Devastada por uma crise digna de países em guerra, a Venezuela enfrenta os graves efeitos da pandemia em meio a uma hiperinflação que ultrapassou 500.000% em 2020 e já acumula alta de 222.914.583.912,34% desde o começo da crise monetária, em 2016.
Com o desemprego estimado para atingir 58.4% da força de trabalho do país no final desse ano, a Venezuela se tornou o exemplo global de catástrofe econômica e social. Para se ter ideia, o país latinoamericano consegue ter mais desempregados que a Síria, que observa aproximadamente 50% da sua mão de obra ociosa em meio à devastação da Guerra Civil que já dura uma década.
Em profunda desestabilização econômica, venezuelanos fazem o possível para sobreviver em um país que não tem mais moeda corrente. Assim como a grande maioria dos latino-americanos desde a década de oitenta, os moradores da república bolivariana vem recorrendo ao dólar em momentos de rápida hiperinflação.
Esse processo de dolarização vivenciado na Venezuela vem provocando um efeito adverso curioso: a economia do troco. Alguns venezuelanos, como Carlos Ramos, saem de casa todos os dias dispostos a arbitrarem o dólar para diluir trocados na economia do país.
Com 18 notas de $1 dólar na mão, Carlos Ramos grita no mercado de Catia, um dos maiores de Caracas, esperando alguma oferta de $20 por seu trocado.
A ideia parece confusa, mas é simples. Sofrendo com a alta dos preços, venezuelanos começaram a utilizar a moeda norte-americana para quase todas as transações diárias. O movimento natural foi inicialmente mitigado pela Ditadura de Maduro, mas, em meio ao inevitável, o governo do país cedeu à dolarização irregular da economia.
Com a crescente demanda por dólar no país e a dificuldade cada vez maior de se conseguir pequenas notas da moeda americana, o troco passou a ser um artigo de luxo na economia venezuelana.
A passagem de ônibus em Caracas, por exemplo, custa $17 centavos. Para realizar o pagamento, o morador precisa ter uma moeda de $25 cents e aceitar que o trocador do ônibus não lhe dará os $8 centavos de troco.
O valor pode soar irrisório para qualquer brasileiro, mas para venezuelanos cada centavo conta. Em mais uma recente guinada populista, Maduro aumentou o salário mínimo do país para $3.71 por mês, o que, por si só, gerou uma situação trágica.
Vamos supor que você é um venezuelano empregado (coisa rara) e ganha apenas um salário para desempenhar sua função. Se todo dia útil você utilizar duas moedas de $25 cents para ir e voltar do trabalho (sem receber o troco), no final do mês você terá perdido aproximadamente 99% do seu salário apenas em trocados no ônibus. Isto, claro, excluindo da conta o preço da passagem que, ao final do mês, custaria 210% do seu salário.
Demanda crescente por Bitcoin
De acordo com pesquisa ampla realizada pela Chainalysis, a Venezuela vem se destacando na adoção do Bitcoin em relação ao seu tamanho populacional. Durante 2020, por exemplo, muitos venezuelanos utilizaram plataformas mexicanas para comprar o criptoativo.
De acordo com o analista de pesquisa da Coindesk, Duy Nguyen, se ajustado pelo PIB, o criptomercado P2P venezuelano é, pelo menos, duas vezes maior que o segundo maior mercado do mundo, a Nigéria (outro país que sofre forte desconforto inflacionário há mais de uma década).
Vale ressaltar que esses números são referentes a 2019, quando o Bitcoin valia R$28 mil e o valor de mercado da indústria blockchain ainda não alcançava $2 trilhões de dólares.
Os números do mercado venezuelano assustam, mas segundo Gabriel Jiménez, empresário venezuelano de blockchain que liderou o desenvolvimento da Petro, falida stablecoin nacional, empresas venezuelanas têm utilizado o BTC como meio para obter moedas estrangeiras como o dólar.
Afinal, nem mesmo uma hiperinflação e uma hecatombe econômica conseguem ensinar o latino-americano a proteger seu patrimônio de emissões monetárias descontroladas.
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