Maior investidor da história recente, Warren Buffett sempre se considerou alguém avesso a investir em novas tecnologias. Em 1997, no auge da bolha das ponto com, quando sua credibilidade havia sido ameaçada pelo fato de se recusar a investir nestas empresas, Buffett fez um dos seus mais célebres discursos, em uma conferência de CEOs e grandes investidores. Sua lógica para ficar de fora era simples:
Imagine que você tenha investido na aviação, ou em automóveis logo no seu início, lá no começo do século XX. Você estaria investindo em uma tecnologia que certamente veio pra ficar. Mas quais suas opções? Havia então por volta de 2 mil empresas em cada um destes 2 setores. Hoje, os números não chegam a 1% disso, com 4 empresas dominando ambos os setores, e ambos ameaçados com margens dependendo de fatores pouco controláveis, como o preço do petróleo.
Buffett negou-se a investir nas milhares de opções de empresas Ponto com. A bolha estourou e ele então pode consagrar-se como alguém “atento aos fundamentos”.
Passados 20 anos do fato, a empresa com maior capital alocado pelo próprio Buffett, assim como as únicas 6 empresas nos EUA que valem mais do que a sua própria, a Berkshire Hathaway, é uma empresa de tecnologia, a Apple. São quase US$90 bilhões em ações da Apple, o que fazem dele, “não tão amigo” da tecnologia, o maior acionista da empresa.
E o que isso significa para Warren Buffett? Nada. Ele é um investidor cauteloso e que gosta de fundamentos de longo prazo. O perigo jaz, na verdade, em utilizar Buffett como um guru e adaptar sua carteira de investimentos às recomendações do investidor americano.
Parar de aceitar conselhos do Buffett como verdades irrefutáveis é o primeiro passo para você enfim entender que cada investidor é um investidor, cada empresa é uma empresa e cada mercado é um mercado.
Entender quais empresas possuem condições de sobreviver, não é uma tarefa fácil, mas os que conseguirem tal feito, certamente poderão lucrar e muito com suas apostas. Tivesse entrado na Amazon em 1997, quando fazia sua conferência, Buffett poderia ter levado a empresa inteira por 400 vezes menos do que ela vale hoje, quando ele diz se arrepender de não ter comprado.
Hoje, por exemplo, Buffett encontra-se em uma cruzada contra as criptomoedas. Sempre que pode, ataca os ativos que considera tóxicos. Ao mesmo tempo, lamenta sua escolha de não ter entrado na Apple, ou Amazon, antes, quando poderia ter tomado posições bastante maiores em ambas as empresas.
Por isso, é curioso notar que, recentemente, Warren Buffett e a Berkshire Hathaway entraram no mercado de minérios ao comprarem U$ 560 milhões em ações da mineradora canadense Barrick Gold. O caldo engrossa quando lembramos o posicionamento histórico de Buffett contra metais preciosos, como o ouro, que segundo ele “não tem valor intrínseco”.
E o que isso tem a ver com criptoativos? Bom, tudo. Em um estudo publicado na semana passada, a Skew, especialista em análise de dados no criptomercado, demonstrou que a correlação entre Ouro e Bitcoin atingiu uma alta histórica de 70% em julho.
As criptomoedas, desde as que têm grandes capitalizações de mercado, como o Bitcoin, Ethereum e Litecoin, até as novas blockchains corporativas planejadas pela PayPal e pelo Facebook, provocam desconforto em bancos centrais e governos no mundo inteiro por seu ineditismo e, naturalmente, assustam um investidor tão parcimonioso como Buffett.
Os exemplos de reações regulatórias agressivas encontram-se nas próprias tentativas da PayPal e Facebook de estabelecerem seus criptoativos corporativos. Esbarrando em uma robusta legislação, o re-desenho e a comunicação das etapas de desenvolvimento estão tendo que ser extremamente litigiosas e transparentes com autoridades no mundo inteiro.
No entanto, o incipiente mercado de criptoativos, que foi apresentado ao brasileiro em um Jornal Nacional de novembro de 2017, mudou muito. Os grandes bancos, justamente eles, passaram a adotar a blockchain e sua capacidade de revolucionar os meios de transações, exatamente no momento em que os meios antigos, amarrados em burocracias, passam a ser questionados.
Porém, mesmo com a melhoria de percepção do criptomercado no Brasil e no Mundo durante os últimos três anos, ainda há um tom jocoso no ar. Como se grandes investidores, como Ray Dalio e Nassim Taleb, não tivessem utilizado o Bitcoin como hedge no auge da crise financeira do começo deste ano.
O fato é que na Era da Informação é muito fácil dar pitaco de bar sobre a diversificação de carteira de alguém nas redes sociais. Difícil é, como diriam os americanos, “put your money where your mouth is”, ou em tradução livre: “falar é fácil, difícil é pagar pra ver”. Se até mesmo o maior guru do mercado financeiro muda de opinião sobre determinados ativos, por que há uma relutância de investidores brasileiros em admitirem algumas opiniões erradas?
O Dólar começou o ano valendo R$4,02 e agora oscila entre R$5 e R$6. O Bitcoin, especialmente por causa do Halving de maio e das pressões cambiais, deve alcançar a sua cotação mais alta da história em reais nas próximas semanas. Já são 130% de valorização do criptoativo frente ao Real desde o dia 1º de Janeiro.
Se dolarizarmos o Ibovespa, os números assustam. Os 72 mil pontos antes da crise de 2008 se transformavam em 45 mil pontos em Dólar. Hoje, em 2020, os 100 mil pontos do Ibovespa, se dolarizados, somam apenas 18 mil pontos em Dólar. Isso significa que se você tivesse investido U$1000 em 2008, teria hoje apenas U$400. Não parece ser um excelente investimento para a última década.
*Este artigo não é uma dica de investimento.
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