Foi em outubro de 2011 que o então ministro de Energia, Edson Lobão, declarou: Belo Monte é irreversível.
Segundo o ministro, o país necessitava de um acréscimo de 5% em sua geração de energia, do contrário, seria preciso construir térmicas a carvão, ou óleo diesel.
Corte para alguns anos a frente, em 2018, e a portentosa usina de Belo Monte, a terceira maior do planeta em capacidade de geração, decide construir usinas a óleo diesel para entregar a energia que se comprometeu. O motivo? Após $18,5 bilhões (R$100 bilhões na cotação de hoje), a usina produzia menos de 40% da capacidade.
Na teoria, Belo Monte poderia produzir 11,2 mil MW/h, na prática, entrega 4,6 mil MW/h. Piora, nos meses de seca a usina chega a produzir 230 Mw/h, ou 2% de sua capacidade.
O projeto foi construído em um modelo chamado de “fio d’água”, sem um reservatório, o que deixa a geração de energia sujeita ao volume de água que corre no Rio Xingu.
A área alagada, que caiu de 1200 km² para 560 km² com a inovação do modelo fio d’água, onde o rio corre pelas 18 turbinas de 630 MW/h de potência, não foi suficiente para impedir que a vazão de água no local se alterasse completamente, afetando a vida de populações locais que dependem da pesca par sobreviver.
Fruto de questionamentos desde o início, Belo Monte significou para o governo um símbolo da retomada de grandes obras. Isso porque, cerca de 20 das 24 usinas hidrelétricas com +1000 MW/h de potência que existem no Brasil, 20 foram construídas durante a ditadura, onde preocupações ambientais nunca foram um empecilho.
A usina foi controversa também em sua construção. Por se tratar de uma das maiores obras do planeta em seu período de construção, nenhuma empreiteira se arriscou a fazer o projeto sozinha, e a Eletrobras foi utilizada para pagar o pato e mitigar os riscos dos sócios privados.
Segundo apurou a Lava Jato, a usina rendeu R$150 milhões em propina. Um valor pequeno comparado ao estrago social estimado em R$1 bilhão.
Tudo isso somado levou a usina a ter um prejuízo de R$800 milhões ao longo de 2020.
O maior problema, entretanto, está na intermitência da usina. Na prática, Belo Monte em nada colabora, ao contrário, com a carência energética do país em época de falta de chuvas.
O mesmo investimento em energia eólica, teria potencial para gerar cerca de 8,7 mil MW/h, ou R$4,6 milhões por MW/h instalado.
Considerando o fator de geração médio das usinas eólicas, significaria 3,7 mil MW/h gerados, com maior incidência em períodos de falta de chuva, onde os ventos costumam ser mais presentes.
Isso, claro, considerando o custo final de Belo Monte. É bastante improvável que ao se tratar de dezenas, ou centenas, de parques eólicos instalados pelo país, seria possível praticar um sobrepreço de +100% como em Belo Monte, justamente pois grandes obras são um convite tentador para corrupção.
Fato é que, na ânsia de criar grandes projetos, a incapacidade de planejamento do governo federal levou o país a arcar com custos elevados.
Mas se serve de boa notícia, a Norte Energia, responsável pela usina, está substituindo as usinas a diesel por usinas solares.
Em nota a Norte Energia comenta esta matéria. Segue na íntegra os comentários e esclarecimentos da empresa:
A Norte Energia, empresa privada, concessionária da Hidrelétrica Belo Monte, em respeito a opinião pública e reforçando seu compromisso com a transparência de informações gostaria de esclarecer que:
1) O custo da construção de Belo Monte foi de R$ 48 bilhões, 100% em moeda brasileira, não fazendo sentido um cálculo que, dolarizado, supostamente atingiria o valor de R$ 100 bilhões;
2) Não é verdade que a usina produza menos de 3% do previsto. Belo Monte tem capacidade instalada para gerar 11.233 MW, o que tem ocorrido nos meses de maior vazão do Rio Xingu (inverno amazônico, que começa em novembro). Com a redução de vazão do Xingu nos meses mais secos (verão amazônico), a usina gera menos energia, exatamente conforme previsto no projeto original do empreendimento;
3) Também não é verdade que houve a intenção de construir usinas a óleo diesel para complementar a geração de energia, visto que Belo Monte tem gerado exatamente o volume de MW previsto – conforme detalhado acima;
4) O autor do texto comete outro equívoco ao afirmar que Belo Monte “entrega 4,6 mil MW”, quando “poderia produzir 11,2 MW”. Como já esclarecido acima, 11.233 MW é a capacidade instalada da usina, o que se transforma em realidade nos meses de maior vazão do Rio Xingu. O volume médio de geração é de 4.571 MW, ou seja, a média de energia gerada ao longo de 12 meses, levandose em conta as maiores vazões no verão amazônico e as menores vazões do inverno amazônico;
5) É importante esclarecer que usinas a fio d’água são concebidas neste modelo em atendimento a normas socioambientais mais rígidas, oferecendo menor impacto sobre populações, fauna, flora etc, o que é o caso da Hidrelétrica Belo Monte. Por ser a fio d’água, por exemplo, a usina não alagou nenhuma comunidade indígena naquela região do Sudoeste do Pará;
6) Vale destacar, ainda, que Belo Monte não está “substituindo as usinas a diesel por usinas solares”. Isso porque o empreendimento jamais construiu ou se utilizou da geração de usinas a diesel, conforme informa equivocadamente o texto. Altamira (PA), 11 de outubro de 2021.
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