho nível de endividamento. 

5) Como isso pode afetar o Brasil?

Com ⅕ da população migrando do campo para a cidade, os chineses se tornaram ávidos consumidores de produtos essenciais para alimentação e construção. Soja, carne e minério de ferro, além do petróleo, foram alguns dos produtos mais importados pelo país.

E poucos países do mundo se beneficiaram tanto dessa transformação social quanto o Brasil. Ao contrário dos países ricos, que puderam comprar produtos mais baratos manufaturados pela China, o Brasil viu seus produtos de maior presença na pauta exportadora sendo valorizados.

O boom de commodities, do início do século 20, ocorreu em boa medida pela entrada da China na Organização Mundial do Comércio, em dezembro de 2001. 

Trilhões de dólares fluíram de EUA e Europa para comprar produtos chineses, enquanto algumas centenas de bilhões vieram parar no Brasil para sustentar a expansão das cidades do país.

O menor crescimento chinês significa, portanto, um problema para o Brasil. Neste ano, a despeito da guerra na Europa, commodities como minério de ferro já enfrentam queda de preços.

Em junho de 2022, a tonelada do minério de ferro esteve cotada a $130,7, comparado aos $214 em junho de 2021. Agora, em meio a expectativa de recessão nos EUA e desaceleração na China, a expectativa é de que o preço da tonelada do minério caia abaixo de $100.

O menor crescimento chinês e o envelhecimento da população são um desafio a mais para o Brasil na década, mas não exclui a possibilidade de o país se beneficiar de investimentos chineses, tendo em vista a busca por novos mercados pelo país asiático para investir os seus trilhões de dólares em recursos acumulados ao longo das últimas décadas.

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