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Economia

O mercado de ações está cada vez mais burro. E essa moda veio pra ficar

Ações que sobem após tweets de Elon Musk, empresas que se valorizam porque o ticker remete a ações que estão performando em alta e, claro, Hedge Funds tomando margin call por não conseguirem prever sua alta exposição à short squeezes descentralizados. A corrosão do valor tem tornado o mercado acionário cada vez mais burro. Thomas […]

Ações que sobem após tweets de Elon Musk, empresas que se valorizam porque o ticker remete a ações que estão performando em alta e, claro, Hedge Funds tomando margin call por não conseguirem prever sua alta exposição à short squeezes descentralizados. A corrosão do valor tem tornado o mercado acionário cada vez mais burro.

Thomas Cochrane, o 10º Conde de Dundonald e Marquês do Maranhão, foi um respeitado oficial naval e político britânico que viveu na virada do século XVIII para o século XIX. Cochrane gozava da patente de Almirante na Inglaterra graças aos seus feitos para a Coroa durante as Guerras Napoleônicas.

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Aproveitando seu bom momento na sociedade inglesa, o Almirante decidiu se tornar político e acabou sendo eleito para o parlamento britânico. No entanto, na sede de fazer suntuosas riquezas, decidiu manipular a Bolsa de Valores de Londres. Em 1814, Cochrane aproveitou o respeito que tinha entre os ingleses e espalhou o boato de que Napoleão Bonaparte havia morrido e, por isso, a Inglaterra havia ganho a guerra.

Tendo se posicionado com antecedência no mercado financeiro, Lord Cochrane viu sua fortuna se multiplicar enquanto Londres inflamava em uma falsa euforia com o fim da guerra e a morte de Napoleão.

Claro, não demoraria muito até se descobrir a mentira. Thomas Cochrane seria processado e fugiria para a América do Sul. Tendo aportado no Chile e realizado serviço de corsário para a libertação do país latino-americano, o Lord inglês apenas encontraria paz em outra república bananeira banhada por outro oceano, o Brasil.

Aqui no Brasil, Thomas chegou com status de nobreza e em pouco tempo virou grande amigo do imperador. Se você conhece seu nome, não é por coincidência. Dom Pedro I necessitou da ajuda do ex-almirante inglês nas “guerras de independência” no Brasil. Após o auxílio, Cochrane foi nomeado Primeiro-almirante e se tornou patrono da Marinha brasileira.

Sim, a história do Lobo do Mar é apenas uma história, mas fortalece nossas predileções por desajustados que vencem o mercado de alguma forma. A última grande história dessa estirpe? Usuários do Reddit foram capazes de provocar perdas de $6 bilhões para gestores de Wall Street. No meio do caminho, tiraram poeira das ações da GameStop, que valiam meros $3, e elevaram para $342 por papel.

O caso da GameStop, porém, não é uma exceção. Há cada vez mais sinais de que as bolsas estejam se tornando mais irracionais, fazendo que o valor das empresas seja um mero detalhe diante do “jogo”.

A euforia e a expectativa de acertar o próximo campeão no Bull Market “eterno”, além das facilidades de se investir popularizadas por apps como Robinhood, tem criado casos esdrúxulos com certa frequência.

Em janeiro de 2020, por exemplo, em meio a uma expectativa de que o home office se tornasse um padrão em meio a pandemia, investidores compraram uma empresa com o Ticker “Zoom”, pensando ser a empresa de videoconferências. O problema? Se tratava de uma fabricante de componentes eletrônicos chineses.

Há poucos dias, bastou um Tweet de Elon Musk para que a Signal Advance ganhasse 418% em um dia. Novamente um pequeno detalhe ficou de fora. Musk se referia ao app “Signal”, que tem por objetivo a não utilização de informações de usuários.

Nada disso, porém, é coincidência, e existem razões “lógicas”, para a irracionalidade, ou para a perda do racional propriamente.

O Grande Plano Collor Mundial

Como bem versado pelo lendário gestor da Verde, Luis Stuhlberger: vivemos atualmente no Grande Plano Collor Mundial. O que o investidor quer dizer com isso é bem simples. Vivemos em um planeta onde o valor se tornou uma abstração subjetiva após mais de uma década de políticas monetárias que, sistematicamente, criaram uma bolha. Não na Tesla, GameStop ou Bitcoin, mas sim no próprio dinheiro.

O Federal Reserve, que após Bretton Woods se tornou o grande estabilizador da economia mundial, elevou os ativos em seus balanços de 8% do PIB americano, em 2007, para 42% do PIB em 2020. A expansão contábil se torna, eventualmente, em uma expansão da moeda circulante. E, como sabemos pelo menos desde a Roma antiga, uma expansão monetária causa inflação no curto prazo.

Se a questão é tão simples, por que o FED expande a moeda? A ideia é reverter os impactos do Covid-19 na economia. Expansões monetárias geram mais demanda no curto prazo e evitam o agravamento da atual crise econômica. No entanto, a conta fica aguardando ansiosamente o dia do seu pagamento.

Se já não havia problemas suficientes com a expansão do FED, demais Bancos Centrais descobriram a brilhante fórmula mágica do Quantitative Easing e, assim como o Banco Central norte-americano, decidiram inundar seus balanços com ativos, reduzir artificialmente os juros e jogar a economia mundial em overclocking

Em 2007, os ativos totais do European Central Bank (ECB), Bank of Japan (BoJ), Federal Reserve (FED), Swiss National Bank (SNB) e Bank of England (BoE) somavam pouco mais de $3 trilhões de dólares. Hoje, ajustado pela inflação, os ativos dos cinco maiores Bancos Centrais do mundo somam $24 trilhões. Um pouco demais, não?

A situação se complica ainda mais em meio a Pandemia pois, para mitigar os efeitos sociais da crise econômica, países desenvolvidos, emergentes e subdesenvolvidos fizeram diversos pacotes com alto custo fiscal. A política fiscal expansionista aumenta o custo para rolar a dívida pré-existente em cada país e, consequentemente, pressiona os Bancos Centrais a manterem as taxas de juros baixas por ainda mais tempo.

O nefasto Cantillon Effect

Apesar do complicado efeito econômico que a crise do coronavírus vem demonstrando, a resposta econômica provoca uma ampliação da desigualdade social. Pauta de progressista, ou não, o Cantillon Effect deve ser considerado.

A ideia é simples. Assim que qualquer Banco Central irriga a economia com facilitação de liquidez e crédito, esse “dinheiro novo” não carrega consigo o efeito inflacionário de imediato. A inflação, na verdade, ocorre de forma assimétrica à medida que o papel recém impresso circula na economia.

Como na maioria dos casos, os BCs decidem elaborar políticas de emissão de dinheiro através de bancos comerciais e de investimento. Aos bancos comerciais fica a árdua tarefa de irrigar a economia, no entanto, por questões básicas de risco de insolvência, os bancos evitam oferecer crédito barato para mal-pagadores, em sua maioria com baixo poder aquisitivo.

De forma similar, bancos de investimento evitam elaborar linhas de crédito para pequenas empresas, já que grandes empresas detém mais capital e maior probabilidade de honrar suas dívidas. A máquina econômica funciona de tal forma que o dinheiro recém impresso comece a circular justamente pelos mais ricos que, por definição, não sentem na pele o aumento inflacionário.

À medida que o dinheiro circula na economia e vai chegando nas camadas sociais mais pobres, a inflação começa a ganhar tração e mostrar seu nefasto poder de corrosão do valor. Este é o Cantillon Effect

Mercado de ações cada vez mais poluído

Como o dinheiro recém emitido pára primeiro no mercado financeiro, a inflação e corrosão de valor chega também aos ativos listados em bolsas. Como bem observado por qualquer investidor mais atento, o mercado acionário não sabe mais interpretar notícias. Se é anunciado um novo pacote de estímulos à economia, as ações sobem, pois há a certeza de que mais dinheiro em circulação significa aumento generalizado no preço dos papéis.

Claro, mesmo que isso signifique que a empresa do papel em questão vá sofrer com baixa demanda e tributação mais alta no longo prazo. Afinal, a verdade é que o mercado financeiro decidiu tatuar em suas costas a célebre frase de John Maynard Keynes: “No longo prazo todos estaremos mortos”. Esquecendo que, antes do descanso final, as dívidas chegam à porta de todos.

As consequências da subversão do valor são as mais diversas. Como um fórum do Reddit realizando um short squeeze descentralizado em diversas empresas de capital aberto e, consequentemente, forçando potentes hedge funds a tomarem margin call e prejuízo superior a $6 bilhões.

O caso da GameStop não é o único absurdo. Muito denunciam o rally da Tesla como sinal da bolha dos ativos, mas surpreendente mesmo é Elon Musk tuitar “use Signal”, em referência ao aplicativo de mensagens concorrente ao WhatsApp e Telegram, e as ações da Signal Advance, uma empresa que nada tem a ver com o aplicativo, dispararem quase imediatamente em 438%.

Um caso similar ocorreu com o aplicativo de vídeo-chamadas Zoom, no qual investidores compraram ações da Zoom Technologies (ZOOM) acreditando estarem se expondo ao app. No entanto, o nome fantasia da empresa era Zoom Video Communications (ZM). O caso chegou a Securities and Exchange Comission (SEC) que decidiu pausar negociações da Zoom Technologies por causa da confusão.

O atual fenômeno pode ser explicado pelo fato do aplicativo Robinhood ter alcançado 13 milhões de usuários ativos em 2020. O número é tão relevante que quase se iguala a população total do Chile. Sendo jovens entre 16 e 20 anos extremamente conectados, sem muita aversão ao risco, o público se tornou formador de tendência e capaz de enriquecer e quebrar empresas em questão de dias.

Isto, claro, para não enumerar o curioso caso do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo. Apesar do Brasil enfrentar uma hecatombe fiscal nunca antes vista, o Ministério da Economia não se organizar para aprovar o orçamento de 2021, o governo “liberal” de Bolsonaro ativamente pressionar por aumento da carga tributária e a evidente crise cambial que arrasa o país, o Ibovespa conseguiu sair ileso. Terminou 2020 em uma modesta valorização.

Sendo justo com você, leitor, não é o investidor que está ficando cada vez mais burro, mas sim o mercado que está se afundando em solo arenoso. E, ao invés de se preocupar com a conjuntura, prefere aproveitar a viagem.

Recentemente o fundador e CEO da DoubleLine Capital, Jeffrey Gundlach, afirmou categoricamente que o mercado acionário está em alta graças a medidas artificiais cometidas pelo Federal Reserve que, assim como o Banco Central brasileiro, parece mais preocupado com a sustentação dos ganhos de acionistas do que com a inflação que se avizinha na esquina.

Não há mais o que fazer além de se proteger, segundo a gigantesca gestora Grantham, Mayo, & van Otterloo. O GMO publicou, nos últimos dias, um relatório intitulado por: “Waiting for the Last Dance”. No qual chama os ganhos acionários entre 2009 e 2020 de uma bolha épica que, certamente, será lembrada como uma das maiores da história, junto da bolha das Companhias dos Mares, 1929 e 2000.

À espera da última dança, a instituição alerta seus leitores para optar por estratégias de Value Investing e negociar com parcimônia. O Value Investing nada mais é do que esquecer o preço de mercado atual, o volume de transações que determinado ativo tem e se ater aos fundamentos de longo prazo.

Recentemente o Bitcoin performou sua terceira semana seguida de queda após reduzir, de forma programada, sua oferta monetária em 11/05/2020. Fundamentos de longo prazo demonstram que o ativo ainda tem uma longa corrida em um cenário de corrosão do valor no mundo inteiro. Talvez seja a hora de parar de operar em um mercado crowdeado, comprar Bitcoins e aguardar, tal como a GMO, a inevitável chegada da última dança.


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