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Economia

Circuit breaker no Tesouro: o novo normal do Governo Lula?

Uma alta oscilação nos juros futuros gera uma alta volatilidade nos prêmios de prefixados, e por consequência na negociação no mercado secundário. Causando o circuit breaker.

O Tesouro Direto suspendeu negociações devido à alta volatilidade (circuit breaker), duas vezes apenas no pregão desta segunda-feira (16) e ainda apresenta instabilidades durante a tarde inteira. Mas se o pobre não come renda fixa, o que explica esse movimento e como pode afetar a população?

Antes de tudo, vale ressaltar que este mês, outras pausas nas negociações também aconteceram no dia 3, e em outras vezes ao longo do ano. Já a segunda pausa de hoje, por volta das 15h, afetou somente a negociação do Tesouro Direto.

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Apenas títulos do Tesouro Selic estavam disponíveis para negociação. Por outro lado, operações com títulos prefixados e indexados ao IPCA foram suspensas. Já no primeiro circuit breaker do dia, o sistema ficou fora do ar entre 10h50 e 12h30.

Além disso, entre segunda-feira e sexta-feira passada, o site do Tesouro Direito registrou quatro paralisações.

O que é circuit breaker no Tesouro Direto?

Assim como no circuit breaker da Bolsa, a suspensão de negociações pelo Tesouro Nacional tende a acontecer quando há uma volatilidade grande nos preços dos títulos.

A grande volatilidade dificulta a precificação considerada adequada, especialmente dos prefixados, os títulos que detém uma taxa fixa. Comparável ao ‘circuit breaker’ da bolsa, a interrupção visa reduzir esse movimento abrupto.

O Tesouro Nacional usa um “túnel de negociação” que define taxas máximas e mínimas permitidas. Quando a volatilidade dos títulos ultrapassa esses limites, as negociações são temporariamente suspensas para permitir uma reavaliação dos preços.

Além disso, o preço dos títulos públicos é diretamente influenciado pelas taxas de juros e pelas expectativas de juros futuros, refletidas na curva de juros. Por sua vez, a curva de juros disparou nesta segunda (16).

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O que causou o circuit breaker desta segunda, e tantos outros?

Dois fatores principais explicam essa relação entre aumento na curva de juros e a oscilação no preço dos títulos prefixados.

A primeira é referente a competitividade no mercado secundário. A negociação desses ativos em plataformas como a B3 ou Tesouro Direto.

É preciso entender que os títulos prefixados oferecem uma taxa de retorno fixa no momento da compra. Quando as taxas de juros sobem, os novos títulos que passam a ser emitidos com rendimentos mais altos tornam os títulos antigos menos atrativos.

A alta na curva de juros pode pressionar um volume de negociação dos investidores que querem se preparar para isso.

Isso porque, os preços dos títulos antigos caem no mercado secundário, ajustando o rendimento às novas condições do mercado. O movimento de ajuste chama-se marcação à mercado.

Em resumo, uma alta oscilação nos juros futuros gera uma alta volatilidade nessa diferença, e por consequência na negociação no mercado secundário.

Quem quer emprestar dinheiro ao Governo?

O segundo motivo, que é um complemento da primeira, é derivado do governo, e até onde alguém em sã consciência toparia emprestar dinheiro a ele. Portanto, riscos fiscais e econômicos entram na análise.

O Tesouro Nacional utiliza esses títulos para financiar o governo, e a taxa de juros é uma medida do custo de captação. Além disso, a curva de juros incorpora expectativas do mercado sobre fatores como inflação, crescimento econômico e política monetária.

Por exemplo, um cenário de alta inflação ou maior dívida pública pode levar o mercado a exigir taxas mais altas nos prefixados.

Em outras palavras, quando há incerteza fiscal ou econômica, os investidores exigem retornos maiores para compensar o risco de “emprestar dinheiro ao governo”. O que eleva as taxas da curva de juros e pressiona os preços dos títulos para cima.

E o que diz a curva de juros?

A curva de juros intradia desta segunda-feira (16) mostra uma curva de juros prefixada com inclinação ascendente nos prazos curtos. A curva alcança o pico de aproximadamente 15% ao ano em torno de 378 dias.

curva de juros Tesouro circuit breaker
(Imagem: Anbima)

O comportamento da curva mostra que o mercado exige prêmios maiores para emprestar dinheiro ao governo no curto prazo. Isso é um reflexo direto das incertezas fiscais e econômicas atuais, bem como das revisões de projeções de inflação e da Selic, que subiram recentemente, como divulgado no Boletim Focus.

Não é à toa que os três pregões desta segunda “coincidiram” com níveis históricos de rentabilidade nos títulos públicos prefixados. Enquanto que os pós-fixados não foram afetados.

O Tesouro Prefixado 2027, por exemplo, atingiu um retorno anual de 15,17%, o maior já registrado. Já o título com vencimento em 2031 oferecia rentabilidade de 14,61% ao ano, também recorde.

Entre os títulos híbridos, a situação não foi diferente. O Tesouro IPCA+ 2029 chegou a oferecer um retorno anual de IPCA + 7,61%, o maior desde o início de sua negociação, em 2023. Outros títulos de longo prazo, como o Tesouro IPCA+ 2035 e o 2045, também apresentaram recordes, com rentabilidades de IPCA + 7,08% e IPCA + 7,00%, respectivamente.

Circuit breaker no Tesouro: uma análise mais profissional

Para Kemyli Barbosa, assessora de investimentos credenciada pela ANCORD, atualmente, a economia brasileira apresenta sinais positivos, com o PIB em crescimento, a produção acontecendo de forma saudável e o consumo estável.

“Isso significa que não há necessidade de gastar mais do que o país arrecada, especialmente considerando os altos impostos pagos pela população. No entanto, as contas públicas passaram a gerar preocupações e incertezas”, disse.

“Em 14/11/2024, o ministro da Economia, Fernando Haddad, anunciou que divulgaria um pacote de corte de gastos para equilibrar as finanças do governo, mas isso não ocorreu. No mesmo dia, o dólar estava cotado a R$5,79. Quando o anúncio finalmente foi feito em 29/11, as medidas se mostraram ineficientes e a cotação deste subiu para R$5,97. Em 02/12/2024, vimos o valor do dólar atingir R$6,06”, explicou.

Quais serão os impactos?

Conforme avalia a assessora, o valor que uma moeda representa está fortemente ligada à confiança do mercado no governo. A eleição de Donald Trump nos EUA em 2025 também ajudou a fortalecer o dólar. Além disso, o excesso de notícias alarmantes na mídia gerou pânico, o que levou à bastante especulação.

“Embora o circuit breaker tenha sido positivo para os investidores que ganharam 15,39% em títulos com vencimento em 2027, também trouxe impactos negativos para o governo, como: aumento do custo da dívida pública e risco para o crescimento econômico do país. Além disso, a confiança dos investidores foi novamente afetada”, analisa.

A supervalorização do dólar frente ao real não pode ser atribuída a um único fator, mas sim a um conjunto de elementos, discorre a assessora. “Nos próximos meses, podemos enfrentar o fenômeno chamado inflação de infraestrutura, que ocorre quando produtores preferem exportar seus produtos para o exterior, onde podem obter lucros maiores”, comentou.

Isso reduz a oferta interna e faz com que os preços subam, impactando o consumidor final em itens de consumo básico como alimento, soja, café e outros. Inclusive, as empresas de café já anunciaram um aumento de 40% nos preços até janeiro de 2025, conforme o BlockTrends já noticiou anteriormente.

Portanto, para Barbosa, o “próximo desafio” não está ligado ao consumo interno excessivo. Mas na oferta limitada de insumos no mercado nacional.

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