As duas maiores potências do planeta tem demonstrado preocupação com o crescimento do poder e influência das empresas de tecnologia. No caso chinês entretanto, a ação é muito mais contundente, como seria de se esperar de uma ditadura.
Foi em 2001 que a gigante sul-africana Naspers realizou aquela que seria a mais bem sucedida operação de capital de risco do mundo: pagou $38 milhões por 33% da Tencent.
Hoje, duas décadas depois, a participação da Naspers na companhia possui um valor de $130 bilhões.
O caso em si não é isolado, com diversos exemplos, como o investimento de $20 milhões do Softbank no Alibaba que hoje vale cerca de $110 bilhões.
De fato, o que ambos os casos possuem em comum é a aposta mais do que arriscada de investir em companhias de tecnologia em um país onde tecnologia, comunicação e diversos outros setores são, em essência, questões de Estado.
Como conta um ditado popular, “na China você não é dono de uma ação, você apenas segura a ação para o PCCh” (o partido comunista chinês).
Desde fevereiro deste ano companhias de tecnologia chinesas vêm sofrendo impactos constantes de decisões pautadas por Pequim, como consequência, seu valor de mercado caiu cerca de $1 trilhão.
Neste exato momento as 10 maiores empresas de tecnologia do país, com 1,4 bilhão de habitantes e o que mais cresce no mundo, valem pouco menos do que a Amazon sozinha.
Tais decisões tomadas por Pequim afetam áreas diversas de tecnologia.
Na chamada “Gig Economy”, que inclui apps de delivery, o governo decidiu impor regras severas sobre o tempo entre entregas, estabeleceu o salário mínimo, impôs a necessidade de um seguro social e outras normas que ajudem a conter problemas sociais decorrentes dessa nova economia.
No caso chinês, as normas podem ser consideradas rígidas, pois não há um sistema centralizado de pensões ou seguridade social. Tal questão é um problema crescente no país asiático, tendo em vista que o envelhecimento da população sem um sistema de proteção social acaba por aumentar os distúrbios sociais, justamente o oposto do que deseja o partido único.
Na parte de “EdTechs”, as companhias de educação, o governo chinês também autorizou o fim das escolas e universidades com propósito de lucro.
A decisão, ainda em andamento, fez o JP Morgan reduzir o valor de mercado do mercado de educação chinês de $100 bilhões para $24 bilhões, colocando em suspensão aberturas de capital no setor.
As decisões da ditadura de Pequim também afetam áreas como privacidade do usuários, ao menos em pretexto.
Na prática, Pequim está preocupada que empresas como a DiDi, que venceu o Uber na China e se estabeleceu como principal empresa do setor, possa compartilhar informações de usuários chineses com o resto do mundo.
Há cerca de 3 meses, a mesma alegação foi imputada a Tesla, de Elon Musk, que foi colocada sob suspeita pela mídia estatal e proibida de que seus carros circulem em qualquer área considerada de segurança nacional.
As alegações são ainda mais pesadas sobre empresas que possuem ações negociadas no exterior.
Como Noah Smith ressaltou em seu artigo ao NY Times, a questão envolve ainda um lembrete dado por Pequim de “quem define a agenda”.
Com o aumento de poder das companhias de tecnologia, tradicionalmente de baixa demanda de capital e rápida expansão, Pequim busca assegurar seu poder.
Em dezembro passado, também sob alegações envolvendo dados de usuários, o governo barrou o que seria a maior abertura de capital da história, do Ant Group, a Fintech do Alibaba.
Neste momento, o cenário que se desenha é o de uma maior presença chinesa em áreas como Hardware, algo essencial como tem mostrado a crise dos chips, e menor presença em softwares.
Na prática, estamos vendo ao vivo a maneira como as duas maiores potências globais lidam com suas gigantes de tecnologia, alimentadas não apenas pela evolução tecnológica, mas por uma bolha especulativa na era do capital a juro zero.
O resultado dessa disputa pode ser crucial para definir a geopolítica do século XXI.
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