A disputa entre Musk e Alexandre de Moraes reativa uma narrativa caquética que habita o Brasil. A obsessão por commodities. Poucas coisas tornaram-se tão vivas no imaginário popular quanto a ideia de que estrangeiros querem roubar nossas riquezas. Dessa vez, a história envolve Elon Musk, Alexandre de Moraes e o lítio no Brasil.
Na esteira da transição energética, o lítio tornou-se um material de enorme relevância. Na prática, a commodity ganhou status de “ESG” e atraiu investidores. Dentre os investidores, encontra-se uma empresa brasileira, a Sigma Lithium.
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A Sigma produz em Minas Gerais um concentrado lítio utilizado em cátodos para baterias de carros elétricos.
A empresa nasceu de um investimento da boutique brasileira A10, em 2016. Com um investimento de R$2 bilhões desde então, a empresa tornou-se a 4ª maior produtora global do metal, atraindo os olhares de empresas como a Tesla.
A obsessão pelo Lítio
O lítio é responsável por 10% do custo de uma bateria, que por sua vez é responsável por 40% do custo de um carro elétrico. Portanto, o concentrado produzido pela Sigma, por sua vez, possui uma pureza capaz de gerar uma economia entre 20 a 30% no custo da bateria.
Por essa razão, a empresa chegou a ser avaliada em US$3 bilhões na bolsa de Toronto. A escolha pela bolsa canadense por sua vez já demonstra a ambição da empresa. O Canadá é um país tradicional no ramo de mineração, com investidores pagando múltiplos maiores por lá.
A tese de escassez do lítio
Com uma demanda crescente por carros elétricos, a necessidade do metal tende a crescer com o tempo. Por este motivo, em fevereiro de 2023 a Bloomberg especulava que a Tesla estaria interessada na compra da operação brasileira. Neste momento, a especulação ocorre em relação à chinesa BYD, de carros elétricos.
Só há um problema nessa história. Como uma commodity, o lítio tende a flutuar de preços. Na realidade, quanto maior o preço (que já chegou a ser de US$7800 por tonelada), maior o incentivo para produzir o metal.
E foi exatamente isso que ocorreu. A produção do metal cresceu substancialmente nos últimos anos. Países como a Austrália lideram a expansão. Por essa razão, a Sigma Lithium é hoje negociada em US$1,68 bilhão. Quase metade do que valia há 1 ano.
Dias antes de Musk responder Alexandre de Moraes, o presidente da Sigma alegou que a empresa não estava “procurando compradores”. Desse modo, na prática, vender a empresa agora seria um péssimo negócio para a Sigma Lithium.
O lítio da Tesla
Em 2022, o Brasil alterou sua legislação, permitindo a exportação de lítio.
Desse modo, o chamado PL do lítio retirava restrições às exportações da commodities, existentes em função de legislações ainda da ditadura. O Brasil busca neste momento se inserir na cadeia global do lítio. Estima-se que o fim das restrições possa atrair até R$15 bilhões em investimentos até 2030.
Mas e quanto a Tesla? Como o próprio Musk já havia respondido, quando alguém o acusou de “dar um golpe” na Bolívia para obter o lítio, a fabricante americana compra seu Lítio da Austrália.
A Austrália é o maior produto global do metal, além de ser sede da Pilbara Minerals, maior produtora global do mercado. Além da australiana, a canadense Allkem, também se destaca na produção.
Portanto, supor que Elon Musk precisa causar uma crise política para adquirir lítio, um metal que está a venda em qualquer bolsa de valores do planeta, é mais uma das infantilidades ideológicas brasileiras.
Convém lembrar que tal ideia remonta ao período da colonização, quando os portugueses levaram daqui cerca de 150 toneladas de ouro.
Para quem não conhece o metal, também convém lembrar que o Ouro levado pelos portugueses em 300 anos é o mesmo que o mundo produz hoje a cada 17 dias. Em suma, tudo é uma questão de tecnologia e preço. Como lembrar os Bitcoiners, a produção de ouro (ou de lítio), aumenta conforme o preço do metal.
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