A Greve dos Caminhoneiros começa nesta segunda e promete colocar o país novamente à mercê do grupo de pressão. Governistas, que apoiaram a greve em meio ao pleito eleitoral de 2018, agora acusam a movimentação de “política”.
Era maio de 2018, um pleito eleitoral se desenhava no Brasil e o agora presidente Jair Bolsonaro despontava como franco favorito. Foi ali, no período mais ingovernável do governo Michel Temer, que uma greve sem precedentes começou a se desenrolar.
A greve, que pararia o Brasil por dez dias, era organizada por uma das categorias com maior poder de barganha na atual democracia brasileira, os caminhoneiros. Com duração muito maior que a prevista, motoristas interromperam a distribuição de insumos industriais, produtos farmacêuticos, comida, combustível e fretes. O desabastecimento que se seguiu gerou intensa desordem social.
As principais demandas do grupo eram o fim da cobrança do PIS-Cofins sobre o óleo diesel e o estabelecimento de uma tabela mínima para os valores de frete. A indignação ocorria após uma alta de 50% no preço do combustível ao longo dos últimos 12 meses.
Como era esperado em ano eleitoral, a magnitude da greve foi cooptada pelos discursos políticos dos mais diversos candidatos. Dentre eles, o atual presidente Jair Bolsonaro se disse favorável à greve e nutriu instantânea popularidade no movimento que, no decorrer dos dias, replicava parte dos discursos anticorrupção do candidato. Algumas células grevistas foram além e ventilaram a possibilidade de golpe militar.
A paralisação da categoria custou um esforço de R$15 bilhões no PIB, à época um impacto de 1.2% e, consequentemente, obrigou a revisão de todas as previsões de crescimento para aquele ano. Já as reivindicações atendidas, após 7 longos dias de greve, custaram R$5 bilhões aos cofres públicos, segundo cálculos da própria equipe econômica.
As mudanças da primeira greve
Tendo dificuldades fiscais ao apagar das luzes do governo Dilma, a Petrobrás precisava frear os diversos anos de atuação como braço governamental e buscar independência em suas decisões econômicas. Para isso, foi iniciada por Pedro Parente, em julho de 2017, uma nova política de preços para os refinos da petroleira.
Diferentemente dos anos de subsídio ao combustível durante a era petista, Pedro Parente propunha uma livre flutuação de preços, de acordo com a oferta e demanda global por petróleo.
Apesar da medida contribuir para retirar a Petrobrás da penúria econômica em que havia se colocado, o livre funcionamento do sistema de preços sujeitava o governo ao humor de robustos grupos de pressão, como os caminhoneiros.
Enquanto os preços das commodities continuassem baratos, não haveria incômodo para o governo. No entanto, em caso de descontrole cambial ou aumento desproporcional no valor internacional das matérias-primas, o país ficaria na berlinda das reivindicações de categorias afetadas.
À época, após a alta do preço do combustível engatilhar a maior greve da década, o governo Temer voltou atrás e retornou parte do subsídio iniciado na Era Dilma. Com descontos imediatos de 10% no Diesel por um mês, com custo de R$350 milhões, e reajustes de preços mensais, ao invés de variações diárias, o setor prevaleceu frente à sociedade brasileira.
Os caminhoneiros também conseguiram escapar da reoneração da folha até 2020, isenção de pedágio em rodovias federais e garantia de 30% do frete, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), antes da entrega.
O que esperar da greve de 2021
Com data de início marcada para o mesmo dia da eleição de presidente da Câmara dos Deputados, a atual Greve dos Caminhoneiros vem sendo taxada como “política” por governistas. Apesar disso, a avaliação do Palácio do Planalto é que a atual greve será bem mais limitada que a de 2018. Sem o apoio de transportadoras nem de algumas importantes associações de autônomos, a expectativa em Brasília é para uma manifestação esvaziada.
A tabela de frete retorna para o centro do debate, pois na prática não tem funcionado para os caminhoneiros. Mesmo tendo sido uma das maiores “conquistas” da categoria em 2018, Tarcísio Freitas, atual Ministro da Infraestrutura, acredita que qualquer tentativa de tabelamento será julgada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A paralisação segue marcada para esta segunda em todo o país. Com apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), filiada à CUT, o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) e o Sindicato das Indústrias de Petróleo, o movimento esvaziado deve ganhar viés político. Especialmente porque a Abcam, principal articuladora da greve de 2018, não apoia a atual insurgência.
Com reformas paradas na Congresso, privatizações cambaleantes, déficit primário quase trilionário, crescente custo de rolagem da dívida, intensa crise cambial, retorno da inflação e ainda sem um orçamento para 2021, a equipe econômica e o atual governo estão devidamente desgastados para uma greve de grandes proporções.
A sorte, no entanto, parece estar ao lado do governo. Após meses de articulação, Arthur Lira (PP) deverá ser eleito hoje como Presidente da Câmara e, consequentemente, facilitar a aprovação de pautas governistas no legislativo. Mesmo assim, os desafios são imensos. Assim como Michel Temer, em 2018, a greve se instaurou após uma crescente ausência de governabilidade no executivo.
O fato é que reside na mão do atual governo, e na eterna capacidade da sociedade brasileira em financiar grupos de pressão, o futuro da atual greve. Resta saber se as próximas horas serão implacáveis, como a greve de 2018, ou apenas mais uma branda manifestação de alguns brasileiros que, se esquecendo da atual situação do país, acreditam piamente que devem ser sustentados por todos nós.
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