Foi em 16 de Agosto de 1999 que a Microsoft e a Globo selaram um acordo para venda de 12% da Globo Cabo a gigante norte-americana, presidida então pelo homem mais rico do mundo, Bill Gates.
A empresa de Gates buscava tornar-se presente na expansão dos serviços de Internet ao redor do mundo, em meio ao que viria a ser conhecido depois como a “Bolha da Internet”.
Para a Globo, o investimento era parte de um plano maior, de tornar-se provedora de Internet no Brasil
O plano da empresa teve seus altos e baixos, com indefinições sobre o direcionamento.
Em princípio, a Globo aliou-se ao Bradesco, Telecom Itália e ao grupo Vicunha (dono da CSN), para adquirir participações em empresas de telefonia.
O investimento, que se iniciou em 1993, foi uma tentativa de reposicionar a empresa, que até então dominava 76% da verba publicitária em TV no país, dentro da nova realidade da Internet e aumento da oferta de serviços de telecomunicações.
O Grupo Globo foi, portanto, bastante ativo durante o processo de privatização da Telebrás, levando as operações no PR, SC e MG.
As definições da empresa, porém, acabaram sendo alteradas pela própria definição da Anatel, a Agência Nacional de Telecomunicações, sobre o funcionamento do mercado de cabo e Internet.
A despeito de ter construído uma base relevante de assinantes, em torno de 4,5 milhões de casas, em pouco tempo, os investimentos no setor pesaram no orçamento da Globo.
Com as dívidas, e sendo podada pela Anatel, a Globo focou ali em se desfazer dos ativos em telefonia, vendendo sua participação para Telecom Itália (TIM), e avançando naquilo que possuía mais expertise: conteúdo.
Os canais de TV por assinatura, que entraram no pacote de venda para a Microsoft, tornaram-se o principal negócio do grupo. Em 2000, o lançamento da Globo.com fez explodir as ações da empresa na Nasdaq.
A Globo Cabo, detentora do Globo.com, viu suas ações explodirem em meio ao ápice da Bolha da Internet.
O resultado, porém, frustrou os planos da empresa em outras áreas de telecomunicações, restringindo a empresa a parte de conteúdo, com foco em receitas publicitárias.
Foi nesta época que, além de Microsoft, o BNDES tornou-se sócio da empresa.
O banco de desenvolvimento buscava equilibrar a bagunça gerada por anos de investimentos pesados na área de provedores, e que ainda pesava na dívida da empresa.
Ao final, a empresa acabou optando por sair de vez do negócio, mantendo apenas a parte de conteúdo.
Transições como essas não costumam ser fáceis, e ao que parece, a hoje saneada Globo, enfrenta uma nova busca por se tornar menos dependente de seu principal negócio, a TV Globo.
O grupo sob comando da família Marinho, comanda uma série de investimentos para tornar a empresa mais adaptada a uma era de streaming.
A GloboPlay, serviço de streaming da empresa, tem recebido investimentos da ordem de R$1 bilhão anuais, e ao que tudo indica, ainda é deficitária.
No país, a GloboPlay possui uma participação de 7% no mercado, ainda longe das gigantes americanas Netflix (32%), e Amazon Prime (22%).
A guinada da Globo para o streaming, porém, tem coincidido com outras duas áreas sensíveis da empresa no que tange ao financeiro: a alta do dólar e a queda nos juros.
Desde que foi saneada no início do século, a empresa mantém uma posição sólida em caixa, da ordem de R$12,8 bilhões. Sua dívida está denominada em dólares, com juros da ordem de 5,5%. Seu resultado financeiro, o que ela ganha com o diferencial dos juros entre o que possui em caixa e o que deve, impactou seu balanço nos últimos anos.
A dívida da empresa cresceu com a desvalorização do Real, levando a prejuízos contábeis.
Entre 2020 e 2021, por exemplo, a receita financeira da empresa caiu pela metade, saindo de R$1,5 bilhão para R$747 milhões.
Ainda que sua receita tenha também crescido de forma geral, os prejuízos financeiros somados aos aportes na área de streaming, levaram o lucro da empresa a cair significativamente.
A despeito de relevantes, as verbas de publicidade federal, de órgãos públicos como o Ministério da Saúde, tem pouco a ver com a mudança na empresa.
Se entre 2003 e 2019 a empresa da família Marinho recebeu R$450 milhões anuais, em média, por parte do governo federal, entre 2019-2021 os dados apontam para uma queda somada de cerca de R$600 milhões. Na prática, o corte de verbas federais reduziu em 3% a receita da empresa.
A diferença de receita é similar aquela que a emissora deve levar em isenções fiscais para transmitir o horário eleitoral gratuito.
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