Brasil, o eterno país do futuro, tem nova década perdida. O nosso esforço, de quase cinco décadas, para fugir da renda média continua sendo nulo.
Construído em 1977 com a coleção pessoal da imperatriz Farah Pahlavi, o Museu de arte contemporânea de Teerã é um resquício dos tempos em que o Irã, hoje o maior antagonista dos Estados Unidos no Oriente Médio, era um país aberto ao ocidente.
Foi justamente com a fuga de Farah, e seu marido, o importador Mohammed Reza Pahlavi, em 17 de janeiro de 1979, que o Brasil começou a vivenciar uma reversão política e econômica ainda não superada.
Enquanto os manifestantes promoviam a revolução islâmica por lá, o Brasil vivia seus anos finais da ditadura.
A fuga do imperador e o pânico nos mercados globais, levaram ao segundo choque do petróleo. O preço do barril subiu a valores equivalentes a $80 nos dias de hoje, a respeito de o Irã responder por apenas 4% da produção mundial.
A década de 70 e a farra do crédito que impulsionou obras faraônicas por toda América Latina, chegava ao fim.
Para debelar a inflação causada pelo aumento no preço do petróleo, o presidente do FED, Paul Volcker, elevou os juros a níveis nunca antes vistos.
Os Estados Unidos entrariam em um período de recessão, com aumento de desemprego.
E como diz o ditado: quando a economia mundial pega uma gripe, a América Latina pega uma pneumonia.
Com a economia mundial em crise, os preços de commodities desabaram. A situação da América Latina passou então a ser dramática: devíamos muito, os juros haviam subido, os dólares fugiam da região e nossos produtos valiam cada vez menos.
O resultado disso tudo foi o que passamos a chamar de “Década perdida“. Começando pelo México, inúmeros países entrariam em colapso na região.
Em média, o brasileiro ficou 0,4% mais pobre a cada ano dos anos 80.
Em 1985, a situação se tornaria tão dramática que levaria o país a declarar calote na sua dívida. Naquela altura, nossa dívida externa chegava a $150 bilhões, ou 50 vezes mais do que no início dos anos 70.
Os 10 anos seguintes seriam marcados pelas inúmeras tentativas de arrumar a casa, reduzir a maior hiperinflação da história do ocidente (algo como 14 trilhões de por cento em 25 anos), e claro, um confisco da poupança (confisco, não bloqueio).
O problema? Essa história trágica para o país está, neste momento, sendo rebaixada para segundo lugar na nossa categoria de tragédias econômicas.
Nunca antes na história deste país, empobrecemos tanto em tão pouco tempo como nos últimos 7 anos.
Ao final desta década, cada brasileiro será em média tão rico quanto era em 2008, quando o pré-sal nos prometia uma era de riquezas sem fim e o passaporte para o desenvolvimento.
Afinal, o que deu errado?
Uma breve folheada em um livro de história brasileira pode ajudar a entender. Pegue o ano de 1896, por exemplo.
O Brasil havia acabado de eleger, coincidentemente o 3º presidente do novo regime. Campos Salles assumiu um governo com inflação fora de controle, um elevado endividamento externo e um país com orçamento inchado.
Ao final de seu mandato, entregaria um país com orçamento 25% menor, uma inflação sob controle, dívida externa renegociada, e um programa extenso de privatizações.
Seu sucessor, que assumiu em 1903, tinha a casa em ordem, e por sorte do destino, viu um boom no preço das commodities. Nossa borracha e café tiveram saltos de preços, fazendo os dólares jorrarem no Brasil.
Resultado? Um extenso programa de obras públicas que transformaria em especial o Rio de Janeiro, capital da República.
Rodrigues Alves sairia do governo com uma boa avaliação, elegendo seu sucessor, Afonso Pena.
Pena foi eleito com módicos 97,2%. O crescimento em seu início de governo ainda era vigoroso. Em 1907, por exemplo, o Brasil vivenciou o maior número de aberturas de capital da história da bolsa de valores de São Paulo (coincidentemente 100 anos antes do segundo melhor ano).
Após seu começo de governo porém, a situação começou a piorar. O ciclo de commodities chegava ao fim, e os gastos se mantinham.
A riqueza da época era tamanha que o governo promovia subsídios à indústria por meio dos grandes cafeicultores (uma espécie de FIESP da época).
Como uma prova de que gaúchos não deveriam ser eleitos presidentes (ou governar o Rio de Janeiro, ou ainda, serem nomeados ditadores), os anos seguintes foram marcados por uma crise profunda.
Para nossa sorte, as coincidências terminam por aí, afinal, nesse breve período o “fim” é uma guerra mundial (algo que jamais se repetirá).
Essa história que o gaúcho Oswaldo Aranha, fiel escudeiro do ditador Vargas, outro gaúcho (estou falando sério, parem de eleger políticos gaúchos), chamaria de “Pêndulo Campos Salles – Rodrigues Alves” esconde dentre as coincidências um detalhe importante.
Como antes, o Brasil jamais superou seus problemas estruturais e institucionais.
Continuamos um país “extrativista”, não pela riqueza oriunda dos recursos naturais, mas pela natureza das nossas instituições.
Ainda somos um país formado por uma pequena elite, de políticos, empresários e intelectuais, que se une para extrair riqueza do país por meio do Estado.
Se antes direcionávamos recursos para os produtores de café, nos anos 2010 garantimos desonerações de R$528 bilhões para empresários, sem qualquer emprego extra gerado.
Tivemos também neste período R$1,2 trilhão em subsídios para as 1000 maiores empresas do país, pelo chamado “Programa de Sustentação do Investimento”, que financiou não apenas a bolha dos caminhões, como também os jatinhos da Embraer.
Em nenhum momento porém, promovemos reformas que atacassem nossa baixa produtividade.
Foi ali naquela década perdida dos anos 80, que a nossa produtividade parou de crescer. Produzimos hoje a mesma riqueza em relação a um americano do que produzíamos em 1976.
O resultado é que enquanto o mundo inteiro surfou em um aumento sem precedentes de liquidez (grana barata), nós ficamos a míngua. Criamos nossos próprios problemas fiscais e afastamos investimentos produtivos.
Diante daquilo que nós criamos para nós mesmos, o vírus e as consequências da pandemia são um mero detalhe.
Para piorar, se antes crescemos em função do aumento demográfico, neste momento ele está no fim, nos deixando com um crescimento raquítico, abaixo de 1%.
É claro que em se tratando de economia, nada é uma sentença, mas uma estimativa. Se quiser sair desta crise, o Brasil demandará corrigir seus problemas ignorados durante os tempos de fartura: gastamos muito mal os recursos que temos.
Não há, porém, uma solução mágica. Tudo que o que o país ainda pode fazer é se concentrar em garantir que o que não fizemos em 40 anos, faremos em 4.
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