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Investimentos

Entenda o “V de Nike” de Paulo Guedes e como ele deve impactar o seu bolso

Ainda em maio, em live com representantes do setor de serviços, Paulo Guedes, Ministro da Economia, que vem se tornando especialista em alegorias fantásticas sobre o final da crise, afirmou que ainda acredita em um retorno da atividade econômica em V, mas em um “V de Nike“. O Ministro explicou o termo recém-cunhado como uma […]

Ainda em maio, em live com representantes do setor de serviços, Paulo Guedes, Ministro da Economia, que vem se tornando especialista em alegorias fantásticas sobre o final da crise, afirmou que ainda acredita em um retorno da atividade econômica em V, mas em um “V de Nike“. O Ministro explicou o termo recém-cunhado como uma “economia que cai meio rápida, sobe meio devagar e fica pouco tempo no vale da recessão”.

A tese de Guedes é simples: gastos tempestivos para conter a pandemia, ainda neste ano, não poderão se tornar em gastos obrigatórios nos próximos anos. Após um conflito interno travado com o Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, acerca da implementação do custoso Pró-Brasil, muito se questionou sobre as tempestividades tão anunciadas pelo Ministro da Economia.

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No entanto, ao que tudo indica, a ala fiscalistas do governo venceu a guerra de narrativas e, agora, a equipe econômica ressoa para a necessidade de ampliação da agenda de reformas no pós-pandemia.

Mas como nem todos os arranjos sempre são flores, em poucas semanas, o próprio Ministro da Economia anunciou um redesenho no Auxílio Emergencial. Renomeado para Renda Brasil, 0 programa deve se transformar em um Super Bolsa Família, mas dessa vez ampliado aos autônomos da economia de bicos ou, praticando anglicismos desnecessários, gig economy.

A ideia do Renda Brasil vem em um momento fiscalmente delicado para a economia brasileira. A Reforma da Previdência, aprovada no ano passado, deverá realizar uma economia de aproximadamente R$ 800 bilhões em dez anos. No entanto, a maior redução de gastos obrigatórios da história deste país vem sendo completamente dilacerada pelo déficit fiscal de quase R$ 700 bilhões que nos aguarda em dezembro de 2020. Isso se a pandemia não piorar, claro.

Para fechar o pote de incertezas, ainda não se sabe ao certo qual será o custo anual do “tempestivo” Renda Brasil a partir de 2021. Tampouco compreendemos sobre suas possíveis consequências no “V de Nike” tão ventilado por Guedes. Muito por conta disso, a ala fiscalistas do governo, que atualmente parece se alinhar ao Presidente Bolsonaro, promete duas reformas de produtividade para o ano que vem:

  • Reforma Administrativa: ensaiada em governos de direita no passado, reformas dessa estirpe costumam enfrentar grandes dificuldades de aprovação em um congresso capturado por interesses escusos. O governo, no entanto, tem parte do Centrão ao seu lado e, apesar da difícil tarefa, pode ser bem sucedido na tentativa.
  • Reforma Tributária: tema favorito em qualquer mesa de bar, a reforma buscará financiar e reestruturar a linha de proteção social brasileira. A ideia é que, com o eventual retorno da demanda e com redução na carga de impostos, a arrecadação se torne mais eficiente.

O objetivo do governo, após essas duas reformas, é transformar o Renda Brasil numa espécie de Imposto de Renda Negativo, clássica ideia do liberal Milton Friedman. No entanto, o ministro Paulo Guedes ainda precisa conciliar sua tese de uma robusta retomada econômica com seus novos gastos obrigatórios.

A distância entre Faria Lima e Brasília

Com tantas dificuldades econômicas, três variáveis distintas parecem evidenciar um descolamento da Faria Lima, centro financeiro do país, de Brasília: o avanço da pandemia, o rally do Ibovespa e os dados reais da economia.

Comecemos pelo lado real da economia. Ontem foi divulgado que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 9,73% em abril, na comparação dessazonalizada com março. Essa foi a maior queda já registrada pelo índice e, economistas do Banco Central, já enxergam contração do PIB entre 10% e 15% no segundo trimestre de 2020. Além disso, já se ventila que a razão entre dívida/PIB deve alcançar um patamar entre 90% a 100% do Produto Interno Bruto ainda esse ano.

Claro que esses números são atualizados frequentemente e, em épocas de grande incerteza, a capacidade de capturar com exatidão as variáveis econômicas costuma ser reduzida. Não a toa, mesmo com a maior desvalorização cambial da história da redemocratização, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou deflação de 0,31% em abril e 0,38% em maio. Os dois menores resultados registrados desde maio de 1998.

A segunda variável é o rally do Ibovespa. Após ser derrubado por seis circuit breakers, e alcançar os 63 mil pontos em fevereiro, o principal índice da Bolsa de São Paulo vem apresentando uma recuperação histórica: 51,8% de alta em menos de quatro meses.

Outro recorde interessante inaugurado pela B3 em 2020 foi o de fuga de capitais internacionais. Até o fechamento desta matéria, um saldo de R$ 54,7 bilhões já haviam sido resgatados por investidores estrangeiros do mercado acionário brasileiro em 2020. Isso após o saldo negativo de R$ 164 bilhões desinvestidos em 2019. O momento é tão peculiar que obrigou Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central, declarar no apagar das luzes do ano passado que: “a festa é boa, mas a festa é nossa”.

A maxi-desvalorização do Real

E a festa é nossa justamente porque o Dólar precisou apenas de 134 dias em 2020 para sair de R$ 4,02 e alcançar inimagináveis R$ 5,97. Além disso, a volatilidade da nossa moeda fiduciária impressiona. 25 dias depois do câmbio atingir a maior cotação da história do Real, o valor do Dólar já havia recuado para R$ 4,85. 11 dias depois, já no fechamento deste texto, a moeda norte-americana estava sendo cotada em R$5,30.

O fato é que países emergentes sempre sofreram com o câmbio, especialmente em momentos de grande incerteza internacional. Considerando que a cada quinze anos, ou algo assim, uma surpresa bate à nossa porta e um choque externo balança nossa economia, é compreensível visualizar que a tese de um suposto ativo “sem risco” no Brasil é inexistente. Se o seu patrimônio está alocado em reais, seja na Renda Fixa ou na Renda Variável, você está exposto.

Mas ainda bem que os tempos são outros. Na ausência de autocrítica das principais instituições do mercado tradicional que se alimentaram, e ainda se alimentam, das enxurradas de liquidez geradas por quase doze anos de Quantitative Easings (QEs), surgiram como alternativa de diversificação os criptoativos.

Os ativos digitais criptografados, antes mesmo de trazerem consigo as inovações de confiabilidade da tecnologia blockchain, funcionam como forma de emancipação e proteção a um sistema monetário internacional doente e inflacionário.

Parece exagero? De 1º de janeiro de 2020 até o fechamento desta matéria: o Bitcoin, principal criptoativo do mercado, apresentava ganhos de 12% frente ao ouro, 31% frente ao dólar e de 72% frente ao real. Simples assim.

O fato é que o “V de Nike” de Paulo Guedes é incerto. Ainda mais após o alargamento do canal fiscal entre o Banco Central e o Tesouro Nacional. Separar políticas fiscais de políticas monetárias se tornou um sonho irreal no Brasil. Restam aos Farialimers compreenderem duas lições bem simples: i) A logo da Nike não é um V, mas sim um L deitado. ii) O dono da impressora é e sempre será o último a se dar mal.

*Este texto não é uma recomendação de investimento.

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