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Economia

Trump agora copia House of Cards para ganhar a eleição

Atrás nas pesquisas, Donald Trump agora invoca Frank Underwood para lançar seu mais novo plano.

Yes Minister! Foi uma série de comédia britânica dos anos 80, escrita por Sir Antony Jay. Seu plot, consiste em desconstruir a ideia de políticos frios e calculistas ou pessoas de compreensão acima da média como vendem muito bem os marketeiros. 

Sir Antony, o autor suma, trata políticos como pessoas que respondem a incentivos, uma ideia relativamente nova na época, e encabeçada por economistas como James Buchannan. Essa ideia se traduziu no sucesso da série, e em conquistar fãs como a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.

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Essa porém não é, em boa parte hoje graças a Netflix, a série política mais conhecida e reverenciada, ou não, do Reino Unido.

Por uma leve ironia do destino a  série House of Cards nasceu também com Thatcher, ou melhor, com seu chefe de gabinete Michael Dobbs, um conservador como Thatcher, e atualmente membro da “Casa dos Lords”. Após sua demissão em 1989, começou a escrever a série que o tornaria famoso.

Qual a diferença entre ambas as séries? Tirando o estilo (drama e comédia), a série de Dobbs conta com um fato relevante a seu favor: Dobbs esteve no governo e no parlamento por décadas. Conhece bem os corredores de Westminster, para além dos livros e teorias.

Se você assistiu a série da Netflix, deve ter reparado que as primeiras temporadas são muito mais “realistas” ao retratar o dia a dia do congresso, do que quando Frank (Underwood na versão americana e Urqhart na versão inglesa), se muda para a Casa Branca. 

As razões para isso são um tanto quanto óbvias. A realidade do congresso é muito mais exposta pelo excessivo número de pessoas que passam por lá, mas há um ponto central na série americana que a torna fascinante, e que Dobbs não conseguiu captar na mesma maneira em sua versão original.

Frank Underwood é um Democrata. É líder de um partido que há meio século se coloca em um viés mais progressista, com alas muito mais a esquerda que os conservadores ou Libertários do Gop, o partido republicano.

Na prática, apesar de sutil, isso faz uma diferença. A ideia ali é retratar políticos não como pessoas cheias de virtude representando seus eleitores, mas pessoas que travam disputas de poder.

Como Frank resume:

Dinheiro é mansão no bairro errado, que começa a desmoronar após dez anos. Poder é o velho edifício de pedra, que se mantém de pé por séculos.

Não há ali uma forçada de barra para tratar republicanos como aqueles mancomunados com lobytas versus Democratas representantes dos sindicatos e dos trabalhadores. 

A maneira como a série brinca com os esteriótipos dos dois partidos, dando a Frank uma ideia a lá Reagan de que “O emprego é o melhor programa social”, ao mesmo tempo em que promove uma agenda intervencionista a lá Roosevelt, é o que torna Frank mais acessível.

E é exatamente ali, no America Works, um programa para criar 10 milhões de empregos, se utilizando de uma premissa Reaganiana de desonerações e isenções fiscais, mesclada com subsídio estatal mais associado ao partido Democrata, que Frank e Donald Trump se encontram.

Por meio de uma ordem executiva, Trump ordenou que $44 bilhões, dos $75 bilhões de um fundo da FEMA (a agência americana que responde a desastres naturais), sejam destinados a um programa que destina $400 por semana durante 4 semanas para americanos que voltem a trabalhar.

Diante da montanha colossal de recursos criada pelo governo americano em meio a crise, a adoção da medida parece “pequena”, afinal, foram mais de $2 trilhões injetados pelo governo na economia (e quando me refiro a injetados falo aqui em dinheiro saído da impressora mesmo, não em recursos como 13º no Brasil que saem de um bolso que paga impostos para outro que recebe).

A questão porém abre uma discussão, que já está em curso no Brasil.

Até que ponto o governo pode continuar bancando salários e garantindo empregos sem ele próprio se comprometer?

No Brasil uma medida similar foi feita por meio de uma compensação do governo a empresas que reduzam salários. Os cortes, que variam entre 25% e 70%, são pagos diretamente ao trabalhador, aliviando a empresa e mantendo os empregos.

O custo por aqui, de R$51 bilhões, é relativamente mais alto que na versão feita por Trump.

Isso ocorre porque a informalidade no mercado de trabalho brasileira é muito mais elevada que nos Estados Unidos. Na prática, apenas 3 em cada 10 brasileiros possuem um emprego registrado por CLT.

Nossa legislação trabalhista impõe custos de até 62% para empresas que formalizem seus trabalhadores, em custos que vão de FGTS ao 13º.

Na terra de Donald, o presidente ou o pato, os contratos são muito mais flexíveis, permitindo uma maior agilidade no mercado de trabalho.

Em tempos de crise isso pode acarretar em maiores demissões, em período de crescimento porém, leva a contratações muito mais ágeis.

Até o início da Pandemia os Estados Unidos possuíam um desemprego ao redor de 3%, o que significa que de cada 100 pessoas que estavam trabalhando ou procurando emprego, apenas 3 não possuíam de fato um emprego.

Em países com legislações mais rígidas, como a França, o desemprego acima de 10% há quase 3 décadas, também possui tentativas de solução pouco convencionais. 

Por lá, há um movimento de jovens que defendem que o governo reduza a idade de aposentadoria para que os mais velhos saiam do mercado e os mais novos sejam colocados no lugar.

Como se vê, Frank Underwood parece um legítimo defensor da responsabilidade fiscal, mesmo com seu plano custando $500 bilhões, tudo claro, se você for comparar com franceses, ou mesmo com os democratas da vida real e seus planos de até $50 trilhões em gastos (ou quase 70% do PIB mundial), em 10 anos.

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