Se firmando entre os maiores shows de sua geração, Succession se vale de boa histórias reais por trás da ficção.
A temporada final do “drama” da HBO está chegando ao fim, com uma trama que tinha tudo para transformá-la em uma série de nicho. Em Succession, porém, esse estigma de série de nicho se desfez ao incorporar dilemas e histórias reais.
A série narra a história do bilionário Logan Roy, dono de um conglomerado de mídia que se estende de canais de televisão a parques de diversão, cruzeiros no caribe e um estúdio de cinema às voltas com superproduções sobre super-heróis.
Aos 80 anos, Logan resiste em se desapegar do poder, em boa medida pela falta de confiança nos filhos.
Mas sem mais delongas, convém relembrar as fontes que inspiraram a série do produtor Jesse Armstrong.
1) Os Murdoch
Não há qualquer segredo que Armstrong tenha buscado criar uma história sobre o clã comandado por Rupert Murdoch. De fato, o primeiro roteiro apresentado à HBO era chamado simplesmente de “Murdoch”.
Rupert Murdoch nasceu na Austrália, mas tornou-se um gigante da mídia nos EUA. Por lá, sua empresa, a 21st Century Fox, ganhou uma fatia relevante de mercado.
A empresa acabaria vendida para a Disney. De fora do acordo, porém, ficou a parte de notícias. Como no acordo costurado por Logan Roy na 3ª temporada, Murdoch manteve a Fox News e a Fox Sports.
Seu apego foi bastante similar ao de Logan. A Fox News é conhecida nos EUA por possuir um peso significativo junto ao público conservador e de direita, como a ATN.
Mas a própria Disney, o maior conglomerado de mídia do mundo, também inspira a Waystar Royco. A empresa de propriedade do sr Mickey Mouse é dona de parques de diversão, estúdios de cinema (também envolvidos na produção de filme de super-heróis), além de uma linha de cruzeiros e mesmo uma ilha no caribe.
As histórias envolvendo Murdoch, dono de uma fortuna estimada em US$17,1 bilhões (o mesmo de Logan Roy, na estimativa do Financial Times), também se estendem aos seus filhos.
2) James e Lachlan Murdoch: Roman ou Kendall?
Murdoch possui 6 filhos de 4 casamentos. Sua filha mais velha, Prudence Murdoch, jamais demonstrou interesse pelos negócios da família. Na novelinha da HBO, Prudence pode ser vista em Connor Roy.
Outras duas filhas de Rupert possuem 20 e 22 anos respectivamente. Dessa forma, a sucessão de Murdoch recai sobre 3 nomes: Lachlan, Elisabeth e James.
Fã de hip-hop, James Murdoch nunca chegou a realizar uma versão de “L to The OG”, ao que se saiba, mas já foi dono de uma gravadora na área. Seu jeito meio rebelde o fez largar a faculdade em Harvard e se aventurar em negócios próprios, como a Rawkus Records.
Como nem tudo é óbvio, até mesmo pelo bem do entretenimento, as histórias se misturam, a depender do momento.
James está mais próximo de Roman. É o mais novo dos três, com um ar meio “rebelde”. Passou a ter maior presença nos negócios do pai em 2005. Naquele ano, Lachlan deixaria a empresa.
Quando descobriu-se que jornais da família Murdoch haviam grampeado membros da realeza britânica, porém, a situação ficou desfavorável. Foi a vez de James sair de cena. Ao contrário de Succession, onde Kendall testemunha no Congresso, na vida real esse papel coube a James. Foi ele quem teve de se explicar junto ao parlamento britânico.
James também já foi acionista do site Vice. Na série, há menção a um site similar de propriedade da Waystar, a Vaulter.
Lachlan, nosso Kendall Roy, começou na empresa em 1997. Naquele ano era um fato notório que Lachlan seria sucessor de Murdoch. Uma briga entre ele e o alto escalão da empresa, porém, o afastaram da companhia em 2005. Posteriormente, Lachlan retornaria ao comando. Atualmente é ele quem presidente o que sobrou após a venda da companhia.
2.1) Elisabeth Shiv Murdoch
Elisabeth Murdoch, ou Shiv Roy, sempre caminhou por projetos paralelos. Em 2000, acabou criando uma produtora própria, a Shine. Seu nome pode ser visto como produtora da série Chernobyl, também da HBO. Ela chegou a trabalhar na News Corp, mas por um breve período.
Em uma entrevista, Brian Cox (Logan Roy), conta que chegou a ser abordado por um fã certa vez. O fã então mencionou que ele e a esposa estavam gostando da série. Sua esposa, porém, estava com dificuldade em assistir. O motivo? O fã era Keith Tyson, marido de Elisabeth Murdoch.
Lachlan também já falou em entrevista “não ter interesse em assistir” Succession. Ainda assim, Lachlan teria acusado James Murdoch de vazar histórias da família para os produtores.
3) Os Redstone
Como Logan, Sumner Redstone saiu da pobreza para fundar a Viacom e a CBS. Dono de um conglomerado de mídia, Sumner escolheu sua filha, Shari Redstone, para seguir seu legado.
Ambos, porém, tiveram desavenças, o que a afastou por um tempo do papel.
Na série, Sumner se aproxima mais de um nêmesis de Logan, o bilionário Sandy Furness. Como Sandy (que na série esta em uma cadeira de rodas), Sumner também sofreu questionamentos por sua saúde.
Manteve-se à frente do negócio mesmo com questionamentos judiciais. Em 2018 alegou que uma tentativa de golpe tentou afastá-lo do negócio. Sumner morreu em 2020, estando a frente do negócio mesmo quando, como Sandy, não conseguia mais sequer falar.
Redstone se comunicava por meio de um ipad com 3 áudios seus. Dizia apenas “sim”, “não” e “fuck you”.
Quando Kendall Roy assume a empresa após o derrame de seu pai, é em Sandy que ele vê uma forma de se salvar. Kendall descobriu empréstimos não revelados (mais um caso real), omitidos por seu pai.
Como Logan, Sumner também era conhecido pelos casos com mulheres mais novas. Também como Logan, Sumner insistia para que elas acabassem ganhando papéis em suas emissoras.
4) Os Maxwell
Você ainda se lembra quando Kendall assumiu a empresa e vê uma série de empréstimos bilionários gerando dúvidas sobre o negócio? Pois este caso também é real.
A família Maxwell controlava um império de mídia britânico. Provavelmente você deva associar o nome a Ghislaine Maxwell, esposa de Jeffrey Epstein. Pois seu pai, Robert Maxwell, morreu de forma misteriosa, deixando um problema.
Robert, cujo corpo nunca foi encontrado, morto em um iate na Espanha. Após sua morte descobriu-se que ele havia desviado US$1 bilhão do fundo de pensão da empresa.
Quando os filhos, Ian e Kevin, assumiram o negócio, descobriram as dívidas bilionárias até então omitidas.
Ao contrário dos Roy, os irmãos Maxwell não conseguiram escapar. Sua empresa declarou falência nos anos seguintes.
5) Os Reinhart e a briga pelo “Trust”
Gina Reinhart é a mulher mais rica da Austrália. Dona de uma mineradora de minério de ferro, Gina entrou em guerra contra a família.
Como na primeira temporada de Succession, Gina deu aos filhos 3 dias para concordarem com seus termos. Os termos, no caso, diziam respeito ao controle do Trust familiar.
O Trust legado pelo pai de Gina, detinha participação relevante na Hancock Iron Ore. Estima-se que os ativos de 24% da companhia valiam US$5 bilhões.
O objetivo do Trust era o de assegurar a educação das netas de Langley e filhas de Gina.
Na justiça, as herdeiras alegaram que sua mãe sabotou os recursos. Gina teria transferido pra si bilhões de dólares em ativos.
Ela também mudou a data em que as filhas teriam acesso. De 2011 para 2068.
No fim, Bianca Reinhart conseguiu derrotar a mãe e assumir o controle.
6) A família Shin e o voto de confiança
A família Shin, do sul-coreano Lotter Group, já viveu casos similares aos de Succession na primeira temporada.
Foi em 2014 que o filho mais novo do fundador convocou o conselho da empresa.
A ideia era votar uma moção de desconfiança sobre seu pai.
No caso do grupo que vai de hotéis a indústria química, o “golpe”, foi bem sucedido.
Shin Dong-bin foi bem sucedido onde Kendall falhou.
Nos anos seguintes, a briga se deu entre Dong-bin e seu irmão mais velho.
Curiosamente, como em Succession, um documento escrito pelo patriarca há 20 anos, nomeava Shin Dong-bin, o segundo filho, como herdeiro.
7) A família Packer e os Kennedy
Em um momento tenso da primeira temporada, Kendall sofre um acidente, vitimando seu companheiro no veículo.
Nos anos 70, Ted Kennedy, irmão do ex-presidente, sofreu um acidente similar.
O episódio, conhecido como Chappaquiddick, já foi citado por Jesse Armstrong como inspiração.
Outro bilionário da mídia, James Packer, também viveu história similar. Packer estava no volante quando seu carro acabou mergulhando em um lago.
8) O golpe na Campbell’s
George Strawbridge Jr, um descendente do fundador da fabricante de sopas tinha um plano. Com uma participação de 2,7% no negócio, a mesma de Kendall na Waystar, ele queria assumir o negócio.
Assim como Kendall, George também encontrou a sua solução em um investidor ativista. Dessa forma, George decidiu convidar Daniel Loeb para tentar assumir o controle da empresa.
A trama é um exemplo claro de como Kendall buscou agir quando trouxe Sandy para o conselho.
Não há indicações sobre a inspiração, mas a história casa perfeitamente.
9) A família Pierce, ou Bancroft, e o New York Times
Vistos na segunda temporada, os Pierce são o oposto dos Roy.
Sua empresa, a Pierce Global Media, é um negócio familiar que passa de geração em geração. E a despeito de os herdeiros de Logan apreciarem a ideia, há um mar de diferenças.
Os Sulzberger, que controlam o New York Times, são o mais próximo da Pierce. Eles controlam o NYT desde 1896, seguindo uma linha muito similar aos Pierce.
Mas há outras inspirações. Os Bancroft, que venderam o Wall Street Journal para os Murdoch em 2007, também são um bom exemplo.
Murdoch atuou tal qual Logan no negócio. Entre suas promessas estava a de total independência editorial.
De fato, o próprio New York Times sugeriu que os Pierce poderiam ser uma mescla das famílias.
10) Lukas Maathson, ou Elon Musk
Maathson é um nome crucial na última temporada.
Os paralelos com Musk de fato existem, seja pela sua compulsão por redes sociais ou origem da fortuna.
Como Musk, Maathson criou sua fortuna na área de tech. Ele está bastante longe dos périplos familiares citados até aqui.
É um bilionário excêntrico, conhecido por Twittar m*, o que gera alguns problemas.
Há, claro, outros nomes de tech do mundo real que se aproximam de Maathson. O benefício da dúvida aqui está na tentativa da série de se conectar a fatos mais cotidianos.
Como em The Crown, a ficção de Succession prende o público ao criar paralelos. É um ingrediente a mais que garante o seu successo, com o perdão da piada ruim.
Bônus: os Trump talvez, mas não os Kushner, jamais os Kushner
Os produtores já deixaram claro que a série não tem problema em se aventurar em histórias familiares reais.
Entre as muitas comparações, está a família Trump. Os 3 filhos de Donald carregam alguma semelhança com os herdeiros de Logan.
Entre os nomes já citados, porém, os Kushner estão definitivamente descartados.
Uma família bilionária do ramo imobiliário, os Kushner, como Jared, marido de Ivanka Trump, são considerados “muito malucos” pra série.
Conta-se por exemplo que certa vez o patriarca da família contratou uma garota de programa. No fim, o objetivo era fazê-la seduzir o marido da irmã. O patriarca dos Kushner então gravou o ato e enviou a fita para a irmã.
Segundo o produtor da série, uma história como essa seria vista como muito inverossímil.
$100 de bônus de boas vindas. Crie sua conta na melhor corretora de traders de criptomoedas. Acesse ByBit.com