O Threads, nova rede social concorrente do Twitter, foi lançada antecipadamente nesta quarta-feira (5) a noite. Entretanto, muitos produtores de conteúdo já elaboram meios de crescer na plataforma. Inaiara Florêncio, diretora de estratégia de conteúdo e influência do MB (Mercado Bitcoin), comenta sobre o assunto em entrevista ao BlockTrends.
Para ela, a compatibilidade com o Activy Pub, protocolo do Fediverso, incita diversas possibilidades como a interoperabilidade entre plataformas. Florêncio é Jornalista com pós-graduação em redes sociais e especialização em marketing político pela PUC-SP. Confira a entrevista completa:
BT: Como as marcas podem pegar carona na nova plataforma, para engajar seus produtos?
Inaiara Florêncio: Não temos nem 24 horas do lançamento da plataforma no Brasil, e a nova rede social ultrapassou 10 milhões de usuários. Os números estão sendo atualizados a cada segundo.
Já dá para perceber no feed a aderência de marcas, celebridades e creators. A Unilever, por exemplo, já realizou ação com influenciadores (Thelminha, Babu, Nah Cardoso e Ivan Baron) para a marca Cif.
Diferentemente de outras plataformas, como o Koo e Blue Sky, que vimos surgir nessa tentativa de brigar de frente com o Twitter, a Threads já nasce com rápida aderência de perfis que podem ajudar a movimentar as conversas com suas bases migradas do próprio Instagram.
Isso torna a ameaça mais potente até o momento. Aproveitar as conversas que estão acontecendo, entendendo como criar conexão e aderência às personas das marcas, é uma das principais maneiras de aproveitar o momento.
BT: O Meta tende a priorizar o que na nova rede social, e até quando?
Inaiara Florêncio: Uma das particularidades divulgadas, foi sobre fazer a plataforma ser compatível com o Activity Pub, um protocolo aberto de rede social.
Ou seja, a ideia é permitir que o Threads seja capaz de operar com outros aplicativos integrados, como Mastodon, possibilitando que os usuários consigam portar seu conteúdo de mídia social e interagir com os usuários.
Lembrando que, um dos formatos que performam muito bem no Instagram é o próprio compartilhamento de tweets. Essa nova solução já tem a possibilidade de mudar o comportamento, devido a facilidade de compartilhamento via Threads.
BT: O que achou sobre as questões de privacidade de dados, levantadas pelos usuários?
Inaiara Florêncio: No seu blog oficial a Meta cita em uma postagem “Acreditamos que essa abordagem descentralizada, semelhante aos protocolos que regem o e-mail e a própria web, desempenhará um papel importante no futuro das plataformas”.
Por outro lado, a Meta não lançou na Europa devido à incerteza regulatória que vem do acordo com a nova Lei de Mercados Digitais, de acordo com a Bloomberg. O que significa uma limitação do que empresas designadas como “gatekeepers” podem fazer.
Em outras palavras, é como o processo de controle de informações flui por meio de um gate (portão) ou filtro. Quanto mais informações os algoritmos têm do usuário, mais é feito uma personalização do conteúdo, definindo o que e por quem será visto determinado conteúdo.
Essa personalização pode limitar pessoas dentro de bolhas individuais de conteúdo. Apesar da descentralização ser um conceito muito falado no mundo da tecnologia, a maioria dos usuários não têm familiaridade com ela. Podemos constatar isso com o grande número de usuários conquistados em um espaço curto de tempo. Apesar da quantidade de dados solicitados para abertura de uma conta.
Há perfis questionando a privacidade dos seus dados, mas nada que tenha impedido o sucesso em seu lançamento. Porém, isso também indica uma mudança de preferência de usuários que caminha a passos lentos.
Plataformas construídas em protocolos de código aberto, como Minds e Mastodon, já acumulam um quarto de média mensal de visitantes únicos em plataformas de mídia social descentralizada. Mas elas ainda enfrentam um grande desafio que é competir com a base de usuários de plataformas tradicionais, como Twitter, Instagram e Youtube.
BT: Qual melhor estratégia para crescer lá, tendo em vista que é uma rede social recém lançada?
Inaiara Florêncio: Foi dada a largada dessa corrida, mas ainda há uma jornada de conscientização dos usuários. Não tem como apostar a médio prazo se quem ganha são os gigantes centralizados, ou os descentralizados, que visam equilibrar a criação de espaços sociais que respeitem a privacidade dos usuários.
Uma das vantagens é você poder já conectar com a sua base de seguidores do Instagram. Ainda é cedo para falar como criar uma estratégia para crescer rapidamente, mas entender o comportamento, testar conteúdos diferentes e se relacionar com os seguidores é um caminho.
Como ainda não há algo parecido com o Trending Topics, que passa um termômetro claro dos assuntos mais quentes, será necessário mais tempo de consumo da plataforma para mapear oportunidades.
O ponto é: os números não param de crescer, o comportamento pode ser diferente do Twitter. Já que muitos usuários estão lá para falarem de igual para igual e num local no qual familiares e pessoas do emprego não têm muito acesso.
Entender essas nuances comportamentais pode ajudar na construção de uma estratégia, que será “always beta” nesse momento, mas que pode gerar resultados positivos.
BT: Até que ponto o fato da integração direta com Instagram favorece os perfis já consolidados no Instagram? Como disputar com eles?
Inaiara Florêncio: Os perfis verificados já entram na lógica “compre um, leve dois”. Ou seja, quem já tem perfil verificado no Instagram chega ao Threads com o mesmo selo. Se a lógica de entrega de algoritmo se mantiver, esses perfis tendem a crescer mais rapidamente.
O que faz sentido, já que nesse momento um dos principais desafios da Meta será manter o engajamento e uso constante da plataforma.
Assim como em qualquer outra plataforma, mais do que disputar é importante encontrar rapidamente seu nicho, ou comunidade. Dessa forma, se conectar com eles por meio da produção de conteúdo com qualidade. E até mesmo se posicionar como iniciadores de cultura com postagens curtas e atraentes.
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