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Investimentos

A estratégia de Taleb que rendeu 3600% em meio à crise

Se o Barão de Rothschild estiver certo, este é um excelente momento para ir às compras no mercado de renda variável. Em uma famosa frase atribuída a ele, dizia-se: “compre quando houver sangue nas ruas, mesmo que o sangue seja (também) o seu”. Não há sangue nas ruas, até porque elas estão desertas em função […]

Se o Barão de Rothschild estiver certo, este é um excelente momento para ir às compras no mercado de renda variável. Em uma famosa frase atribuída a ele, dizia-se: “compre quando houver sangue nas ruas, mesmo que o sangue seja (também) o seu”.

Não há sangue nas ruas, até porque elas estão desertas em função da quarentena que se alastra durante a pandemia. Mas se tudo é calmo e silencioso nas maiores cidades do planeta, nas principais bolsas de valores e futuros houve uma inundação de cotações no vermelho. Parece que para onde quer que se olhe, há prejuízos percentuais na casa das dezenas.

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  • Resumo da notícia:
    – Um fundo de investimentos com Taleb no conselho acumula retorno de 4144% no ano
    – Fazer um “seguro” para sua carteiras de investimentos pode trazer muito retorno na crise
    – Ativos com dinâmicas de preço próprias, como o ouro e o BTC, podem ser considerados
    – Em 5 anos, o Bitcoin saiu de um nicho e se popularizou entre grandes investidores

Como Taleb obtém retornos extraordinários

Mas isso não é bem verdade, ao menos em duas situações. Na primeira delas, repercutiu nos mercados a valorização mensal de 3600% em um fundo gerido pela Universa Investments of Miami. O veículo tem em seu conselho ninguém menos do que o estatístico e ensaísta Nassim Taleb e no trimestre já acumula alta de 4144%.

Taleb é uma das figuras mais inteligentes (e polêmicas) do mercado financeiro. Autor de obras magnas como Anti-frágil e A Lógica do Cisne Negro, fez fortuna em momentos de crise como 1987, 1999 e 2008. A partir de uma filosofia de investimentos com alto grau de sofisticação intelectual, mas simples de entender e até de praticar, ele ensina o poder de uma aposta assimétrica.

Ele defende algo próximo a uma alocação de 90 a 95% em ativos muito seguros, como títulos públicos de nações estáveis ou dólar, e de 5 a 10% em ativos de altíssimo risco, mas com potencial de retorno extraordinário. Esse pensamento permite a um portfólio comprar uma espécie de “seguro” valiosíssimo contra momentos de crise. Embora nem sempre vá acontecer o “imprevisível”, quando ocorre quem está seguindo a estratégia tem retornos totalmente fora da curva.

Assim, uma carteira com essa filosofia de investimento não apenas se protegeria das massivas desvalorizações de até 60% como as atuais em alguns fundos de ações no Brasil e no mundo, mas poderia contar também com retornos estratosféricos como esses de 3000, 4000%. Tudo isso em um curto intervalo de tempo, balanceando o portfólio com veículos de investimento como opções de venda e afins.

Mas se olharmos para os três últimos meses, embora com retornos menores, algumas outras classes de ativo não apresentaram a massiva desvalorização das ações. É o caso do ouro ou do Bitcoin, por exemplo. Pela natureza apolítica e por se tratar de ativos escassos, ambos apresentam uma dinâmica de preços própria, por vezes sem correlação direta ou tão próxima com uma carteira de ações.

Alguns entusiastas já reúnem as características de grandes criptoativos como o Bitcoin às ideias de proteção contra eventos catastróficos ou grandes crises de Taleb. Propõem que uma parte daqueles 5 a 10% de proteção e de exposição a ativos de alto risco e retorno potencial seja alocada em bitcoins.

O Bitcoin conquista os investidores institucionais

E por mais que a ideia possa ser vista com desconfiança por quem ainda não conhece a moeda digital, a realidade mudou fortemente nos últimos anos. Num curto intervalo de tempo, o Bitcoin saiu de uma tecnologia restrita a um pequeno grupo de geeks e tomou o interesse (e os bolsos) de alguns dos mais proeminentes nomes do investimento institucional.

Principalmente no começo de sua existência, o Bitcoin era mais conhecido pelas grandes variações de preço pelas quais passava em dias ou às vezes horas do que pela tecnologia revolucionária que trazia. Por volta de 2011, a criptomoeda ainda era conhecida apenas por um pequeno nicho de entusiastas de tecnologia, mas chegou à página principal do Slashdot quando atingiu paridade com o dólar. O famoso site de “notícias para nerds” causou alarde entre seus leitores. 

Em parte deles porque não conseguiam entender como algo surgido aparentemente do nada e que só existia na internet pudesse valer 1 dólar, em “dinheiro de verdade”. Enquanto que para outros começava ali uma rica trajetória de investigações e grandes descobertas a respeito do então misterioso ativo digital.  

Passados pouco mais de dois anos, respectivamente em março e novembro de 2013, o Bitcoin voltava a chamar a atenção pelo mesmo motivo. Seu preço havia saltado de 10 para 100 dólares no começo daquele ano e, depois, de 100 para 1000 dólares. Igualmente, a ignorância e a incredulidade de muitos contribuíram para certa desmoralização pública da tecnologia. 

“Não é possível”, “não existe”, “isso é um golpe”, muitos diziam. Só que havia uma diferença desta vez. Enquanto uns pregavam distância desse tipo de investimento sem sequer saber do que se tratava, alguns dos visionários surgidos em 2011 estavam ganhando muito dinheiro. E como sabemos, conhecendo minimamente a natureza humana, quando a curiosidade intelectual não é suficiente a possibilidade de lucro é um enorme incentivo à busca por inovações.

Foi mais ou menos nesse período em que o Bitcoin começou a sair de um nicho muito técnico e ideológico para tomar novos ares e cair no gosto de pessoas com perfis até então inimagináveis. Não só algumas dessas figuras de grande reputação contribuíram para a difusão da tecnologia, como passaram a recomendar ativamente a alocação em bitcoins como parte de um portfólio saudável de investimentos. 

O exemplo mais emblemático é o de Wences Casares, empreendedor e investidor de grande sucesso. Radicado no Vale do Silício há bastante tempo, o bilionário foi um dos principais responsáveis pela difusão do Bitcoin no maior polo de inovação do planeta. Muito bem-sucedido na criação e na expansão de startups da área de tecnologia financeira como a Lemon, Casares no entanto tinha outro fato mais marcante em sua biografia. 

Nascido na Argentina, onde passou parte significativa da vida, ele pôde testemunhar de perto uma sucessão de crises econômicas, boa parte delas resultante de políticas monetárias ruins ou má gestão pelos agentes públicos no país. Ou seja, era alguém com total conhecimento de causa. Sabia reconhecer como poucos as virtudes do Bitcoin para cidadãos dos diversos países que passavam por questões similares.

Uma tese de alocação em bitcoins

Mas ele foi muito além. Construiu uma tese de investimento generalista, que acredita até hoje caber a virtualmente “qualquer pessoa”. Deu a ela o nome “a tese de uma pequena alocação em bitcoins”, conclamando os portfólios de investimento a alocarem até 1% de todos os recursos que possuíam no criptoativo. 

Por trás dessa tese, Casares expunha a grande assimetria do retorno potencial, caso o Bitcoin “dê certo” em mais larga escala. Embora se trate de um investimento de risco e com alta variabilidade, a perda máxima é conhecida enquanto o upside é muito maior. Um fundo com 10 milhões de dólares que aloca 100 mil dólares em bitcoins pode transformar esse 1% em 25 milhões de dólares, em um intervalo de 7 a 10 anos, segundo as projeções do empresário. 

Por trás desses números, Casares enxerga no Bitcoin e em sua blockchain enquanto plataforma uma forma de assegurar uma moeda soberana, supranacional, que transforma globalmente a forma como grandes instituições alocam valor para reserva e estabelecem remessas internacionais. Comparando o estado atual da tecnologia com a internet comercial no começo dos anos 90, ele também acredita que a inovação e o espírito empreendedor podem levar o protocolo a fazer coisas até então inimagináveis. 

Ou seja, os fundamentos técnicos e econômicos da tecnologia têm um potencial não-negligenciável de captura de valores hoje alocados em outros mercados, como fintechs, ouro e afins. Na medida em que siga crescendo em usabilidade e adoção, mais valor tenderia a migrar para o BTC, cujo montante é universalmente limitado a 21 milhões de unidades e portanto poderia passaria por fortes ondas de valorização.

E de 2014 pra cá, quando essa tese começou a se popularizar no Vale do Silício e de lá para o mundo, o Bitcoin passou a ser endossado, seja pela via tecnológica ou econômica, por outros nomes de peso. Bill Gates, Jack Dorsey, Peter Thiel, Tim Draper, Reid Hoffman e muitos outros. Bilionários e visionários que usualmente não perdem tempo (e nem dinheiro) quando se trata de inovação tecnológica. 

E desta vez não se trata de um jogo exclusivo em que somente eles ou seus enormes fundos podem investir e eventualmente ganhar. O Bitcoin tem justamente como seu maior trunfo a autonomia e a liberdade, é ao mesmo tempo inviolável e acessível a todos.

Foi isso que encantou o visionário Casares e segue fazendo com dezenas de milhões de entusiastas mundo afora. A proteção de portfólios e a exposição a ativos financeiros com potencial de retornos assimétricos se tornaram uma possibilidade real a muitos mais, graças ao poder do Bitcoin e de sua comunidade crescente de entusiastas e investidores mundo afora.

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