Cerca de 1h de carro saindo de Fortaleza em direção ao norte, é possível encontrar um dos locais que, a despeito de ainda pouco badalado, promete se tornar um hub global na nova economia, o Porto do Pecém. É por lá que ao menos 5 grandes empresas já se comprometeram a investir R$90 bilhões, ou 60% do PIB da economia cearense, para produzir “hidrogênio verde” no Brasil.
O hidrogênio tem sido uma das apostas mais relevantes do mundo rumo à descarbonização em 2050. Segundo estimativas das Nações Unidas, o produto, fruto da separação da molécula de água (a famosa H2O), deve movimentar $2,5 trilhões por ano em 2 décadas.
A aposta possui uma razão bastante simples. O hidrogênio é por larga distância mais eficiente do que os combustíveis fósseis em geração de energia, além de mais barato.
Para isso, porém, é preciso mudar a própria maneira de produção do hidrogênio, que possui ao menos 3 definições: o cinza, produzido com combustíveis fósseis, o azul, produzido com captura de carbono, e o verde, produzido com energias renováveis.
O terceiro é ainda o mais caro, com custo de cerca de $5 por Kg, contra $1-3 do hidrogênio criado com uso de combustíveis fósseis. Em boa medida, os custos decorrem ainda de uma baixa escala de produção.
Mudar essa realidade é a aposta de inúmeras startups, e de gigantes de tecnologia, como a australiana Energix.
A empresa promete produzir 600 mil toneladas de hidrogênio verde em Pecém, com investimento de $5,4 bilhões, uma quantia significativa que deve levantar 3,3 Gw de energia solar e eólica (15% da capacidade brasileira hoje nas duas fontes), apenas para sustentar a usina.
O resultado equivale, em uma conta simples, a cerca de 2,55 bilhões de litros de gasolina, considerando que 1kg de hidrogênio produz o mesmo que 3,2 kg de gasolina (e 1kg de gasolina a 1,35l).
Na prática, com o kg do hidrogênio verde custando hoje por volta de R$27,5 no Brasil, temos o combustível que emite 0g de CO2 custando o mesmo que R$6,47 em gasolina.
A questão, claro, é que o hidrogênio ainda está no início de sua produção em escala global, e há quem aposte que ele possa custar até 5 vezes menos. Na prática, um combustível abundante que poderia substituir gasolina, diesel e carvão, os maiores vilões das emissões de CO2.
Essa tem sido uma aposta que une fundos de investimentos como o Breakthrough Ventures de Bill Gates a nomes como a CSN, a Companhia Siderúrgica Nacional, que aposta no hidrogênio verde para zerar suas emissões de carbono em aço e cimento (a produção de cimento é hoje responsável por ⅕ das emissões globais de CO2).
Um pouco mais ao sul, em Suape, há outro projeto também bilionário, o da francesa Qair, que prevê produzir outras 260 mil toneladas por ano.
Para colocar em perspectiva, o mundo produziu em 2019 cerca de 360 mil toneladas de hidrogênio verde e azul, e deve produzir em 2030 cerca de 7,3 milhões de toneladas.
Os projetos brasileiros equivalem a mais de 20% da expectativa de aumento na oferta, e ainda sim, é apenas uma fração do demandado.
Atualmente o mundo consome 72 milhões de toneladas de hidrogênio em processos químicos e siderúrgicos, praticamente todo vindo do hidrogênio cinza. Apenas nesse processo há uma emissão de 720 milhões de toneladas de CO2, o equivalente a Inglaterra e a Indonésia somadas.
Até o momento, porém, a expectativa é de que este hidrogênio produzido por aqui seja inteiramente exportado, daí a prevalência de hubs portuários próximos a europa.
A expectativa é de que a União Europeia deve investir cerca de 60 bilhões de euros em hidrogênio verde até 2030, com parte destes recursos indo para países parceiros que possam fornecer o combustível ao velho continente.
Isso ocorre, pois, para gerar 1Kg de hidrogênio verde, é preciso consumir ao menos 9 litros de água.
Ao todo, o Brasil possui ao menos $22 bilhões em investimentos já prometidos em 3 hubs de hidrogênio verde, incluindo ainda o Porto de Açu no Rio de Janeiro.
Quando concluída, a planta da Energix deve gerar um boom na pauta exportadora cearense, podendo sozinha aumentar em 2 vezes o total exportado pelo estado.
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