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Economia

A pandemia pode dar o empurrão que faltava pra privatização dos Correios

À medida que o varejo avança, a operação dos Correios fica cada vez mais insustentável. A XP Investimentos anunciou, durante este mês de junho, a intenção de iniciar uma política permanente de home-office. Segundo ebook distribuído para os seus colaboradores, a maior corretora do Brasil irá construir um campus no interior de São Paulo, mas […]

À medida que o varejo avança, a operação dos Correios fica cada vez mais insustentável.

A XP Investimentos anunciou, durante este mês de junho, a intenção de iniciar uma política permanente de home-office. Segundo ebook distribuído para os seus colaboradores, a maior corretora do Brasil irá construir um campus no interior de São Paulo, mas seus funcionários poderão trabalhar diretamente do conforto de suas casas.

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A iniciativa da XP é um claro indício da principal mudança no mundo pós-pandemia: ficaremos mais tempo em casa, realizaremos mais compras online e necessitaremos ainda mais de serviços de entrega.

E não dependeremos apenas de empresas como o Rappi, Loggi, Uber Eats e iFood que, recentemente, até juntaram forças e anunciaram uma parceria de logística com a Prefeitura de São Paulo, ao menos enquanto durar a pandemia.

Não. Neste novo mundo, passaremos a depender também das entregas inter-municipais. E já não é mais uma questão conjuntural, mas sim uma mudança de estrutura. À medida que ficamos mais tempo em casa, os nossos padrões de consumo se modificam. Não é por menos que o setor de e-commerce vem reduzindo os prejuízos do varejo ao longo do 1º semestre de 2020.

No entanto, como todo avanço tecnológico no Brasil, entraves infraestruturais, logísticos e burocráticos se tornam barreiras para viabilização das vendas online. E, se estamos falando de e-commerce, é impossível não mencionar o elefante analógico na sala: a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).

O serviço prestado pelos Correios nunca foi dos mais elogiados dentre as Estatais brasileiras. Escapando por pouco da privatização no final da década de noventa, a empresa se tornou sinônimo de ineficiência e desconfiança dentre a população. E como tudo sempre pode piorar no serviço público, com a alta demanda do varejo online em meio a pandemia, os Correios não conseguiram lidar com o volume crescente de entregas.

Em maio, inclusive, a empresa foi tema de investigação no Procon-RJ acerca dos atrasos, dos extravios e das avariações que diversas encomendas apresentaram durante o período de calamidade pública. E aqui já não fica tão difícil de visualizar o gargalo que a nossa antiquada ECT vem construindo para a logística do futuro do varejo brasileiro.

O que significa o monopólio dos Correios

Antes de destacar motivos pelos quais os Correios deveriam ser privatizados, é importante remover alguns ruídos da discussão. O mais clássico de todos é a bravata sobre o monopólio de entregas. De fato a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos detém monopólio legalizado pelo Supremo Tribunal Federal, no entanto, a ECT é monopolista apenas de cartas, cartões postais e correspondências agrupadas.

Só que, convenhamos, o nosso problema com os Correios não é bem esse. A grande questão sempre foi com o monopólio de encomendas, mas o mesmo foi legalmente derrubado ainda em 2009. Em uma ação histórica iniciada em 2003, a Associação Brasileira de Distribuição (Abraed) conseguiu que empresas privadas adentrassem, agora de forma legal, no mercado de logística varejista.

Então por que continuamos odiando os Correios? Bom, em 1978, enquanto a Seleção brasileira era garfada em território argentino, Ernesto Geisel promulgava a Lei Nº 6538/78. Em seu artigo 42, a legislação proibia, com detenção prisional de até dois meses, que qualquer empresa violasse o privilégio do monopólio postal da União.

E assim, protegidos por lei, os Correios se tornaram espectadores estáticos de décadas de inovação. Primeiro observaram a chegada da internet no Brasil, depois viram a popularização dos cartões, em seguida o crescimento do varejo online e, mais recentemente, o nascimento de novos meios de pagamento descentralizados construídos em blockchain.

Durante as últimas quatro décadas, a ECT não fez muito. Nada além de enraizar sua cadeia de distribuição e alcançar todos os lugares do Brasil. Isso ao mesmo tempo em que expandiam sua missão, quase isonômica, de realizar entregas da forma mais ineficiente possível. Como se já não bastasse, a capilaridade dos Correios aumenta o custo de investimento para novos players adentrarem em regiões mais remotas do país.

E é exatamente por isso que odiamos os Correios. Porque, embora algumas regiões do Brasil observem um bom ambiente concorrencial na logística de encomendas, na maior parte do território nacional a variedade de opções, na verdade, são apenas duas: PAC ou Sedex.

Como melhorar a logística de entregas

O estrago de todo e qualquer monopólio apenas pode ser observado no instante em que ele é quebrado. Em 2009, o Brasil era repleto de empresas de logística, mas nenhuma com escalabilidade para concorrer de forma justa contra a gigante adormecida ECT.

Apesar de Luís Inácio ter iniciado uma campanha contra “entulhos autoritários” do Regime Militar, parecia não haver vontade política para universalizar a concorrência no setor de logística de encomendas no Brasil.

O abandono do setor foi reforçado quando sua sucessora, Dilma Rousseff, assumiu a presidência em 1º de janeiro de 2011. Ao mesmo tempo em que a Presidenta elegia seletas empresas para entrarem no rol das Campeãs Nacionais, Dilma também fazia questão de sacar seu dicionário de Utopias e regulamentar minuciosamente o efêmero ao promulgar a Lei Nº 12.741/12.

A legislação estabelecia tributos e burocracias esdrúxulas ao cambaleante setor de e-commerce brasileiro. Quem não viu sua pequena empresa quebrar na época, teve que se acostumar ao novo normal: ICMS na UF de origem e na UF de destino, extensos formulários tributários e aumento dantesco nos custos de seus produtos.

No entanto, a principal característica do futuro é que ele é inevitável e lentamente o setor privado foi encontrando soluções para seus próprios problemas. Os primeiros desafios foram trazer seguranças institucionais ao e-commerce ao reduzir os riscos de calote, não receber o produto ou mesmo se perder nas políticas de devolução.

O Mercado Pago, solução de serviços financeiros do Mercado Livre, por exemplo, garante a segurança do comprador ao cobrir 90% do valor da compra em casos de fraude. Inclusive, recentemente lançou novas soluções de crédito para empreendedores e consumidores em meio à crise econômica.

Além disso, antes da pandemia, a Amazon, gigante internacional do setor, já havia inaugurado seu primeiro centro de distribuição em território brasileiro e se preparava para construir um segundo armazém no Pernambuco para sustentar o lançamento do Amazon Prime, seu serviço de entrega de encomendas, no Brasil.

Por isso, atualmente, os Correios precisam concorrer contra empresas altamente capitalizadas: Magazine Luiza (R$ 100 bilhões em valor de mercado), Mercado Livre (R$ 240 bilhões) e Amazon (R$ 7,8 trilhões). Isso para não entrarmos no mérito da queda de juros e o acesso ao crédito mais barato.

Com estes recursos, as empresas fornecem aos lojistas uma solução integrada: investem em marketing que gera tráfego para suas lojas, criam centros de distribuição pelo país e ainda conseguem oferecer serviços financeiros, como antecipação de recebíveis, fundamental para pequenos lojistas que se aventuram no comércio online.

Mesmo com os avanços da categoria, é quase impossível estimar o tamanho exato da participação do e-commerce no varejo brasileiro, mas especialistas do setor apontam que, antes da crise, entre 4% e 5% de todas as compras realizadas no Brasil eram feitas online. E, de acordo com varejistas, a participação do setor pode alcançar até 15% nos próximos dois anos. Contudo, ainda estamos longe dos 30% de compras online realizadas na China, 18% nos Estados Unidos e 11% no Reino Unido.

O fato é que à medida que adentramos no século XXI, o e-commerce vai se tornando uma realidade cada vez mais latente. Até por isso, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) vem sentindo uma queda no fluxo durante a pandemia, enquanto os gigantes varejistas da internet vem apresentando recordes de vendas.

A privatização dos Correios já não é mais uma questão política, é uma questão de necessidade. Precisamos tornar funcional o maior player do mercado de logística brasileiro. A UPS, por exemplo, está interessada em comprar partes dessa desestatização e entrar com força no mercado brasileiro.

Em um estado de calamidade pública onde o medo da incerteza virou apenas medo, o comércio digital está próspero, a nossa maior distribuidora está ineficiente e todos nós estamos em casa, ávidos por retomar a demanda em um click de cada vez.

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