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PicPay, da família Batista, distribui dinheiro aos usuários mirando o IPO

Com um faturamento de R$ 386 milhões, o PicPay gerou um prejuízo de R$807 milhões em 2020, mas seus quase 55 milhões de clientes são a aposta da J&F, a holding de Joesley e Wesley Batista, para se firmar no mercado de fintechs e buscar um IPO de até R$43 bilhões em valor de mercado. […]

Com um faturamento de R$ 386 milhões, o PicPay gerou um prejuízo de R$807 milhões em 2020, mas seus quase 55 milhões de clientes são a aposta da J&F, a holding de Joesley e Wesley Batista, para se firmar no mercado de fintechs e buscar um IPO de até R$43 bilhões em valor de mercado.

Criado em 1998, o PayPal ficaria conhecido como “a primeira Fintech da história”. Seu grande objetivo: permitir transferências de dinheiro online em uma época onde a internet ainda estava nascendo.

Inicialmente a empresa seria fundada como “Confinity”, e ao longo dos seus 2 primeiros anos de vida, a empresa de Peter Thiel e Max Levchin travaria uma guerra com a X.com, de Elon Musk.

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A empresa de Musk tinha um objetivo similar, de levar os americanos para o mundo do e-commerce, algo que hoje seria banal, mas naquela época se tratava de uma verdadeira revolução.

Entre a fusão das duas empresas para dar origem ao PayPal houve uma batalha sangrenta, com o sangue escorrendo dos cofres das companhias e do bolso de investidores.

Ocorre que para convencer pessoas a usarem seus serviços, Confinity e X.Com criaram um modelo bastante simples: você abria uma conta e já ganhava de cara $10 dólares.

Em empresas que ainda não faturavam o custo direto de aquisição de cliente se tornou um fardo, tornando a fusão a única maneira de sustentar as empresas.

Décadas depois, além da “PayPal Máfia”, como ficaram conhecidos os criadores do PayPal que viriam a fundar e financiar empresas como YouTube, Dropbox, Facebook, Tesla, Palantir e SpaceX, a mãe de todas as Fintechs deixou de legado sua técnica para atrair clientes.

O chamado “CAC”, ou “Custo de Aquisição de Cliente”, é uma métrica relevante em qualquer negócio em franco crescimento. Trata-se do valor que você gasta para atrair um novo cliente.

No longo prazo, espera-se, este custo cai na medida em que o efeito de rede aumenta, levando pessoas a usarem seu serviço simplesmente porque outras pessoas usam e aprovam. Este fato ocorre, por exemplo, em Fintechs como Nubank, ou no Inter.

Ainda assim, em épocas bastante específicas, expandir a rede em uma velocidade acima do normal pode ser razoável, e pra isso, queimar caixa é uma opção racional.

Este é o caso do PicPay, uma carteira digital que pretende se tornar sua primeira opção de pagamentos, permitindo a você fazer compras comuns, transferir dinheiro e até investir, de maneira simplificada.

Fundado em 2012, o PicPay compete em uma setor com pesos pesados, como Apple Pay, Google Pay e Samsung Pay, ainda assim, tem se saído bem e conquistado milhões de clientes.

O grande filão do mercado está no fato de 55 milhões de brasileiros não possuírem contas em banco. Celulares, ao contrário, são bem mais populares.

Permitindo realização de operações bancárias básicas e descomplicadas, o PicPay saltou de 16 milhões de usuários em 2019 para 32 milhões em setembro de 2020 e 50 milhões em março de 2021.

No meio do caminho, claro, muito caixa queimando para atrair clientes.

No final do ano passado a Fintech se aproveitou de uma taxa de juros básica extremamente baixa na economia brasileira, para oferecer o famoso “210% do CDI”. O número impressiona, mas quando computada a inflação, significa praticamente um zero a zero, tendo em visto que os juros estavam em 2% ao ano (um zero a zero melhor do que perder de goleada como o 100% CDI e a inflação, claro).

Na prática, a medida tem custado caro ao PicPay, que faturou R$ 389,6 milhões, com um prejuízo de R$803,7 milhões. Se é que podemos chamar de uma boa notícia, o prejuízo cresceu apenas 3 vezes, contra 4 vezes do faturamento. Um fator positivo entretanto foi o aumento de saldo em carteira por parte dos usuários que saltou de R$78 milhões para R$ 1,16 bilhão

Mas nenhuma outra promoção contribuiu tanto quanto simplesmente “dar dinheiro”. A questão é relativamente simples. Você abre uma conta e ganha R$10, ou agora, R$20.

No início, a tática gerou alguns golpes de pessoas se passando por empresas e prometendo o dobro para quem transferisse os R$10.

Mas na prática, o que a empresa faz é garantir que cada usuário se torne um agente de vendas que, por R$10 para si e R$ 20 pra quem aceita seus convites, agrega um novo cliente a base de usuários.

A tática já foi utilidade por Uber, Ifood e praticamente todos os outros apps que se tornaram essenciais hoje em dia.

Em comum, todos eles possuem uma enorme queima de caixa que é tolerada, ou incentivada, por investidores que captam dinheiro a juro 0 no mundo para investir em empresas com elevado potencial de crescimento.

A ideia de que “eventualmente” a empresa possa encontrar algo que de lucro, não é lá uma novidade. A própria Amazon, uma das maiores empresas do planeta, passou mais de uma década sem ter lucro, apenas reinvestindo para crescer. É algo tolerável como aposta portanto.

No caso do PicPay, que deve abrir seu capital na Nasdaq, a bolsa de tecnologia americana, a grande questão é o quanto cada usuário será avaliado para compor o valor da empresa.

Fintechs como Banco Inter e Nubank valem algo como R$4 e R$2 mil por cliente.

Usando a mesma métrica, a Empiricus avaliou a empresa da família Batista (sim, o PicPay pertence a J&F, dos mesmos donos da JBS), em $35 bilhões, ou R$200 bilhões. No IPO entretanto a empresa deve buscar um valor de R$43 bilhões, segundo fontes.

Trata-se de um valor muito difícil de justificar, mas que mostra o potencial de longo prazo.

Inicialmente, ainda que cada cliente seja avaliado em R$1 mil, um valor baixo, estaríamos falando aí de R$42 bilhões, ou metade do que vale a JBS.

No momento o PicPay ainda dá prejuízo, de $803 milhões em 2020 para ser mais exato. O certo é que a conta parece fazer sentido.

R$20 para você indicar um amigo e R$1 mil pra empresa em valor de mercado.

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