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Economia

Como a Rússia está lucrando com o aquecimento global

Com o aquecimento global tornando o oceano ártico navegável, a Rússia passa a ganhar uma nova fronteira, que pode ser crucial para o comércio mundial.

Foi por volta de 1970 que Paul Samuelson, prêmio nobel de economia e autor de um dos mais influentes manuais de introdução utilizado em faculdades ao redor do mundo, previu que a URSS ultrapassaria o PIB americano em 1990.

Nas edições seguintes, Samuelson manteria suas previsões, atualizando a data sempre alguns anos à frente.

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A teoria era baseada em um fato histórico, o de que a União Soviética havia promovido a mais rápida industrialização da história. A crença de Samuelson, como de inúmeros outros economistas de tendências mais à esquerda, era de que a centralização permitiria ao estado tomar decisões que o mercado demoraria a tornar possíveis.

É um lema comum, exaltado no Brasil quando se fala do milagre econômico durante a ditadura militar, que construiu 19 das 21 maiores hidrelétricas brasileiras, além de outras inúmeras obras de infraestrutura.

Fato é que, em 1991, um ano após a tal data prevista por Samuelson, a União Soviética ruiu, em partes por eventos como Chernobyl, uma cadeia de eventos que custaria fortunas aos cofres soviéticos, além de outros tantos que custaram caro a uma economia que, apesar de ágil em desalojar pessoas e construir fábricas, era falha ao inovar.

O “catch up”, estudado hoje por economistas institucionalistas, mostra que regimes centralizados são bons em alcançar aquilo que já está disponível em termos de produção econômica, mas péssimos em incentivar avanços (algo que vemos hoje na luta da China contra empresas de tecnologia do país).

Décadas depois do colapso soviético, porém, a Rússia busca ainda se reencontrar, e ao que tudo indica, seu papel está bem claro na nova organização mundial.

Apesar de os números mostrarem uma economia com um PIB de $1,48 trilhão, a Rússia é de fato uma economia tão grande quanto a Alemanha, com um PIB, quando ajustado por poder de compra, de $4,3 trilhões, ou $4,7 trilhões no caso alemão.

E este PIB está crescendo, em boa parte, por decisões de países como a Alemanha.

A Rússia detém hoje 37,4% das reservas de gás natural do planeta, além de ser o segundo maior produtor de petróleo no mundo.

Pode parecer estranho em um planeta onde ESG virou palavra de ordem e mudanças climáticas dominam as políticas públicas, mas ao contrário do que parece, essas políticas têm fortalecido os hidrocarbonetos.

Em primeiro lugar por um motivo relativamente simples: a Alemanha, maior economia europeia, e outros países do bloco, tem apostado suas fichas na construção de usinas eólicas e solares, fontes intermitentes de suprimento de energia.

Para compensar, e poder desativar usinas a carvão, os países europeus têm utilizado o gás natural, menos poluente que a alternativa atual.

Com um forte sentimento anti-nuclear, ironicamente agitado em função do acidente causado pela própria União Soviética em Chernobyl, a Europa, com exceção da França, se tornou fortemente dependente do gás oriundo do país comandado por Vladimir Putin.

Para suprir este gás, a Rússia conta com um gasoduto que passa pela Ucrânia, além de um projeto que ligaria o país a Alemanha pelo norte, o Nord Stream 2, um projeto de $10 bilhões para suprir o continente europeu com até 55 bilhões de m³ por ano.

Para se ter uma ideia, as reservas de gás natural brasileiras somam 415 bilhões de m³. Na prática, apenas este gasoduto injetaria $12 bilhões por ano nos cofres russos.

E este é apenas um detalhe nos planos do governo da Rússia, já que o derretimento do gelo no ártico, causado pelo aquecimento global, tem tornado navegável um oceano antes impenetrável.

E para garantir sua usabilidade, o governo russo espera investir até $300 bilhões, criando uma nova marítima global.

O projeto faz sentido tendo em vista que a nova rota faria produtos chineses chegarem à Europa em metade do tempo atual, ou de 14 para 7 dias, em relação a Suez.

O projeto interessa aos chineses, e ameaça os Estados Unidos, país que tem apenas uma fronteira no ártico: o Alaska, também ironicamente um território comprado da Rússia no século 19.

Objetivamente, a Rússia se tornaria dona da mais relevante rota de comércio do mundo, com portos, ferrovias e controle militar da área, graças a uma ação consequente do aquecimento global.

Os EUA ensaiaram uma reação quando, de forma um pouco desastrada, Trump propôs comprar a Groenlândia, o que aumentaria a fronteira americana na região. A mídia bombardeou o acordo, assim como a oposição (em partes pois Trump não parecia saber sequer a que país pertencia o território).

As reservas de petróleo no ártico também são um atrativo para os russos, mas este seria um investimento custoso, tendo em vista a curva de uso do petróleo que prevê termos atingido o pico já em 2019.

Em todo caso, o principal produto de exportação russo, o petróleo, que lhe rende $110,8 bilhões anuais, tem sido também o maior formador da saída geopolítica de um país historicamente isolado em termos marítimos.

Quanto mais petróleo a Rússia vende, mais rápido fica o derretimento do ártico, maior é o aquecimento global e mais lucrativo será para o país.

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