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Na 22ª negociação com o FMI Argentina segue rechaçando reformas e dobrando a aposta no que deu errado.

Desde 1956 a Argentina realiza um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional a cada 3 anos e meio. Reformas básicas adotadas pelo Brasil, e ignoradas pelos hermanos, fazem com que a inflação por lá esteja fora de controle, a pobreza atinja o dobro de pessoas e o Peso Argentino sirva apenas de peso de […]

Desde 1956 a Argentina realiza um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional a cada 3 anos e meio. Reformas básicas adotadas pelo Brasil, e ignoradas pelos hermanos, fazem com que a inflação por lá esteja fora de controle, a pobreza atinja o dobro de pessoas e o Peso Argentino sirva apenas de peso de papel.

Foi em 20 de dezembro de 2001, mais precisamente às 19h52 min no horário local, que Fernando De Lá Rua protagonizou a cena que marcaria sua carreira política: abandonou a Casa Rosada, sede do governo argentino, em um helicóptero.

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A fuga do presidente se deu um dia após conflitos tomarem conta das ruas do país, levando à morte de ao menos 30 pessoas.

Dali pelas próximas 2 semanas a Argentina teria ao menos 5 presidentes. Todos tentando, em vão, conter a crise.

Seria a ruína completa de um plano econômico que menos de uma década antes era saudado como revolucionário e inovador.

Como Guilherme Fiuza conta em “3000 dias no Bunker”, seu livro sobre a saga do plano real, o plano Cavallo da Argentina, era o queridinho do Fundo Monetário Internacional, prevendo questões que se tornariam comuns também por aqui, como a paridade em 1 pra 1 entre o dólar e o peso.

Enquanto os argentinos ganharam a simpatia do Fundo, o Brasil ainda trabalhava para conquistar o apoio.

De fato, os argentinos conseguiram renegociar sua dívida externa (o vilão de todo país latino americano na época), graças ao apoio do Fundo que emprestou recursos para a execução do plano.

No caso brasileiro, tivemos de dar um jeitinho para contornar a ausência de apoio, comprando títulos usados para a negociação em operações feitas às escondidas pelo Banco Central brasileiro comandado por Gustavo Franco e Pedro Malan).

A resposta de cada país as sucessivas crises em países emergentes, porém, foi um fator determinante para explicar os motivos de a crise ter sido muito pior por lá (levando a um queda do PIB de 4,5% em 2001, contra uma alta de 0,5% do PIB em 1999, ano da crise do real).

Por aqui, dobramos a aposta na agenda reformista. Criamos a Lei de Responsabilidade Fiscal e o tripé macroeconômico (câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário).

A agenda brasileira seria seguida à risca pelos próximos 8 anos, rendendo frutos ao país.

Mesmo em 2002, no cenário político conturbado do “risco Lula”, que fez os juros que o país pagava ao exterior chegarem a 24,36% e o dólar bater R$10,69 em valores de 2019, nos saímos bem (considerando que estes efeitos seriam dissolvidos nos anos seguintes).

Por garantia, o então presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a negociar uma linha de crédito junto ao FMI, que não chegaria a ser usada por seu sucessor.

Na Argentina, porém, o cenário foi distinto. A crise ecoou tarde em relação ao Brasil, custando anos preciosos de ajustes que seriam sumariamente ignorados, no momento em que o boom de commodities gerasse frutos.

Como o Brasil, a Argentina surfou uma enorme valorização dos seus produtos de exportação, como carne e soja. A entrada de dólares permitiu ao país quitar $15 bilhões junto ao FMI, também como o Brasil.

Ao contrário do Brasil, porém, a dívida externa argentina continuou sendo muito mais relevante do que a interna, graças a ausência de um mercado de títulos e dívida.

Também ao contrário do Brasil, o Banco Central do país continuou autorizado a comprar dívidas do governo, ou no termo popular: imprimir dinheiro.

Tais erros foram cruciais para manter a Argentina dependente do cenário externo.

Desde ao menos 1895, quando a Argentina chegou a ter o maior PIB per capita do planeta (segundo o Maddison Project, do prêmio Nobel  Angus Madison), o país segue dependente das cotações de commodities no mercado internacional, e por sua vez, da moeda dominante, seja a Libra ou o dólar.

Em todo este período o Brasil travou uma batalha para construir um mercado financeiro nacional, que garantisse financiamento da sua dívida e menor dependência externa.

Em 1964 por exemplo, criamos o Banco Central e passamos a emitir dívida pública, extinguindo a função do Banco do Brasil como agente financiador do governo.

No plano real, fechamos a torneira dos bancos públicos que emprestavam dinheiro aos governos. Chegamos até a promover um impeachment quando uma presidente decidiu ferir a lei que proíbe bancos públicos de financiar o governo.

No caso Argentino, a fonte de financiamento continuou a ser o dólar, e consequentemente o país seguiu sendo vulnerável.

Em momentos de bonança, os governos gastaram para distribuir benesses, como nos anos Kirchner, sem se preocupar com reformas.

A ausência de qualquer noção de controle nos gastos públicos, levou inclusive à fraude em índices de inflação.

Tendo uma situação delicada em que o Banco Central poderia livremente imprimir dinheiro, o governo corroborou fraudando os índices de inflação.

Como não poderia deixar de ser, tamanho descaso levou o país novamente a crise.

Desde 1956, a Argentina já recorreu ao FMI 21 vezes. Em poucos casos destes 21 acordos, cumpriu as propostas do fundo.

Neste exato momento a Argentina negocia seu 22º acordo. Segundo o presidente Alberto Fernandez, trata-se de algo “impossível de cumprir”, dadas as cláusulas do banco.

A renegociação com o FMI, que envolve $44 bilhões, ocorre cerca de 8 meses após a Argentina negociar com credores privados cerca de $65 bilhões. Ao todo o país deve $290 bilhões de dólares, ou 90% do seu PIB.

A solução brasileira de importar a dívida e fazê-la em pesos, é inviável no país. Na prática, mesmo com juros de 38% ao ano, contra 2,75% do Brasil, os juros argentinos são muito menores do que o brasileiro, quando descontada a inflação. A quem interessar possa, para emprestar dinheiro ao governo portenho, você recebe -7% ao ano descontada a inflação. Na Suíça, recebe -0,25%.

A somatória de erros e ausência de reformas relevantes, feitas por aqui na década de 90, faz com que hoje a taxa de pobreza no país seja 2 vezes maior que a do Brasil. Para efeito de comparação, em 1900 os argentinos eram 5 vezes mais ricos que os brasileiros.

E é claro que você deve estar pensando “ainda assim os argentinos têm melhores taxas de educação e PIB Per capita maior”. De fato, mas conseguem isso disputando com um país especialista em sabotar o próprio futuro: o Brasil. Trata-se de uma disputa longa para saber quem atira com mais precisão no próprio pé, e nisto eles estão ganhando.

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