Trazido ao Brasil em meio ao boom do setor ferroviário no século XIX, o futebol se tornou por aqui um símbolo nacional, daqueles que encabeçam a lista de qualquer estrangeiro ao pensar no país.
Este trabalho, porém, não nasceu ao acaso. Ao contrário, o futebol em seu início era visto como algo menor, pouco atrativo para a maioria dos clubes, que como você já deve ter percebido, se dedicavam na origem a outros esportes, como o Clube de Regatas do Flamengo, ou o Clube de Regatas Vasco da Gama.
A transformação do futebol em um esporte popular, foi um árduo trabalho, construído por nomes do setor privado, como Arnaldo Guinle, cuja família detinha os direitos de concessão sobre o Porto de Santos em pleno boom das exportações de café.
Guinle e outros empreendedores estiveram no início da construção do futebol, seja dos clubes ou da própria seleção brasileira, renegada pelo governo e que teve de contar com apoio privado para sua primeira participação internacional no Uruguai.
A despeito dessa origem, o futebol evoluiu no Brasil como uma associação estranha, sem qualquer dono de fato, além dos cartolas, como são chamados os dirigentes de futebol.
Por décadas o principal esporte do país foi gerido de maneira pouco transparente, ou mesmo eficiente. O resultado, claro, foram dívidas imensas que muitas vezes paralisavam os clubes.
Não é difícil entender as razões. Como qualquer “bem público”, onde os responsáveis pela gestão não são responsáveis pelas consequências, o resultado é que na maior parte das vezes valia a pena se endividar e comprometer resultados futuros, para garantir algum mérito presente.
Este era o caso do Flamengo, ao menos até 2012.
Em suma, mesmo com um aumento na quota de TV de R$36 milhões para R$110 milhões entre 2011 e 2012, o Flamengo fechou o ano em déficit.
Sob qualquer aspecto, era um negócio não sustentável.
Em suma, o clube devia 3,5 vezes sua receita, da ordem de R$200 milhões anuais.
Para efeito de comparação, imagine que a Petrobras, no auge do seu endividamento, devia R$600 bilhões, contra um faturamento de R$300. Sob estes termos a empresa foi considerada a mais endivida do setor no mundo.
O clube possuía em 2012 ao menos R$400 milhões em dívidas fiscais, em suma, um sonegador de grande porte. Outros R$193 milhões diziam respeito à dívidas trabalhistas, e R$145 milhões junto aos bancos e fornecedores.
A situação, porém, começou a mudar em 2013.
Uma nova diretoria assumiu, com executivos com experiência no setor privado encarando a bronca.
O resultado é que, entre 2013 e 2015, o Flamengo passou por um dos ajustes fiscais mais severos de que se tem notícias.
As contratações pararam, as dívidas foram renegociadas e reorganizadas.
O elevado endividamento do clube, que o obrigava a negociar em termos desfavoráveis, foi combatido.
Dentro de campo, os resultados foram dúbios. O clube apostou em um elenco mais barato. Chegou a ganhar a copa do Brasil em 2013, o que deu alívio ao caixa, mas amargou um 16o lugar no Campeonato Brasileiro.
Fora de campo, o principal objetivo foi buscar a aprovação do Profut, uma espécie de “Regime de Recuperação Fiscal”, que alongou em 20 anos as dívidas fiscais dos clubes brasileiros.
Segundo Bandeira de Mello, presidente do clube na época, a aprovação do programa foi sua prioridade durante todo o ano.
O principal resultado no início do ajuste, porém, veio do programa de sócios torcedores, que o clube viria a lançar apenas em 2013.
A receita com torcida saltou de R$25 milhões em 2012 para R$83 milhões em 2013 (incluindo bilheteria e programa de sócios).
A melhora no perfil de negociação também ajudou o clube a reduzir a dependência de quotas de TV.
Em 2012, 55% da receita do Flamengo vinha de televisão. Já em 2013, essa parcela foi reduzida para 37%.
O resultado também foi verificado em meio a justiça do trabalho. O clube, que possuía dívidas da ordem de R$193 milhões no item trabalhista em 2012, reduziu o número para R$60 milhões em 2018.
Na prática, o clube enfrentou um ajuste que se estendeu além de uma única diretoria, levando a folga de caixa que permitiu contrações já em 2016, criando um ambiente propício para financiar o departamento de futebol, o coração do clube.
Se adicionada a inflação, a dívida do clube saiu de R$1,37 bilhão em 2012 para os atuais R$606 milhões.
Um ajuste considerado doloroso para os torcedores, mas cujo resultado prático foi aprovado.
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