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Investimentos

Como funciona a Bolsa de Valores. De um jeito que até o MTST entenderia

A ocupação do salão da B3, a bolsa de valores brasileira, por manifestantes do MTST, reforça mitos comuns sobre o papel da bolsa de valores na economia. Este texto resume exatamente para que serve a tal da bolsa. A ocupação holandesa no Brasil, mais especificamente em Recife, terminaria em 1654, com um acordo que levaria […]

A ocupação do salão da B3, a bolsa de valores brasileira, por manifestantes do MTST, reforça mitos comuns sobre o papel da bolsa de valores na economia. Este texto resume exatamente para que serve a tal da bolsa.

A ocupação holandesa no Brasil, mais especificamente em Recife, terminaria em 1654, com um acordo que levaria cerca de 600 holandeses, incluindo judeus sefarditas a abandonar o país.

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Expulsos do Brasil, este grupo migraria para outras colônias holandesas, incluindo um grupo de famílias que escolheria “Nova Amsterdam”, como residência.

A estadia por lá, porém, não seria pacífica. O intendente do local e as famílias judias se estranhariam por cerca de 20 anos, com discussões que levariam a criar um muro separando a comunidade, na chamada “rua da muralha”.

Foi em 1674, os ingleses tomaram posse da região, rebatizando a cidade de “Nova York”, e a tal “rua da muralha” viraria Wall Street.

Neste pedaço, que reunia grupos dos mais variados, o comércio floresceu, dando lugar a um mercado informal, que 2 séculos depois originaria a NYSE, New York Stock Exchange, ou bolsa de valores de Nova York propriamente.

Atualmente a NYSE é por larga vantagem a maior bolsa do planeta, negociando empresas avaliadas em $25,3 trilhões de dólares.

Assim como o mercado para negociar animais e produtos agrícolas na rua da muralha, a NYSE é, em essência, um bazar de ações.

Por meio da bolsa de NY, milhões de pessoas ao redor do planeta compram e vender pedaços de empresas, títulos com direito a juros e outros ativos.

Este bazar é organizado em 2 balcões: o mercado primário e o secundário.

No mercado primário as empresas chegam com propostas de vender ações e títulos.

Uma empresa pode fazer, por exemplo, um IPO, que é basicamente vender uma fatia das suas ações, e captar dinheiro para investir (e significa “Oferta Inicial de Ações” na sigla em inglês)

As empresas que já fizeram este processo, podem ainda vender títulos, como debêntures, uma dívida emitida pela empresa que remunera os compradores com juros.

Podem ainda fazer uma nova oferta de ações (follow-on).

Nos 3 primeiros meses de 2021, a B3, a bolsa brasileira, viu R$102 bilhões negociados nesse mercado.  A maior parte em títulos de renda fixa, como CRA ou CRI (certificados de recebíveis do agronegócio e imobiliários respectivamente).

Estes R$102 bilhões foram, majoritariamente destinados ao caixa das empresas, o que significa que podem ser utilizados para comprar outras empresas ou abrir novas fábricas e linhas de produção.

Já o mercado secundário, aquele onde investidores negociam papéis entre si, sem envolver a empresa, é onde se encontram os tais especuladores (quase nenhum fuma charuto e usa cartola).

É um mercado que serve para garantir liquidez, permitindo que quem comprou um papel possa se desfazer dele quando achar conveniente.

Este mercado age com base nas expectativas futuras, especulando quais empresas terão melhor rendimento no futuro, e com isso comprando ações por agora.

Existe inúmeras maneiras de avaliar o valor de uma empresa, mas na teoria, a empresa vale o quanto ela pode pagar aos seus acionistas em um determinado prazo, além do seu potencial de crescimento.

Em resumo, se uma empresa lucra R$10 milhões ao ano, mas dobra o seu lucro todo ano, ela poderá ser negociada a 100 vezes o seu lucro (R$1 bilhão), enquanto uma empresa que lucre R$50 milhões, mas cujo lucro cresce 10% ao ano pode valer R$500 milhões.

Quem decide isso são os compradores e vendedores no mercado secundário. E eles fazem isso todo santo dia, casando a expectativa de quem quer vender e quem quer comprar uma ação.

Quanto mais promissora uma empresa, maior o seu crescimento, por pura oferta e demanda. Se a empresa é promissora, muita gente irá querer comprar.

Como você pode conferir neste gráfico, o valor de mercado das ações brasileiras costuma seguir um padrão em relação ao lucro esperado.

Há algumas considerações importantes que você deve levar em conta.

A bolsa de valores não necessariamente reflete a economia. A bolsa pode subir quando a economia está caindo, como ocorreu em 2020.

Para isso acontecer, basta que mais pessoas queiram comprar ações do que pessoas dispostas a vender.

E as pessoas podem querer fazer isso por diversos motivos. Um motivo relevante no Brasil está nos juros. Há alguns anos o país tinha juros de 14% com inflação em 8%, o que significa que alguém poderia ganhar 6% ao ano tranquilamente em renda fixa.

Atualmente, com inflação em 9.6% e juros em 6.25%, a renda fixa paga algo em torno de 3% negativos!

Com a queda nos juros globais e a enxurrada de dinheiro impresso pelos bancos centrais, as ações subiram com a chamada “inflação de ativos”.

Outro ponto crucial é que grandes empresas tem muito mais facilidade em captar recursos do que empresas pequenas.

Uma gigante como a Renner, por exemplo, possui mais condições de pegar um empréstimo e sobreviver a meses de lojas fechadas do que a loja de roupas do seu bairro.

Quando a economia retomar, a loja de roupas do bairro pode ter falido e a Renner sobrevivido, ganhando o espaço antes ocupado pela primeira. É um efeito cruel, mas previsível.

A essência de toda empresa é se mostrar mais eficiente que a concorrência e assim abocanhar fatias de mercado. As empresas da bolsa, por terem mais acesso a recursos, fazem isso com frequência.

Da mesma maneira, em uma economia que cresça, essas empresas possuem mais condições de investir, abocanhando o crescimento.

Você pode achar isso bom ou ruim, pouco importa no resultado final. O fato é que um mercado de ações desenvolvido é parte crucial para direcionar recursos na economia.

Quando o BNDES, um banco estatal, decidiu criar um programa de empréstimos subsidiado, o PSI (Programa de Sustentação do Investimento), inúmeras empresas brasileiras se afastaram da bolsa.

Era mais fácil pegar um empréstimo no banco do que ir na bolsa captar recursos.

Neste período a bolsa caiu absurdamente, saindo de 39 mil para 17 mil pontos em dólar.

A consequência pro país? As empresas começaram a investir em projetos que não necessariamente davam retorno. O banco não cobrava resultados, ao contrário dos acionistas.

Diversas empresas entraram em projetos ruins, colaborando na crise.

A cobrança por parte dos investidores é um fator relevante no nível de governança de uma empresa, e é, em essência, o papel mais importante desempenhado pela bolsa de valores.

Quanto aos manifestantes que invadiram a B3, convém lembrar que a fome, o desemprego e outras questões importantes, possuem maior relação com a política monetária, que envolve os juros definidos pelo Banco Central.

A bolsa não define a taxa de juros e o preço do dinheiro na economia, mas é fundamental para o seu desenvolvimento.

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