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Economia

Como uma resolução de 2012 acabou com a TV Globinho

A polêmica em torno do fim da TV Globinho omite uma resolução do governo de 2012 que levou ao fim da publicidade infantil na TV.

Cunhado pela jornalista Fiona Broome, o “Efeito Mandela” consiste em uma falsa memória compartilhada entre diversos indivíduos.

O termo surgiu após Fiona mencionar que, assim como ela, inúmeras outras pessoas compartilhavam da memória de que Nelson Mandela, o líder sul-africano que pôs fim ao Apartheid, havia morrido nos anos 80.

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Na própria Internet, há casos dos mais variados envolvendo efeito similar. No Brasil, o mais conhecido é aquele que menciona a TV Globinho, o programa infantil das manhãs da rede Globo. 

Segundo a lenda, a TV Globinho estaria passando um episódio clássico de Dragon Ball Z quando a programação foi interrompida em função dos atentados de 11 de setembro.

A memória falsa compartilhada por milhares de pessoas já foi desmentida, mas mostra a importância que o programa possuía na grade da emissora, remetendo a um momento nostálgico para a geração criada nos anos 90 e início dos anos 2000.

Em entrevista ontem ao Roda Viva, a apresentadora Fátima Bernardes contou como foi a sua proposta para extinguir a TV Globinho.

Fátima menciona que a programação infantil estava “perdida” entre o noticiário do Bom Dia Brasil e o programa de variedades de Ana Maria Braga, o “Mais Você”.

A apresentadora mencionou ainda o fato de que tal distribuição na grade apresentava uma ineficiência para gerar publicidade no horário.

Um ponto ignorado por ela, entretanto, pode ser considerado ainda mais relevante.

Em 2012 o Conanda, o Conselho de Direitos Humanos da Criança e dos Adolescentes, emitiu uma nota na qual tornava “proibida”, a publicidade infantil na TV Aberta.

Adepto da auto-regulação, o sistema de comunicação seguiu o padrão. 

Mesmo a Bandeirantes, que em 2012 havia investido pesado na programação infantil, suspendeu seu investimento, assumindo o prejuízo.

A única rede de TV que manteve a programação infantil foi o SBT. Para as demais, como a Record e principalmente a Globo, a resolução do Conanda foi seguida à risca.

Ainda que viesse a se tornar uma regulação de fato apenas em 2014, a resolução do Conanda foi seguida desde o princípio.

As redes de Televisão deixaram de exibir programas infantis graças ao impeditivo de monetizar este horário comercial.

A sugestão de se criar um programa de variedades, portanto, foi apenas uma solução para um outro problema. 

Desde a resolução do Conanda a publicidade infantil migrou quase que integralmente para a Internet.

Como o Conanda regula apenas os meios de comunicação que são concessões públicas (TVs e Rádios), a Internet se tornou uma “terra sem lei’. Em suma, youtubers não sofrem qualquer impeditivo para divulgar produtos voltados para o público infanto-juvenil.

A ideia da resolução do Conanda consiste em considerar propagandas destinadas ao público infantil como abusivas, uma vez que crianças não possuem o discernimento para tomar decisões em função de publicidade.

Em 2014, um estudo realizado pela Maurício de Sousa Produções, do criador da Turma da Mônica, avaliou em R$33 bilhões o impacto da decisão sobre o mercado de conteúdo infantil, além de 700 mil empregos que deixariam de ser gerados com a resolução.

A decisão brasileira, porém, não foi a única. Em 2021 o Google e o DOJ, Departamento de Justiça Americano, firmaram um acordo para reduzir o compartilhamento de dados em canais infantis. 

A prática reduziu a receita de alguns canais, que havia crescido por aqui após a decisão do Conanda.

Não há dados sobre publicidade infantil na Internet, mas um fato ajuda a entender o tamanho do mercado. O Youtuber que mais faturou no mundo em 2020 foi Ryan Kaji, um garoto de 9 anos de idade que fez $30 milhões ao divulgar produtos para o público infantil.

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