Há alguns meses, tem havido especulações no mercado sobre um possível problema de demanda da Tesla. O corte de preços e os rumores de redução da produção têm gerado o receio de que a demanda da empresa possa estar diminuindo, especialmente na China.
Todas essas questões ocorrendo em um momento desafiador do ponto de vista macroeconômico levaram as ações da Tesla a fechar o ano de 2022 em queda de 65%, o pior ano da sua história, e a ter um início de 2023 que também não aponta para uma reversão da tendência.
Na semana passada, a empresa divulgou números que confirmaram as preocupações do mercado. O mercado esperava que a Tesla entregasse 431 mil veículos no 4Q de 2022, mas na verdade a empresa entregou 405 mil, uma diferença nada desprezível.
Os mais otimistas elogiaram o número por ele ser um recorde de produção da empresa, mas o fato é que ele não ficou abaixo apenas da expectativa do mercado, ele ficou abaixo do que a própria empresa havia prometido.
Na call de outubro, tanto o CFO da empresa quanto o próprio Elon Musk disseram que o crescimento deveria ficar pouco abaixo dos 50%. Na realidade, o crescimento realizado não ficou muito acima dos 40%.
No entanto, logo depois de dizer isso, ele se contradisse, afirmando que o crescimento anual projetado seria de 30% e não de 50%.
“Actually, I want to caveat, I should say, growing production by 30% every year because deliveries — we’re trying to smooth out the deliveries and not have this crazy delivery way at the end of every quarter.”
Por mais que logo depois, ele tenha voltado a falar em 50%, é inevitável a impressão de que eles estão trabalhando dentro dessa faixa, mas sem muita certeza sobre projeções confiáveis para o curto prazo.
No 4Q21, o crescimento anual da Tesla foi de 88%. De lá para cá, a taxa de crescimento foi caindo a cada período até chegar nos atuais 40%. O aumento da sua escala de produção fez com que o crescimento relativo se tornasse mais desafiador, mas essa escala ainda não é nada quando comparada aos grande fabricantes como Toyota e GM.
Ainda está cedo para afirmar que a Tesla tem efetivamente um problema de demanda. Considerando como os problemas macro têm impactado praticamente todas as empresas, não é de se estranhar alguma nível de fraqueza nas vendas.
Elon Musk é conhecido por fazer afirmações grandiosas. Por exemplo, ele costumava falar que a Tesla teria 1 milhão de veículos autônomos para viagens viagens compartilhadas até 2020. No entanto, a Tesla ainda está longe de alcançar essa meta. Na verdade, a autonomia total parece cada vez mais distante.
Além disso, a Tesla tem o hábito de não cumprir suas projeções de produção e vendas. Por exemplo, a empresa prometia produzir 500.000 veículos em 2018, mas o número real foi metade disso. Atualmente, a Tesla está ficando abaixo das suas promessas de entrega trimestral de veículos em cerca de 20%.
Essas afirmações exageradas podem não ser um problema quando há realizações notáveis que as compensam. Musk provavelmente argumentaria que seus cronogramas e previsões agressivas eram necessários para superar o pessimismo enfrentado pela Tesla.
No entanto, agora que os carros autônomos já viraram uma possibilidade remota para um futuro distante e que a concorrência está cada vez mais próxima, a empresa não tem outra opção senão entregar os resultados prometidos para que possa ter a confiança de fornecedores e investidores
Uma das preocupações de longo prazo com a Tesla, e com vários outros fabricantes de veículos elétricos, é o distanciamento entre a empresa e os modelos de baixo custo. A Tesla começou com veículos mais caros, mas com a promessa de um Tesla de $30.000.
A promessa de um carro nessa faixa de preço já não existe mais, mas um Cybertruck de $60.000 ou mais está cada vez mais próximo de se tornar realidade. Muito longe de uma tendência, os recentes descontos concedidos pela Tesla dão a impressão de serem apenas uma iniciativa pontual para ajustar a demanda aos estoques.
De fato, existem limites para o número de consumidores que podem pagar por esses veículos. Sem nenhum tipo de reversão nessa tendência, a Tesla ficará inevitavelmente restrita ao reduzido nicho de carros de luxo.
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