Desde o crash das bolsas na semana de 13 de março de 2020, o Bitcoin acumula uma alta de 1448%. As razões para a alta em um momento de queda na economia são as mais variadas.
Foi em 12 de setembro que James Dimon, CEO do JP Morgan declarou sua opinião mais contundente sobre o Bitcoin: uma fraude!
Naquela ocasião, o Bitcoin estava em meio ao seu bull market. Tratava-se de um hype, o que torna sua frase ainda mais icônica. Em janeiro de 2017, cotado a $1003, todo o ecossistema do Bitcoin equivalia a algo próximo de $14 bilhões, ou o mesmo valor que o governo americano garantiu 9 anos antes para o JPM evitar a falência.
Ao final do ano, o Bitcoin chegaria a $20 mil, uma alta de quase 2000% em um ano. No Brasil, o preço atingiu incríveis R$70 mil.
As razões na época eram inúmeras, mas o crescimento do mercado institucional se destacava. Na ocasião da máxima histórica, o Bitcoin estava às vésperas de entrar na CBOE, a Bolsa de mercadorias de Chicago. Uma mudança drástica, que lhe garantiria enfim um status de ativo.
De lá pra cá a discussão em torno da concepção de “moeda” se tornou inócua. Inúmeros ainda a repetem, claro, em função da ignorância. Piadas com “é possível comprar um café com Bitcoin?” circulam em frases de pessoas que não entenderam o que aconteceu neste período.
Não apenas o Bitcoin se tornou um ativo, como outros tantos passos foram fundamentais para que hoje olhemos para estes R$70 mil pelo retrovisor. Cotado em R$360 mil na data desta matéria, o Bitcoin apresenta uma alta superior a 1440% em relação a março, início da pandemia.
1) Empresas tradicionais comprando Bitcoin
Sob a sigla de GTBC, o fundo gerido pela Grayscale se tornou uma sensação do mercado em 2018.
A ideia é simples. Ao invés de comprar e armazenar Bitcoins por meio das chamadas exchanges, o investidor poderia acessar títulos do GBTC em plataformas de investimentos comuns, comprando ações equivalentes a determinada quantidade de Bitcoins.
Durante o primeiro semestre de 2018, o GTBC captou em média $834 mil dólares diários apenas de investidores institucionais. Em 2020, a marca chegou aos $300 milhões/dia.
O resultado é que grandes investidores, que muitas vezes por compliance, não podiam acessar o mercado existente até então, entraram no jogo.
Em 2020 em especial, inúmeras outras empresas começaram um processo de Bitcoins com parte de seu caixa. Empresas listadas na NASDAQ como a Microstrategy e a Square, compraram outros $250 milhões ao menos. A mais conhecida por aqui, a Tesla, comprou outros $1,5 bilhão em janeiro deste ano.
No Brasil por exemplo, a CVM autorizou a oferta de fundos que invistam em criptos, incluindo aí os fundos geridos pela QR Asset Management, única gestora com 100% de exposição em Critpo no Brasil.
Ao longo do último ano os aportes cresceram exponencialmente. Em inúmeras semanas, a quantidade de compras de Bitcoin para estocar superou a oferta de Bitcoins minerados, criando um efeito simples de demanda maior do que a oferta e pressionando o preço do ativo para cima.
2) A política monetária dos EUA e a do Bitcoin
Como Dan Morehead, gestor da Pantera Capital, comentou em sua carta aos investidores, o valor “impresso” em julho equivale ao mesmo de toda dívida contraída pelos Estados Unidos entre 1776 e 1979.
Em outro número, cerca de 11% dos dólares já criados pelo FED desde 1917, foram criados em 2020.
A pandemia levou a uma escalada da criação de moeda para garantir a liquidez e a atividade econômica, sem precedentes na história mundial.
Este é essencialmente o motivo pelo qual o lendário investidor Stan Druckenmiller, um dos gestores de maior retorno acumulado na história, aposta na queda do dólar.
Veja bem, enquanto falamos aqui no Brasil sobre a desvalorização do real e o dólar como um bote salva vidas, nos EUA a discussão é como se proteger do dólar.
Este efeito provoca a chamada “inflação de ativos”. Na prática, quem fica com dinheiro em caixa tende a perder valor, não pela inflação medida pelos índices (que avaliam produtos), mas de ativos.
Essa diferença é relativamente simples de entender, uma vez que um índice de inflação é uma cesta de bens consumidos no dia a dia, mas não de ativos reais.
Exemplo: um índice medirá o impacto do aumento de preços em alimentos, energia, aluguel, roupas, móveis etc, mas não irá medir o aumento do preço dos imóveis ou o aumento do mercado de ações.
Na prática, manter dólares parados em caixa é ver suas aspirações de longo prazo se tornarem menis acessíveis.
No Bitcoin, por outro lado, o que manda é o Halving. Enquanto a impressora do FED rodava 24/7, um efeito programado ocorreu na rede do Bitcoin, reduzindo pela metade a oferta de novos Bitcoins minerados.
Em suma, enquanto o mercado compra ativos que não o dólar (ouro, ações, e criptos), a oferta de Bitcoins cai.
3) O risco político
As razões citadas acima explicam boa parte da alta do Bitcoin em dólar, mas há um fator na cripto que chama atenção em países como o Brasil.
Enquanto o Real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo em 2020, ativos e empresas negociados aqui, mas atrelados ao dólar, tiveram grande valorização.
No mercado o nome disso é essencialmente “hedge”, ou proteção propriamente dita.
A ideia é que a economia global oscila muito menos do que as economias nacionais, em especial a brasileira.
Isso significa que empresas que tem sua receita em dólar (como a WEG), ganham força.
No caso do Bitcoin, o ativo ganha um carinho especial por se tratar de algo cuja fundamentação teórica é uma proteção não apenas cambial (por ser global), mas política.
Governos ao redor do mundo que se afundam em dívidas ou criam impedimentos para acessar os mercados globais, afetam positivamente o Bitcoin.
Em suma, a cripto garante uma proteção contra os desmandos do FED e sua taxa de juros artificialmente baixa, além de governos como o brasileiro.
Com uma taxa de juros de 2% ao ano, menor do que a inflação, cresce a expectativa de que o governo precisará encontrar outros meios de financiamento que não o investidor estrangeiro, o que provoca também uma inflação de ativos.
Cada ponto na dívida pública, que deve chegar a 95% do PIB este ano, é um empurrão a mais no Bitcoin e sua função de “duplo hedge” (cambial e político).
4) A maior abertura de capital da história. E há uma empresa de cripto envolvida.
Com apenas 8 anos desde a fundação, a exchange Coinbase se transformou em um verdadeiro colosso, com números tão impressionantes quanto os do próprio Bitcoin.
A exchange deve ir a mercado faz uma listagem direta, uma prática que tem se tornado comum no mercado dados os custos elevados para os IPOs, e a burocracia envolvida.
Ao contrário de outras empresas queridinhas destes tempos estranhos, a exchange tem um trunfo na manga para justificar seu valor astronômico de $100 bilhões no IPO: ela dá lucro, e muito!
Em tempos onde “prejuízo para o crescimento” se tornou um mantra e a busca incessante por monopólios as custas do dinheiro de acionistas reinam, a empresa apresenta um crescimento robusto.
Os ativos sob custódia, uma métrica relevante do mercado, passearam de $90 bilhões para $223 bilhões, valor equivalente à soma dos ativos sob custódia das brasileiras XP e BTG.
A abertura de capital ajuda a injetar recursos para consolidar o mercado, melhorando a segurança e confiabilidade em um elo importante em meio a uma demanda elevada por ativos considerados “de proteção”.
Como consequência na melhora do ambiente em si, o Bitcoin tem reagido positivamente.
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