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Investimentos

Porque o Real é a shitcoin suprema

Uma altcoin utilizada por mais de 200 milhões de usuários tem chamado a atenção por promessas de inovação. Até o momento, porém, não passa de especulação.

Criada em 1 de julho de 1994, o Real brasileiro carrega em seu nome uma referência a uma das moedas mais conhecidas da história: o Real de 8.

Ao contrário do parente distante, porém, o Real brasileiro está longe de qualquer ligação com o metal precioso que garantiu a vigência do Real de 8 por 372 anos, a Prata.

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Durante todo este período, o real de 8 (divisível em 8 avos, ao invés de 100 como os centavos), foi a moeda referência do comércio internacional. Seu outro nome: o dólar espanhol, também inspirou uma conhecida moeda atual que você talvez conheça.

A era dos metais, porém, ficou pra trás. A Prata logo ficou de canto, e por um determinado período, o ouro reinou sozinho (provocando um empobrecimento de países que largaram o uso da Prata por último, como a Índia e a China).

Nos dias atuais, as “moedas fiat”, uma abreviação de “fiduciário” (confiança em Latim), abdicaram por completo da ideia de lastro.

Essa, porém, é uma história global sobre o dinheiro. Em se tratando de Brasil, o lastro em metais existiu por um raro período durante o segundo reinado e o governo Campos Salles (o presidente mais reformista da história do país e de quem você dificilmente ouviu falar na escola).

Por aqui, a impressão de dinheiro como forma de financiar gastos públicos foi o padrão.

Outra parte, essa sim que você tenha visto na escola, explica bem o caso: o encilhamento.

Neste período, logo no início da República, a impressão de dinheiro foi feita para garantir uma industrialização forçada, além de aumentar o consumo, e acalmar a instabilidade política. Largamos ali o padrão ouro (em 1889).

O resultado, claro, foi um aumento de golpes com o crédito fácil, além da inflação nunca antes vista. Como consequência, Rui Barbosa, o ministro da economia, se demitiu, deixando o país em caos que levaria Floriano Peixoto a criar nossa primeira ditadura.

Campos Salles, o presidente que sucedeu Floriano, limpou a bagunça, cortando o orçamento público em 25%, privatizando ferrovias, e renegociando a dívida externa com os Rothschild, além de voltar com o padrão ouro como mencionado acima.

O período seguinte, de Rodrigues Alves, se deu em um país com as contas saneadas, moeda revalorizada e… um boom de commodities. Rodrigues Alves implementou então um “PAC”, com obras por todo o país e em especial na capital, o Rio de Janeiro.

Mas isso é apenas história e histeria brasileira, o que então o Real tem a ver com isso? E afinal, o que é uma shitcoin?

Começando do final, uma shitcoin é um termo carinhoso (ou não), utilizado por maximalistas em especial, para se referir a altcoins (moedas que não o Bitcoin), que não possuem qualquer fundamento.

Em resumo, Shitcoins possuem governança centralizada, emissão sem controle, ausência de transparência, inflação elevada, poucos casos de uso, dificuldade em conversão e via de regra não possuem qualquer incentivo para que seus usuários promovam inovação.

Este é, por exemplo, o caso da DogeCoin, a moeda meme do cachorrinho.

Não há qualquer utilização prática para uma DogeCoin que não a espera para que outras pessoas paguem mais caro por ela.

E de volta ao início, não é difícil entender porque o Real brasileiro se enquadra nessa categoria.

Desde 1994 o Real perdeu 85,6% do seu valor para a inflação. Seu controle é centralizado, em uma decisão que cabe ao Conselho Monetário Nacional.

Nos últimos 27 anos, a base monetária subiu de R$25 bilhões para R$615 bilhões.

A transparência, porém, não é das maiores. As decisões sobre o futuro da moeda ocorrem à porta fechada, com atas que levam apenas à especulação sobre o valor futuro.

Sobre os “use cases”, em suma, o que a base monetária projeta, também não há muito com o que se animar. A produtividade brasileira está completamente estagnada.

Pela maior parte do período, as taxas cobradas por quem “holda” a moeda, foram absurdamente elevadas, criando um custo de transação extremamente elevado e que empobreceu aqueles que desejam entrar nessa altcoin.

O emissor paga todos os anos R$440 bilhões apenas a título de remuneração por quem detém grandes quantidades dessa coin. Chamam de “juros da dívida”, mas essa também é questionável.

Os gastos da fundação que controle a coin continuam crescendo, o que eleva os custos para seus usuários.

Há, claro, casos de uso, muitos deles concentrados em uma invenção chamada de “CeFi”, uma sigla para “Finanças Centralizadas”. Em resumo: um grupo amigo da fundação que criou a moeda costuma operar e ganhar uma grana com taxas de quem não possui muitas moedas mas precisa operar usando a rede.

A volatilidade da  moeda também preocupa. Em apenas um ano a coin perdeu 40% do seu valor comparado a altcoins famosas, como o dólar. Nos últimos 5 anos o valor em Bitcoin caiu algo próximo de 98%!

Seus desenvolvedores, entretanto, continuam confiantes de que a inovação poderá salvar a tal moeda. Recentemente implementaram um sistema de “transações instantâneas”, uma prática também alegada como diferencial de Criptos como a Nano, por exemplo.

Até o momento essa atualização, chamada de “PIX”, não permite conversões em outras Criptos

Os desenvolvedores prometem ainda que o modelo de “proof-of-stake”, onde quem possui maior quantidade de moeda manda na rede, será um dia substituído pela “proof-of-work”, que remunera quem sustenta a rede de acordo com o que agrega a ela.

São promessas antigas entretanto. Aos investidores ainda interessados neste protocolo, boa sorte!

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