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Investimentos

Há um ano o governo sonhava com a Tesla no Brasil. Hoje dormiu sem a Ford.

Os projetos megalomaníacos se tornaram marca registrada dos últimos governos brasileiros. Iphone no Brasil, vender Alcântara para a SpaceX, produzir Teslas no Brasil. Tentamos de tudo, só não fizemos o básico: criar condições para investimentos. Poucas pessoas parecem fascinar tanto o ministro de ciência e tecnologia (nosso astronauta), e boa parte do governo, quanto Elon […]

Os projetos megalomaníacos se tornaram marca registrada dos últimos governos brasileiros. Iphone no Brasil, vender Alcântara para a SpaceX, produzir Teslas no Brasil. Tentamos de tudo, só não fizemos o básico: criar condições para investimentos.

Poucas pessoas parecem fascinar tanto o ministro de ciência e tecnologia (nosso astronauta), e boa parte do governo, quanto Elon Musk.

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O até ontem maior bilionário do planeta (hoje o segundo depois de perder $14 bilhões em um dia), já figurou aqui como possível interessado na base de Alcântara para sua SpaceX.

O caso virou piada na internet, não apenas pela megalomania da ideia, mas por internautas que apontaram um fator cômico: o porto do município não possui capacidade para receber as balsas da companhia espacial, e Alcântara não possui ligação com a internet confiável que permita sequer transmitir ao vivo os lançamentos.

Na visão brasileira entretanto, tudo se ajusta. Basta um pouco de dinheiro público subsidiando e magicamente as coisas se tornam viável.

Foi assim também que tentamos, lá no começo da década, atrair a Foxconn, a fabricante do iPhone.

O plano era ousado: $12 bilhões de dólares em investimentos.

Em meros 3 anos porém, a companhia deu adeus ao país. Não encontrava por aqui engenheiros e outros profissionais qualificados, além dos custos altos com salários e questões trabalhistas.

Tudo isso junto e misturado pode ser considerado o motivo do fracasso do chamado “PSI”, o programa de sustentação do investimento.

Por anos o governo brasileiro injetou bilhões (550 deles) no BNDES, para incentivar o investimento. O resultado? Para o governo foi um custo significativo, afinal, na época a Selic estava em 14% e o banco pagava 5% ao governo. A diferença, claro, saia do bolso do pagador de impostos.

Já para os empresários, não houve qualquer avanço significativo. Os investimentos em proporção ao PIB não cresceram. Muitos empresários apenas utilizaram o programa para trocar dívidas caras por uma mais barata, além de outros que investiam em títulos públicos pra livrar com os 14% e usavam crédito do banco para investir, ganhando nas duas pontas.

Para demonstrar que megalomania e ausência de análise podem ser questões ambidestras, o governo brasileiro engatou na marcha ré e decidiu dobrar a aposta. Queria atrair um fábrica da Tesla para o Brasil.

A articulação se deu pelo deputado Daniel Freitas, autor do projeto 4285/2019, que prevê subsídios e isenções para veículos elétricos.

Em 12 de fevereiro porém, a agenda do ministro astronauta previa uma reunião com representantes da Tesla.

Não fosse a Pandemia, os próximos passos incluíram uma viagem do próprio presidente da república aos Estados Unidos para entregar a Musk a intenção do governo brasileiro de atrair investimentos no setor.

Se concretizado o planeo, seríamos o 5º país a sediar uma fábrica da montadora, ao lado dos Estados Unidos, China, Reino Unido e Alemanha.

Seria não apenas um feito imenso para o governo, mas uma prova de que Musk é mais maluco do que se pensa, e um motivação maior do que Tweets para que ele seja novamente afastado do conselho pelos investidores.

As razões para um investimento do tipo são inúmeras. Começando pelo preço, afinal, o modelo mais barato da Tesla custa no câmbio de hoje, cerca de R$220 mil. Como você já deve ter percebido, há pouco mercado para algo do tipo no Brasil.

Para piorar, em 2019 as vendas de veículos elétricos no Brasil atingiram 538 unidades, dentro de 2,36 milhões vendidas no país.

Como o câmbio é apenas uma ficção quando se trata de importados, basta lembrar que a Elektra, revendedora de São Paulo que revende carros elétricos (e que vendeu 14 Teslas em 4 anos), pratica preços entre R$450 mil e R$1,2 milhão.

Mas e a Ford com isso? A saída da gigante americana que popularizou o automóvel no planeta ao utilizar a linha de montagem (que não foi inventada por Ford, mas por Heinz, aquele mesmo do Ketchup), se deu por inúmeros fatores.

Desde 2013 a Ford vem perdendo dinheiro na América Latina em todos os trimestres.

Ainda que tenha recebido R$20 bilhões em subsídios no Brasil, a operação da empresa gerou prejuízos. Segundo a empresa, a cada dia a companhia tinha um prejuízo de $1 milhão de dólares no país.

A questão era tão complicada que a Ford simplesmente decidiu gastar $4,5 bilhões de dólares e sair do país. Seus carros não eram populares aqui. A empresa amargava um quinto lugar em vendas, atrás até mesmo da Renault.

Na Argentina entretanto, a empresa produz pickups e SUVs, modelos mais populares, daí a decisão de manter a produção por lá.

Para piorar a situação, como informa o blog radar econômico da Revista Veja, políticos agora traduzem a saída da montadora como uma questão de retomar o “Ministério do Desenvolvimento”.

Não apenas não se falou em rever os R$347 bilhões em subsídios que gastamos por ano, como ainda pretendemos dobrar a aposta.

Neste mundo de megalomanias, seguiremos sonhando com grandes projetos e investimentos que, na prática, nos mantém cada vez menores.

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