Os 25 primeiros dias de 2023 foram marcados por ao menos 59 mil demissões no setor de tecnologia, contra 159 mil em todo ano de 2022.
Um dos setores mais bem pagos do planeta, a área de tecnologia nos EUA possui salários médios de US$143 mil, com empresas como Google pagando até US$300 mil.
Agora, um dos setores de maior crescimento na última década, com empresas trilionárias (com T mesmo), parece estar vendo tempos difíceis à frente. Mas há razões para tanto?
Em primeiro lugar, especialistas têm apontado que ao longo dos últimos 10 anos as Big Techs acumularam uma quantia avassaladora de recursos, de cerca de US$1 trilhão em caixa. Livre pra gastar. Tudo isso, claro, mesmo considerando um aumento expressivo em gastos com inovação.
A maior de todas as Big Techs, a Apple, possui sozinha US$203 bilhões em caixa. Isso significa dizer que a companhia de Cupertino poderia comprar a Netflix e ainda lhe sobraria US$35 bilhões em caixa.
Ainda assim, a maior aquisição da história da Apple até hoje foi a Beats, a fabricante de headphones, pela qual a Apple pagou US$3 bilhões, uma quantia insignificante diante do seu caixa.
O destino do caixa da empresa é justamente outro: recomprar ações.
Nos últimos 10 anos a Apple gastou US$550 bilhões comprando suas próprias ações. Essa prática reduz a quantidade de ações no mercado, ajudando a inflar o preço das ações que sobraram.
A Apple, porém, é uma empresa bastante conservadora em inúmeros quesitos. Além de poucas aquisições comparados a outras gigantes (como a Microsoft que pagou US$68,7 bilhões pela Blizzard), a Apple também costuma contratar bem menos funcionários do que outras techs.
Uma das principais razões das elevadas demissões que atingem hoje cerca de 6% do total de funcionários no setor, está no fato de que entre 2016 e 2021, o setor de tech aumentou em 100% seu total de funcionários.
Apenas as 5 maiores empresas de tech, excluindo a Amazon (que possui 1,6 milhão de funcionários por conta de pessoas que trabalham em armazéns e outras áreas não-tech), contratam mais de 300 mil pessoas.
Agora, em meio a queda de 20% no índice que mede o setor de tecnologia nos EUA em 2022, com casos de até -70%, como Facebook e Tesla, investidores têm pressionado as empresas a rever estes custos.
Do ponto de vista do investidor, o caso faz sentido quando considerado o valor da economia ao longo do tempo.
O Google, por exemplo, reduziu em US$2,5 bilhões seus custos ao demitir 12 mil funcionários. Isso seria o equivalente a um aumento de US$12,5 bilhões na sua receita.
Quando consideramos que o Google vale 18 vezes seu lucro, estes US$2,5 bilhões passam a valer US$47 bilhões.
Em 6 de dezembro, o TCI, um hedge fund que é dono de 0.5% das ações do Google, enviou uma carta aberta ao CEO da empresa, Sundar Pichai, alegando que as demissões eram necessárias.
Há algumas justificativas macroeconômicas para as demissões, como um aumento da taxa de juros que encarece o dinheiro, a expectativa de uma recessão nos EUA que diminui a demanda e assim por diante, mas isso não é tão relevante no momento.
O fato é que as companhias de tecnologia nos EUA tornaram-se tão grandes que cada US$1 em gastos, equivale a um valor absurdo no longo prazo. Os mercados que serão atingidos nos próximos anos por sua vez, não irão crescer tanto quanto na última década.
Além disso, a competição está aumentando significativamente.
Se antes publicidade online, um mercado de US$200 bilhões, era sinônimo de Google e Facebook, hoje a Amazon já abocanhou ao menos 15% do mercado, e a Microsoft espera levar uma parte também.
Acionistas, que como eu e você, pensam nos seus próprios interesses (ou no interesse da classe de acionistas), vêem este aumento da competição demandar posturas mais conservadoras.
Uma consequência extra deste aumento de competição, porém, é que as Big Techs terão de entrar em outros mercados, como saúde e finanças.
Nesta semana a Amazon anunciou um plano de US$5 que permite a qualquer membro Prime comprar medicamentos online sem gastos com frete.
Como o professor da NYU Scott Galloway costuma dizer “quando você é uma empresa de US$1 trilhão de dólares e deseja continuar crescendo, sua única chance é entrar em outros mercados trilionários”. O setor de saúde nos EUA movimenta US$3.5 trilhões, ou duas vezes o PIB brasileiro.
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