O fato de um cargo público transmitir status no Brasil remonta desde a época da vinda da família real, em que as oportunidades de emprego eram escassas e em que era quase impossível prosperar financeiramente sem contatos com o governo.
Além da questão histórica, as remunerações da elite do funcionalismo brasileiro destoam do restante do mundo, influenciada por questões, como a transferência da capital da União do Rio de Janeiro para Brasília na década de 1960. Como convencer o funcionalismo a abandonar a vida cultural no auge da Bossa Nova e a praia de Ipanema? Com dinheiro, claro! Foram criadas centenas de penduricalhos para convencer funcionários a se mudarem, quase que a título de indenização. Como o AC/DC e qualquer um do mercado bem sabem, money talks!
Essa Era dos Concurseiros no Brasil foi impulsionada ainda por um recente período de boom de concursos públicos ao longo da primeira década e meia do século XXI. Diante do incentivo de prerrogativas como a estabilidade e salários maiores do que os pagos pela iniciativa privada, toda uma geração entrou em cursos de graduação pensando em prestar concursos. Carreira? O que importava era garantir um salário alto pelo resto da vida sem grandes estresses.
Todavia, seguir a carreira pública também possui riscos, que tendem a ficar cada vez maiores, tornando essa opção muito menos atraente. No mundo da economia 3.0, das finanças descentralizadas, blockchain e criptomoedas, há muitos pais que estimulam os filhos a estudar para concursos públicos não contam a eles, ou simplesmente não sabem.
1. Não te contam sobre a vida do concurseiro: Maior concorrência
O número de servidores públicos federais — a elite do funcionalismo — atingiu o auge em 2007, com 333 mil, com direito a estabilidade e planos de progressão automática.
Contudo, desde a implementação da regra do Teto de Gastos, a taxa de reposição dos funcionários que se aposentam é a menor da série histórica. Dessa forma, atualmente o montante soma somente 208 mil servidores públicos federais, um terço a menos.
Com uma taxa de reposição menor, há menos concursos abertos. Além disso, a concorrência aumentou, pois muitos jovens formaram-se pensando justamente em buscar vaga no setor público. Atualmente há cerca de 8 milhões de brasileiros que estudam para concurso. A cada ano, forma-se mais de 100 mil estudantes apenas em Direito, carreira preferida dos concurseiros.
Há menos vagas e maior concorrência, o que significa que pode-se levar mais tempo, em média, para conseguir ser aprovado em um certame, algo a ser considerado.
2. Não te contam sobre a vida do concurseiro: Novas regras de previdência
Foi-se o tempo em que um funcionário público aposentava com a integralidade do salário. Com as reformas da previdência, o máximo do benefício possível é de R$ 7.087,22, tal como na iniciativa privada.
Isso significa que caso o servidor não busque investir na criação de renda passiva complementar — como pelo mercado financeiro — ele pode ter uma queda abrupta da renda na terceira idade, justamente o período da vida em que mais se gasta dinheiro. É uma preocupação que há poucos anos simplesmente não existia.
3. Não te contam sobre a vida do concurseiro: O setor público também é arriscado
Com a crise fiscal que o Governo Federal vive desde 2014, além da crise dos estados, entre 2015 e 2017, 17 entes federativos parcelaram salários de milhões de servidores públicos. Além disso, diante da escalada inflacionária do período, a maioria das categorias ficou sem reajustes e reposições salariais.
Isso também ocorreu na esfera federal, em que, em virtude da não concessão de reajustes salariais desde 2017, fez com que a despesa total tenha caído. Dessa forma, também há riscos no setor público, diferente da narrativa comum.
4. Não te contam sobre a vida do concurseiro: A expectativa de que haverá menos oferta de concursos
A crise fiscal não apenas atrasou salários e os achatou a partir da não reposição, como também diminuiu a oferta de concursos públicos e a taxa de reposição dos servidores que se aposentam.
Isso significa que a oferta para os próximos anos tende a ser consideravelmente menor do que na década anterior.
5. Não te contam sobre a vida do concurseiro: Maior tempo para aprovação
Enquanto isso, segundo a Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos, o crescimento do número de concurseiros é de 40% ao ano. Menos vagas ofertadas em uma ponta e mais concorrência e demanda na outra significam, provavelmente, maior exigência de tempo de estudo até a aprovação.
6. Não te contam sobre a vida do concurseiro: A reforma administrativa é questão de tempo
Há mais de duas décadas discute-se uma reforma administrativa ampla no Brasil. Atualmente tramita na Câmara dos Deputados a PEC 32/2020, conhecida como a reforma administrativa, que promove uma reestruturação de carreiras e regras do Estado brasileiro.
A reforma administrativa pode até demorar mais do que deveria para ser aprovada e passar a valer, mas a realidade se impõe, e ela deve ser aprovada nas próximas legislaturas pelo simples fato de que não há como governar sem ela. Isso vale tanto para a PEC 32/2020 ou outras proposições que possam ser encaminhadas eventualmente por diferentes governos.
Provavelmente teremos simplificações administrativas, então os cargos iniciais podem ter menores salário-base e demorar muito mais tempo de carreira para se chegar até o teto, algo que hoje ocorre geralmente em poucos anos e sem muitos critérios de desempenho além do período temporal.
Além disso, a prerrogativa de estabilidade, um dos maiores atrativos da carreira pública no Brasil, deve ser regulamentada, com o período probatório demorando mais do que três anos, além de abrir a possibilidade para a demissão de servidores com desempenho ruim. Essas mudanças fariam o funcionalismo público brasileiro seguir regras mais parecidas com a do restante do mundo.
7. Não te contam sobre a vida do concurseiro: Custo de oportunidade
A cada 10 concurseiros, seis demoram até dois anos para serem aprovados. Um terço demora três ou quatro anos e 8,3% leva até cinco anos de estudos diários. O levantamento é da Folha Dirigida.
O que você poderia estar realizando e construindo nesse meio tempo? O custo de oportunidade de ser concurseiro, no entanto, precisa levar em conta mais do que somente o período de estudo necessário para ser aprovado no certame.
Afinal, três ou quatro anos é mais do que o suficiente para desenvolver hard skills em profissões muito demandadas no mercado de trabalho, como o de desenvolvedores, programadores e, sim, desenvolver o ecossistema de criptomoedas e a rede de blockchain que está sob acelerada expansão.
Em menos tempo do que isso é possível aprender técnicas que lhe proporcionarão ser altamente demandado no mercado de trabalho e com salários atrativos.
Considerações finais
Este texto não visa desestimular ninguém a seguir seus sonhos, tampouco menosprezar a atuação no setor público. O ponto aqui é simples: parece ser um fato que a atratividade pela carreira pública diminuirá consideravelmente, e a segurança profissional apregoada no segundo setor talvez não seja tão verdade quanto no passado.
Levando isso em conta, será que empreender ou atuar na iniciativa privada é tão arriscado assim? Talvez seja bem menos arriscado do que optar por decorar conteúdos para tentar passar em uma prova. Isso sem levar em consideração se você se sentirá feliz ou desafiado optando por essa carreira. Essas perguntas os pais não costumam fazer a seus filhos quando “os empurram” para entrar em uma graduação somente para procurar um cargo público.
É claro que você pode optar por estudar para concursos para seguir sua carreira como sonha, mas leve em consideração os 7 aspectos acima ao realizar seu planejamento de vida e carreira.
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