Recentemente, o desenvolvedor Pedro Magalhães viralizou em suas redes ao publicar um estudo sobre o Real Digital. Conforme conta na publicação, ao aplicar engenharia reversa nos códigos compartilhados pela autarquia, enxergou funções como congelar saldos.
Em entrevista concedida ao BlockTrends, ele explica de forma mais aprofundada sua visão sobre suas descobertas. Magalhães, é desenvolvedor blockchain, faz trabalho de análise de contratos inteligentes e desenvolve para protocolos de finanças descentralizadas (DeFi). Atualmente é dono e proprietário da empresa Iora Labs.
Além disso, ele explica que, atualmente, está se aprofundando nos estudos do Real Digital, e vai começar um grupo de entusiastas e especialistas do mercado, para debater de igual para igual com os participantes do piloto, os grandes institucionais. “Precisa ser feito agora, enquanto a tecnologia ainda está em desenvolvimento”, diz. “A oportunidade do ‘povão’ conversar sobre Real Digital é agora. Depois de implementado, já era. Perdemos.”
Como o desenvolvedor descobriu sobre o congelamento de saques no Real Digital?
Ele conta que, quando o Banco Central disponibilizou os códigos do contrato inteligente do Real Digital, ele estranhou.
“Me questionei por que que eles disponibilizaram, colocamos assim, uma versão compilada e não o código fonte. Então já pensei que tinha alguma coisa errada nesse negócio. Mas é uma oportunidade para eu explorar e, por natureza, eu gosto justamente dos detalhes”, diz.
O desenvolvedor diz que seu objetivo ao explorar os códigos do Real Digital era de apenas explorar os fatos. Na sua opinião, o desenvolvimento do Real Digital acontece dentro de uma “bolha”, onde apenas os grandes institucionais davam suas opiniões e pitacos.
Portanto, o movimento da autarquia de disponibilizar o acesso a esses documentos, abriu a discussão para mais gente, e foi nesse sentido que o desenvolvedor resolveu destrinchar os códigos. “Eu até procurei vídeos no YouTube sobre o Real Digital, e são muitos poucos”, comenta.
Magalhães diz que, ao furar essa bolha, o Banco Central mostrou os códigos para o público principalmente da Web3. O próprio desenvolvedor diz que, se não tivesse o Banco Central por trás, sua análise acerca do contrato que viu, seria a mesma de um projeto de esquema.
“Se eu tivesse olhando esse contrato inteligente, e fosse de uma memecoin, eu falaria que seria furada. Só que peraí, é o Banco Central que está fazendo. Acho que nem eles esperavam por essa repercussão toda. Porque eles responderam como se fosse natural. Já pode, por lei, congelar contas. Mas tem um trauma maior do que falar de congelamento de conta para um brasileiro. Principalmente dessa geração, que passou pelo Collor?”, questiona.
O Banco Central precisa transparecer as regras do jogo, afirma o desenvolvedor
O desenvolvedor explica que o contrato inteligente não esclarece quais são os parâmetros necessários para que uma conta possa ser congelada. Ele afirma que essa é uma informação fundamental e precisa ser esclarecida desde o início. “Se tivesse publicado o contrato inteligente não teria essa confusão toda”, brinca.
Um contrato inteligente se assemelha muito a um contrato comum do dia a dia. Em paralelo a isso, Magalhães exemplifica que, da mesma forma que é preciso definir obrigações empresariais em um contrato de trabalho, também é necessário definir parâmetros no contrato inteligente.
Quando você monta um contrato inteligente, ao contrário do texto, ele é algoritmo. Contudo, da mesma forma você coloca as condições, e quem tem atribuição de fazer. Dessa forma, o contrato inteligente é auto-executável, e automático.
“Quando eu falo que o Banco Central precisa criar um contrato inteligente, e especificar as regras do jogo, eu estou questionando quem tem a permissão de, eventualmente, congelar a conta. É o Banco Central? Esse poder não deveria passar eventualmente para o judiciário? Será que um banco tem o poder de congelar uma conta? Entendeu?”, diz.
Na sua opinião, faltou transparência e comunicação pela autarquia. É preciso que alguém traduza os códigos, no que eles realmente podem significar e impactar no cotidiano do “povão”.
Entende-se que existe uma lei para isso, mas é de suma importância que, quando a autarquia está trabalhando em um piloto desse tipo, aplique-o com transparência e o explique adequadamente ao varejo.
“Então eu acho assim, a galera tá jogando o jogo, a gente tá perguntando quais são as regras, dando nosso palpite porque de fato é uma instituição pública. Portanto, a gente deveria estar cobrando também. Eu sei que o Banco Central é independente, e que eu acho que é muito bom isso, mas eles também são uma instituição pública”, diz.
Governança do Real Digital
Conforme explica, o Banco Central é o controlador da rede, ao menos nesta fase de testes. “Ele tem a bola do jogo. É ele o dono da bola. Então ele selecionou uns times para jogar um contra o outro. Mas ele é o dono do campo. Ele é o dono da bola, e é quem cria as regras”, diz.
A autarquia, ao utilizar o ERC-20, padrão da Ethereum, trouxe para sua rede um mecanismo chamado Access Control. Trata-se de, na tradução literal, o controle de acesso. A função permite que o Banco Central delegue funções para outros endereços.
Portanto, o Access Control entrega ao Banco Central a habilidade de definir qual conta será contemplada com o “poder” de realizar ações como “bloquear saldos de terceiros” e “criar tokens na rede”, entre outras atividades.
A definição dessa estrutura é público e divulgado pelo próprio Banco Central. O desenvolvedor afirma que ainda não informaram, a nível técnico no código, quem será contemplado com o poder de congelar, transferir ou criar tokens na rede.
“O Banco Central ainda não definiu as regras do jogo, ele só pegou a bola, botou a galera pra jogar, pessoal tá brincando ali, jogando entre eles, só que aí a gente do povão, da turma de trás, viu e falou: posso jogar aí também?”, explica.
Privacidade na rede do Real Digital
Magalhães explica que a tecnologia do blockchain não foi criado para ser privado. Na realidade, os desenvolvedores o criaram com o propósito específico de ser totalmente transparente em todas as suas operações. Contudo, esse tipo de tecnologia, por lei, não é possível aplicar no Brasil. Não é viável juridicamente ter um banco de dados financeiros público, de todo mundo.
“Inclusive eu acho que, carteiras públicas, ou seja, de entidades e instituições públicas, deveriam sim ter sua carteira identificada. Isso sim, seria um ato de democracia para a gente identificar nossos impostos”, diz.
Mas voltado para o brasileiro em geral, existe uma proteção por lei de proteção de dados sensíveis, como os financeiros. Então, no teste piloto, estão criando camadas tecnológicas, como o ZK, para justamente esconder, e não mostrar movimentações de determinadas contas.
Nesse sentido, as empresas participantes do piloto estão apresentando suas soluções desenvolvidas, e anteriormente testadas em suas blockchains, ao Banco Central. O BlockTrends já conversou com duas das três empresas que apresentaram suas soluções de privacidade à autarquia: a Parfin, e a EY.
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