“Podemos estar vivendo a primeira de muitas crises decorrentes da mudança de padrão energético mundial” – Bloomberg, outubro de 2021
O alerta descrito pela Bloomberg, principal veículo de informações econômicas global destaca uma crise no setor energético com poucos precedentes históricos.
Ao contrário dos mais conhecidos choques no setor, como o choque do petróleo de 1973 e o segundo choque do petróleo em 1979, o problema atual parece estar sedimentado em mudanças propositais da humanidade.
Dois números ajudam a explicar o problema até aqui: 28% e 7%.
O primeiro, de 28%, equivale a participação da energia eólica na matriz elétrica do Reino Unido em 2020. O segundo, a mesma energia eólica em 2021.
O setor passou a produzir 75% menos em apenas um ano, em função da mudança na força dos ventos no mar do norte.
Para piorar a situação, a queda ocorre em meio a retomada econômica global.
Após um período de vacinação, o consumo global tem ressurgido, e as fábricas têm voltado a produzir.
A crise energética, porém, pode colocar tudo a perder, como comenta a Bloomberg.
A inconstância na geração de energias renováveis, consideradas energias “não firmes”, ou seja, que sofrem de grande intermitência na produção, tem levado a uma corrida no preço de fontes rápidas e constantes de geração, como as térmicas movidas a gás natural.
Dependente da importação russa, a Europa tem visto o gás natural subir incríveis 400% em 2021, levando a um aumento no preço da conta de luz das famílias em países como Alemanha, França e o próprio Reino Unido.
Na prática, a Alemanha enfrenta sua maior inflação no século, com 3,9%. O culpado? No momento a energia, cujo custo sobe 12,6%.
No Reino Unido o banco da Inglaterra alerta que a inflação deve passar dos 4%, superando o recorde anterior neste século, em 2012.
O alastrar da crise causa dois efeitos globais. O primeiro, e mais óbvio, é o fato de commodities como Gás Natural, e Petróleo, serem cotadas globalmente em dólar.
Na prática isso significa que se a Petrobras decidir manter sua política e repassar os preços por aqui, o barril de petróleo pode ficar até 15% mais caro (isso, claro, se o preço não subir até $100 dólares como esperado).
Um reajuste acima de 15% na gasolina não seria portanto de espantar.
Com a terceira maior inflação entre as 20 maiores economias mundiais, o Brasil também possui seus problemas internos, em especial pela dependência de hidrelétricas, que tipicamente possuem menor oferta neste período.
O país acaba por ficar mais dependente de térmicas, cujo preço pode ser até 3 vezes maior.
Na Europa, a energia nuclear, mais firme e independente de clima, além de zero poluente, tem voltado a pauta, com os mini reatores da Rolls Royce ganhando autorização para começar a construção.
Com tamanho menor, os reatores são uma alternativa às criticadas usinas nucleares, que a despeito de zero poluição são alvo constante de ativistas ambientais.
O alerta atual, porém, serve para o Brasil no futuro. Depender de fontes intermitentes é um problema capaz de elevar a instabilidade de preços.
Por lá, e pro aqui, energia conta como ⅓ dos índices de inflação, e até uma solução definitiva ser encontrada, tendem a possuir uma volatilidade de preços elevada como alerta a Bloomberg.
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