Quando falamos de Bitcoin, só existe uma coisa mais famosa do que a revolucionária tecnologia que o faz funcionar: seu preço. As manchetes de veículos tradicionais adoram quando o valor da criptomoeda sobe ou cai vertiginosamente. O que muitos esquecem de noticiar, no entanto, é que todo esse ciclo teve início em 2010 com um programador na Flórida.
Laszlo Hanyecz é autor do que se considera a primeira compra na história feita com bitcoins. Há 10 anos, precisamente no dia 18 de maio, ele veio a público oferecer 10 mil bitcoins como recompensa a quem lhe enviasse 2 pizzas grandes. O anúncio foi feito por meio de um post no fórum BitcoinTalk, então principal canal de troca de mensagens de entusiastas da tecnologia.
A PRIMEIRA COMPRA
Pouco tempo depois, alguns usuários demonstraram aprovar a ideia, mas encontraram dificuldades logísticas em atender o desejo de Laszlo. Até que 4 dias depois, em 22 de maio, Laszlo revela que a proposta havia sido bem-sucedida.
O estudante Jeremy Sturdivant havia visto o anúncio e entrado em contato com ele por mensagem, usando o IRC. Após pegar seu endereço, enviou duas pizzas grandes para a residência de Laszlo em Jacksonville, na Flórida, a milhares de quilômetros de onde vivia, em Santa Cruz, Califórnia.
Laszlo ficou tão entusiasmado em poder receber pizzas sem esforço usando o dinheiro mágico da internet que, após o sucesso da primeira compra, reiterou que o mesmo poderia ser feito por qualquer outro usuário.
Enquanto ele tivesse bitcoins (os quais afirmava ter em grande quantidade), aceitaria que outras pessoas lhe enviassem 2 pizzas em troca de 10 mil bitcoins. Ainda que o caso pudesse parecer inocente à época, tratava-se de um fato que mudaria para sempre a história do Bitcoin.
Pela primeira vez, ao ser usado numa transação real em mercado aberto, era possível estabelecer uma cotação para o BTC. Se o custo das pizzas somado ao envio girava em torno de 30 dólares, a recompensa de 10 mil BTCs estipulava o valor unitário do criptoativo em impressionantes U$ 0,003.
Uma curiosidade interessante que evidencia a popularização do Bitcoin e o crescimento em seus mercados desde então pode ser vista na imagem a seguir, em informação que circula pelo Twitter. Ela revela a evolução na cotação do BTC, tomando como referência o preço da moeda no dia 22 de maio de cada um dos últimos dez anos.
A DINÂMICA DE PREÇOS DO BTC
Essa variação positiva, com forte tendência de alta a longo-prazo construída com o passar dos anos, é fruto da dinâmica de preços do BTC em mercado aberto. Sem intervenções externas como a de governos em suas respectivas moedas nacionais, o bitcoin se comporta como uma espécie de “ouro digital”.
Assim como o metal precioso, mas com a pujança de um mercado que é altamente tecnológico, o preço da criptomoeda muda exclusivamente em função de variações nas forças de oferta e demanda.
Temos uma oferta que é reduzida em ritmo acelerado com o passar dos anos, processo conhecido como halving, que faz com que no Bitcoin a inflação esteja sempre tendendo a zero. Até que se chegue em inflação zero, pois estamos diante de um ativo com rigidez monetária estipulada no nível do protocolo técnico, assegurando que nenhuma unidade a mais seja criada após atingirmos a marca de 21 milhões de BTCs gerados.
Se os princípios econômicos nos ensinam que o valor é subjetivo e sua percepção é alterada principalmente pela escassez e a utilidade de um bem, a questão da escassez já parece muito bem definida no Bitcoin, permitindo que seu potencial de valorização cresça com o tempo.
Já pela ótica da utilidade, podemos enxergar no Bitcoin uma tecnologia que avança a cada dia, sendo útil a um espectro cada vez maior de usuários, os quais podem inclusive apresentar demanda crescente pelo criptoativo.
UM POSSÍVEL FUTURO DO BITCOIN
O próprio Satoshi Nakamoto, criador do protocolo, apontou o que chamava de self-fulfilling prophecy, enfatizando alguns comportamentos de mercado que, combinados ao modo como o Bitcoin foi programado para funcionar, poderiam gerar um ciclo econômico virtuoso em torno do ativo. Alguns exemplos disso podem ser extraídos do uso da tecnologia como meio digital de pagamentos e reserva de valor.
Uma rede, seja ela social ou de pagamentos, tem seu valor crescendo exponencialmente na medida em que cresce o número de usuários que possui. Ou seja, assim como uma rede social, uma rede de pagamentos é muito mais útil para novos entrantes e para quem já faz parte dela quando se trata de 1 milhão de usuários ao invés de mil.
Isso nos mostra que quanto mais pessoas se habilitam a enviar e receber bitcoins, o que tem ocorrido na medida em que a tecnologia cresce em facilidade de uso, maior o valor do Bitcoin enquanto sistema. O mesmo fenômeno aparece quando falamos da utilidade do BTC para reserva de valor, a fim de que se possa poupar dinheiro para uso futuro comprando moeda digital, na expectativa de que a longo-prazo o poder de compra daquele montante seja mantido ou ampliado.
Se no passado recente a capitalização de mercado de todos os bitcoins em circulação já foi de 1 milhão de dólares, anos depois saltando para 1 bilhão de dólares e hoje já ultrapassa os 150 bilhões de dólares, podemos ver que o Bitcoin ao mesmo se tornou mais útil para essas pessoas e mais atrativo para futuros entrantes. Afinal, se hoje há fundos institucionais alocando milhões de dólares em bitcoins é porque a liquidez existente tornou isso possível.
É esse o ciclo virtuoso de que Satoshi falava e que parece se materializar de forma cada vez mais concreta no mercado e na tecnologia em torno do criptoativo. Cada novo usuário no Bitcoin torna o sistema melhor, mais útil e potencialmente mais valioso para si e para os outros.
É, no mínimo, algo muito distante do que historicamente ocorreu com boa parte das moedas nacionais mundo afora. Por isso, considerar o BTC uma forma de diversificação e proteção vem sendo apontado por um número crescente de analistas como algo não apenas possível, como desejável, em diversos portfólios.
*Este artigo não é uma recomendação de investimento.
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