Não é exatamente de hoje que Elon Musk tem levantado o problema da “subpopulação” humana, e ao que tudo indica, suas ações para contornar essa questão devem ir muito além dos 7 filhos (quase 4 vezes a média americana), levando a Tesla a focar em robôs que possam fazer o trabalho humano.
Com poucas falas a respeito, o humanóide da Tesla foi apresentado em outubro passado. De acordo com a empresa, o robô seria inicialmente testado em fábricas da própria Tesla e teria 1,72m, além de pesar 55Kg.
Em uma conferência sobre resultados recentes e planos para 2022, porém, Musk voltou a abordar o assunto.
Segundo o próprio CEO da Tesla, a linha de receitas oriundas da produção de robôs humanóides pode superar a de veículos ao longo do tempo.
De fato, não é de hoje que Musk busca mostrar que a Tesla é muito mais do que uma fabricante de veículos, ainda que estes componham a imensa maioria de receitas. A estratégia é relativamente simples, e bem sucedida, afinal, a Tesla vale mais do que todas as montadoras de veículos do mundo somadas.
Na lógica de Musk, e da própria Tesla, o foco da empresa está em atender demandas que decorram das mudanças de padrão de consumo e produção nas próximas décadas. Isso ocorre com veículos menos poluentes, baterias que permitam expansão de fontes renováveis intermitentes, além de uma mudança demográfica em curso (além de outros negócios de Musk ainda mais utópicos, ou distópicos, como a exploração espacial e conectividade entre humanos e máquinas).
De fato, a mudança demográfica foi acelerada ainda mais em meio a pandemia, quando a taxa de natalidade nos Estados Unidos e em diversos países europeus atingiu sua mínima histórica, caindo 4% na comparação com o ano anterior.
A expectativa é de que o mundo nas próximas décadas vá se tornar mais idoso, com países como China, Estados Unidos e Brasil enfrentando graves problemas em decorrência do aumento de pessoas fora da idade de trabalho em relação aos trabalhadores.
No caso da China, a situação é hoje um dos maiores desafios para o país. Sem um sistema de previdência e estado de bem-estar social, os idosos chineses dependem quase que exclusivamente da renda vinda dos filhos, tendo em vista que o aumento de renda por lá é uma questão recente, não permitindo portanto que os atuais idosos tenham gerado poupança.
A situação se agrava na medida em que o país adotou por décadas uma política de filho único, o que contraria uma lógica milenar da humanidade de se ter mais filhos para permitir maior conforto na velhice (substituída pelo welfare state no ocidente).
Hoje os chineses detêm $52 trilhões em imóveis, cerca de 15 vezes toda riqueza detida por brasileiros, fruto de uma taxa de poupança que já chegou a ser metade do PIB por lá.
Na prática, com menos pessoas nascendo, menor será a demanda por imóveis e consequentemente menor a renda dos chineses oriundas de suas poupanças em imóveis, criando um ciclo negativo e que poderá afetar duramente os mais velhos.
Na Europa, por sua vez, o problema está na ausência de trabalhadores para sustentar o estado de bem-estar social construído nas últimas décadas.
Apenas a Alemanha deve ter uma falta de 7 milhões de trabalhadores até 2050 segundo relatório do Center for Global Development.
E é justamente pensando neste segundo problema que Musk vê a contribuição da Tesla para robôs trabalhadores.
Robôs, porém, não são exatamente uma novidade. Existem hoje ao menos 126 trabalhadores robôs para 10.000 empregados na indústria de manufaturas, número que vem crescendo ano a ano a uma taxa de 8,6%, mais do que o dobro do crescimento da economia em si.
O que Musk pode colaborar, dada sua experiência em casos como o da SpaceX, onde conseguiu reduzir em 90% o custo de envio de cargas para o espaço, é com um choque de preços que tornaria os robôs comuns, para além do uso em fábricas.
Este seria sem sombra de dúvidas um advento transformacional para a humanidade, ao menos até o primeiro David decidir que encontrar a fada azul é mais relevante do que solucionar problemas humanos.
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