A resposta depende do tamanho da sua carteira e de seu conhecimento sobre investimentos.
Não faltam motivos para qualquer brasileiro ter uma parte de seus investimentos no exterior. Alguns benefícios são: diversificação de moeda, redução de risco, menor exposição aos problemas político-econômicos do Brasil, possibilidade de lucrar com as evoluções tecnológicas, melhor qualidade das empresas para investir, etc.
O ano de 2020 escancarou as vantagens de uma carteira internacional. O investidor que tinha uma parte de seu patrimônio no exterior provavelmente obteve uma performance bem melhor do que quem concentrou tudo no Brasil. O índice Nasdaq 100, que reúne ações das maiores empresas de tecnologia dos EUA, registra uma valorização de 33% neste ano apesar da crise com o coronavírus – ou devido ao coronavírus, dado que empresas que atuam com e-commerce, hardware, software e cloud computing acabaram sendo beneficiadas pelas restrições de circulação. Já o Ibovespa, principal índice de ações brasileiro, amarga queda de 12% desde o início do ano.
Ao mesmo tempo o dólar disparou e acumula valorização de 32% em 2020 com a recessão, a degradação das contas públicas e a percepção de que o governo Bolsonaro terá dificuldades para reverter a frágil situação fiscal. Movimentos futuros de câmbio são imprevisíveis. O real pode recuperar parte das perdas com a descoberta de uma vacina ou pode cair ainda mais se o Congresso continuar barrando medidas que contribuam para reduzir a irresponsabilidade fiscal. Para lidar com essa incerteza planejadores financeiros costumam recomendar um casamento entre ativos e passivos: por exemplo, se 20% de seus gastos são em dólar (viagens, vinhos, carros, eletrônicos, etc.), 20% de seus investimentos deveriam estar em ativos internacionais.
Muita gente já entendeu os benefícios de ter investimentos no exterior, mas não faz a menor ideia de como começar. As 3 principais formas de ter exposição a ativos internacionais são: fundos brasileiros que investem em ativos no exterior, abrir conta em corretora americana ou comprar ativos internacionais negociados na Bolsa brasileira. A partir de novembro a B3 deve liberar a negociação de ações de empresas americanas e europeias para todos os investidores. Mas entre essas três opções qual é a melhor para mim? Depende do seu perfil de investidor e do tamanho de sua carteira, conforme explico abaixo:
Opção 1 – Ideal para investidores que não querem acompanhar o mercado internacional
A maior parte dos brasileiros não é especialista em investimentos internacionais e não acompanha o mercado financeiro americano de perto. Acredito que para essas pessoas o ideal seria ter uma exposição bem diversificada de forma a evitar grandes erros e ao mesmo tempo surfar os grandes avanços tecnológicos mundiais.
Uma forma simples e barata de se expor é comprar IVVB11, um ETF (fundo de investimento com cotas negociadas em Bolsa) de altíssima liquidez negociado na B3 que replica a carteira do índice S&P 500. Na prática o investidor terá uma exposição ao dólar e a ações de 500 das maiores empresas americanas comprando um único ativo. Para investir bastar abrir o homebroker, digitar o código IVVB11, definir o montante de dinheiro que você quer investir e enviar a ordem de compra.
Já para o investidor que que tentar buscar uma rentabilidade maior que a do S&P em dólar – mas sabendo que não há garantias que isso vá acontecer e que é possível que o retorno acabe sendo menor que do S&P – uma ótima opção é o fundo Western Asset FIA BDR Nível I. Esse fundo rende 474% desde que foi criado em meados de 2014. O gestor se propõe a selecionar ações com potencial de performar acima do S&P e tem conseguido entregar isso. Em troca o investidor paga uma taxa de administração de 1,5% ao ano.
Existe ainda uma excelente opção para quem investir em ações internacionais, mas acredita que o dólar está caro e não quer ter exposição à moeda. O fundo IP Participações FIC FIA BDR Nível I acumula desde o início do Plano Real uma rentabilidade de 19.618% – o que equivale a mais de 7 vezes o Ibovespa e mais de 3 vezes o CDI e o S&P no período. O fundo só investe nas melhores empresas do Brasil e dos EUA – e ultimamente tem dado preferência a empresas americanas em sua carteira. Como só compra empresas excelentes, o risco e a volatilidade são muito menores que a média da indústria. Quem fez a opção por esse fundo ficou no melhor dos mundos: rentabilidade muito acima da média e risco bem menor que a do mercado de ações.
Os dois fundos estão disponíveis na maioria das corretoras brasileiras, mas o fundo da IP aberto a investidores em geral se chama IP Participações IPG FIC FIA BDR Nível I.
Opção 2 – Para quem quer escolher as próprias ações, mas tem menos de US$ 60 mil para investir lá fora
Nesse caso a melhor opção é abrir uma conta numa corretora americana e comprar ações diretamente lá fora. A opção que se tornou mais popular no Brasil é a Avenue Securities, uma corretora americana que se especializou em atender brasileiros. O principal sócio da Avenue é Roberto Lee, que antes foi fundador da Clear Corretora e sócio da XP Investimentos. A Avenue tem uma solução completa para brasileiros: facilidade de envio de dinheiro para o exterior, IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de só 0,38% nas remessas internacionais, atendimento em português, relatórios e análises em português, etc. A corretora também tem custos extremamente competitivos para quem não é profissional de investimentos: oferece 10 ordens por mês com corretagem gratuita.
Já a principal vantagem de investir no exterior por meio de uma corretora é que é possível vender até R$ 35 mil por mês em ações e não pagar Imposto de Renda sobre o ganho de capital. A Avenue inclusive possui um sistema que calcula o imposto devido para seus clientes.
Opção 3 – Para quem quer escolher as próprias ações, mas tem entre US$ 60 mil e US$ 500 mil para investir
Nesse caso a melhor opção é comprar BDRs de ações estrangeiras negociadas na B3. A Bolsa possui BDRS de mais de 550 empresas negociadas nos EUA, como Apple, Google, Facebook, Microsoft, Netflix, etc. Muitos desses BDRs foram lançados em 2010. Até hoje, entretanto, esses papéis representam menos de 0,3% do volume de negociações de ações na Bolsa brasileira. Uma das razões para a impopularidade desses papeis é que a CVM restringia a negociação de BDRs não-patrocinados aos chamados investidores qualificados, ou seja, a quem declara ter ao menos R$ 1 milhão investido em aplicações financeiras. Mas agora a CVM já autorizou o acesso aos BDRs para todos os investidores e a B3 promete liberar a negociação para todas as pessoas físicas pelo homebroker até novembro.
A grande vantagem de investir em BDR é não ficar sujeito ao pesado imposto americano sobre transmissão de heranças. Não-residentes nos EUA que tenham patrimônio de mais de US$ 60 mil pagam ao menos 40% de imposto na sucessão. Em alguns Estados americanos essa alíquota sobe para 50%. Isso significa que se você lutar a vida inteira para construir um patrimônio de R$ 1 milhão e investir no exterior, quando você morrer ao menos R$ 400 mil ficarão para o governo americano e o resto irá para seus herdeiros. Só para efeito de comparação em São Paulo o imposto sobre transmissão de herança, o ITCMD, tem uma alíquota de 4% – ou seja, o governo paulista ficaria com R$ 40 mil nesse exemplo acima.
Muita gente critica os BDRs por sua falta de liquidez. Mas isso é um equívoco. Os BDRs têm um baixo volume de negócios, é verdade. Mas é um problema de demanda, e não de oferta. Se você quiser comprar ações da Apple e colocar uma ordem no book, um formador de mercado provavelmente vai comprar todas as ações que você quer nos EUA e entregar a você recibos de ações no Brasil. Os formadores de mercado têm robôs para fazer essas operações e sempre que o preço no Brasil se distancia cerca de 0,5% da cotação nos EUA o robô fará esse tipo de operação, ganhando a diferença (ou o spread) entre as cotações. É por isso que é errado dizer que falta liquidez aos BDRs. Na verdade é muito mais fácil vender R$ 1 bilhão em ações da Apple do que R$ 1 bilhão em ações da Petrobras na B3 porque a liquidez que interessa é a da ação nos EUA.
Ao negociar a ação no Brasil não é preciso fazer remessa do dinheiro ao exterior, nem pagar um spread para fazer a operação de câmbio, nem pagar IOF sobre o volume de dinheiro enviado, nem abrir conta nos EUA, nem aprender as regras para declarar IR sobre suas operações nos EUA. O BDR é mais simples, sem sombra de dúvidas. Por outro lado o investidor perde a isenção de IR para vendas de ações no exterior de até R$ 35 mil por mês. Outro problema é que o investidor paga ao emissor do BDR uma taxa de 5% sobre o valor dos dividendos recebidos.
Opção 4 – Para quem quer escolher as próprias ações e tem mais de US$ 500 mil na conta
Para quem tem um patrimônio elevado para investir no exterior é melhor abrir uma empresa num paraíso fiscal, transferir seu dinheiro para essa offshore e depois comprar ativos em nome da empresa. Nesse caso não haverá imposto sobre transmissão de herança. Na verdade o investidor só terá de pagar impostos sobre o ganho de capital quando resolver trazer esse dinheiro de volta ao Brasil. Se nunca mais trouxer os recursos para cá, nunca mais pagará IR sobre a valorização de seus ativos. É por isso que alguns advogados tributaristas consideram o Brasil um dos maiores paraísos fiscais do mundo.
Não existe uma obrigação de ter US$ 500 mil para abrir uma offshore. Mas a offshore tem custos que fazem com que isso só seja interessante para investidores mais graúdos. Uma offshore vai custar entre U$ 1.000 e US$ 2.000 por ano em gastos de contabilidade.
Para quem tem muito dinheiro nos EUA talvez seja interessante buscar uma corretora diferente da Avenue. Algumas corretoras americanas gigantes com corretagem zero para a compra de ações são a Ameritrade e a Charles Schwab. A vantagem dessas corretoras é que é possível investir em todos os tipos de ativos, incluindo opções, contratos futuros, bonds e fundos. Na Avenue os clientes estão restritos a negociar ações, fundos imobiliários (REITs) e ETFs. Na B3 as restrições são ainda maiores: são cerca de 550 BDRs e os ETFs de S&P – mas não há papéis bastante populares entre brasileiros como XP Inc, Stone, Tencent, ETF de Nasdaq (QQQ), etc.
Para quem investe uma soma representativa de valores no exterior também há uma burocracia adicional. Pessoas com mais de US$ 1 milhão em patrimônio lá fora precisam entregar uma declaração anual de bens ao Banco Central.
Independente do veículo escolhido para investir no exterior, vale a pena não concentrar todo seu patrimônio no Brasil. Ter uma carteira internacional com 20% a 40% do patrimônio reduz drasticamente seu risco. E nos últimos 10 anos os investimentos nos EUA também teriam garantido uma rentabilidade muito maior.
*João Sandrini é planejador financeiro CFP®. Twitter: @joaosandrini.
**Este artigo não é uma recomendação de Investimento.
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