Foi em 26 de julho de 1984 que Roger Douglas assumiu o cargo de Ministro das Finanças na Nova Zelândia durante o 4º governo trabalhista.
Douglas, ao contrário da maior parte dos trabalhistas e membros graduados do partido, possuía uma visão econômica liberal, vendo na excessiva estatização da economia e nos sindicatos algumas das razões pelas quais a Nova Zelândia se encontrava estagnada há décadas.
Sendo bancada pelo primeiro-ministro, eleito em um partido de esquerda, o então ministro das finanças iniciaria uma série de medidas que ganhariam o nome de “Rogernomics”.
A criação de agências reguladores que permitissem privatizar estatais mas garantir que o Estado pudesse criar metas e cobrar o setor privado em setores envolvendo bens públicos, como energia, transporte e outros, foi das inovações que importamos por aqui.
O projeto do governo trabalhista foi de inúmeras maneiras ousado. Retirou-se subsídios à agricultura, forçando a competição com o mercado externo, criou-se um regime de metas de produtividade sobre o funcionalismo público, além de práticas inovadoras para política monetária, como as metas de inflação.
Mesmo no Brasil, ainda que tortuosamente, a modernização do setor público também chegou. Em 2003, por exemplo, acabamos com a aposentadoria integral, uma das medidas adotadas por lá quase 20 anos antes.
O sistema de metas e cobrança por resultados também foi aprovado aqui, a despeito de nunca implementado. Por lá, órgãos públicos que não atingem metas vêem seus responsáveis serem demitidos.
Estima-se que antes da adoção destas políticas, cerca de 44% da renda dos agricultores no país advinha de subsídios públicos. O esquema era quase perfeito, para os agricultores, claro. Para cada $1 com a venda de produtos, o Estado garantia mais $1 em subsídios.
Fatores como estes fizeram com que a Nova Zelândia caísse de 3ª maior renda per capita do planeta antes da segunda guerra para a 27ª posição em 1984.
Outras medidas, como redução de tarifas de importação, garantiram um choque de competitividade ao país. Em 1999 cerca de 95% dos produtos estavam isentos de impostos de importação.
As práticas adotadas pela esquerda neozelandesa foram ampliadas pela direita, com os nacionalistas que governaram entre 1991-1999, implementando uma regra fiscal, similar ao nosso teto de gastos, que culminaria por reduzir a dívida pública de 65% para 27% do PIB.
A continuidade de políticas do tipo garantiu ao país uma estabilidade fiscal pouco vista em outros países do mundo, o que por sua vez permitiu aos governos que se revezaram no poder, adotar políticas públicas conforme a necessidade e seu entendimento.
Na prática, o Partido Trabalhista, ou Labors, entendeu que as mudanças da economia mundial, com maior integração econômica e crescimento do comércio (em especial após o fim da União Soviética e a entrada da China na OMC, a organização mundial do comércio), tornaram seu modelo de “auto suficiência” inviável.
A diferença, é claro, é que essa percepção ocorreria com anos de antecedência.
O país se preparou para competir globalmente, focando em aumento de produtividade.
Sua estabilidade política, para além da economia, colaboraram para que a Nova Zelândia se tornasse um “refúgio” para os endinheirados ao redor do planeta.
Ao longo da última década, milhares de milionários e bilionários escolheram o país como segunda casa. Alguns, como Peter Thiel, adotaram a cidadania da Nova Zelândia.
Para Reid Hoffman, fundador do LinkedIn, o país é o “refúgio perfeito para um eventual cataclisma global”.
Como um regime parlamentarista, a Nova Zelândia também possui nuances. A depender da força com que os governos se elejam, acordos e moderações são menos comuns.
Este é o caso da vitória atual do Partido Trabalhista, que sob o comando de Jacinda Aarden, obteve uma vitória expressiva nas eleições, graças, em boa parte, a maneira de sucesso com que o país evitou a pandemia do Covid19.
Com maior força no parlamento, Jacinda tem levado a cabo medidas como o aumento de tributação sobre os mais ricos, que deve atingir os 2% de maior renda da população.
Medidas como essa também foram adotadas na Alemanha, país que aboliu imposto sobre grandes fortunas e o próprio salário mínimo há décadas. Por realizar uma aliança com os Sociais Democratas, Angela Merkel concordou em retornar com o salário mínimo no país.
Via de regra, a não existência de salários mínimos, como em países nórdicos, está associada à força de sindicatos. Com organizações sindicais privadas definindo as regras em seu setor, governos acabam por interferir menos.
Ainda que eleve impostos sobre os mais ricos, é improvável que a Nova Zelândia perca o charme para os bilionários. Sua estabilidade política e econômica garantida por medidas que vão além do sistema tributário, tornam o país um refúgio em meio a Estados burocráticos e complexos.
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