A pessoa que não gosta de, ou tem ressalvas de investir em Bitcoin (BTC), tende a fazer uma série de questionamentos para confrontar a tese de um ‘dinheiro duro’. As vantagens todos já sabem, uma criptomoeda incorruptível por governos, com sua própria inflação que reduz pela metade a cada, religiosos, quatro anos. Mas e os riscos apocalípticos. E se fosse possível quebrar o Bitcoin com computação quântica, por exemplo?
Bom, isso aconteceu. Já é realidade ao menos em partes, conforme mostra Rafael Castaneda, Analista Fundamentalista, Criptólogo e Tecnofilósofo, em thread no X (antigo Twitter).
“Um time de pesquisadores chineses da Universidade de Xangai, anunciou a quebra de criptografia RSA com computação quântica. Mas o que isso significa para o BTC? Segue a thread. Isso é uma notícia alarmante, e nos coloca mais perto do momento em que computadores quânticos se tornam uma real ameaça criptográfica, mas ainda não é o apocalipse”, escreveu.
Conforme ele explica, o Bitcoin usa duas técnicas diferentes. O ECDSA para assegurar chaves públicas/privadas e o SHA-256 para garantir a mineração. Antes de continuar, vale detalhar melhor sobre o funcionamento de ambos.
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ECDSA (Elliptic Curve Digital Signature Algorithm)
O ECDSA é um algoritmo de assinatura digital que usa como base curvas elípticas, e serve para garantir a segurança das transações de Bitcoin. Essa sigla sozinha é capaz de gerar e verificar assinaturas digitais, que são uma parte essencial do sistema de chaves públicas e privadas no Bitcoin.
A curva elíptica é um tipo de criptografia que permite a criação de chaves menores, mas com o mesmo nível de segurança que outros métodos de criptografia mais antigos, como o RSA.
Desse modo, cada usuário possui uma chave privada (secreta) e uma chave pública (divulgada). Quando uma transação é realizada, o remetente usa sua chave privada para gerar uma assinatura digital. Desse modo, prova que é o proprietário dos fundos sem precisar expor sua chave privada.
Essa assinatura pode ser verificada por qualquer pessoa utilizando a chave pública associada, garantindo que a transação foi realmente autorizada pelo dono da chave.
SHA-256 (Secure Hash Algorithm)
Por sua vez, o SHA-256 é um algoritmo de hash criptográfico que transforma qualquer entrada de dados (de qualquer tamanho) em uma saída de comprimento fixo de 256 bits (32 bytes).
No Bitcoin, o SHA-256 garante a integridade e a segurança das transações e da mineração. Durante a mineração, os mineradores tentam resolver um problema computacional ao encontrar um valor específico que, ao ser passado pelo algoritmo SHA-256, gera um hash que atenda a certos critérios (como ter um determinado número de zeros à frente).
Em resumo, é a tecnologia que viabiliza a mineração, ou “proof of work” (prova de trabalho).
A função de hash SHA-256 tem duas propriedades importantes. A primeira delas é que é determinística, ou seja, a mesma entrada sempre gera a mesma saída. Além disso, é resistente a colisões, o que significa que é extremamente difícil encontrar duas entradas diferentes que produzam o mesmo hash.
Além disso, qualquer pequena alteração na entrada resulta em um hash completamente diferente. Isso garante que os dados na blockchain do Bitcoin, uma vez registrados, não possam ser alterados ou corrompidos sem que o hash correspondente mude drasticamente, expondo a tentativa de fraude.
Cientistas ainda estão longe de quebrar Bitcoin com computação quântica
Desse modo, conforme conta Castaneda, ambas técnicas são ordens de grandeza mais sofisiticadas que o atual RSA que foi quebrado, e ainda não estão sob ameaça.
“Mesmo a técnica RSA também pode variar em dificuldade para ser quebrada, dependendo de quantos bits são utilizados. O time chinês quebrou um RSA de 22-bits enquanto comumente hoje utilizamos RSAs de 2048-bit ou mais, algo que mesmo o computador quântico chinês ainda está longe de conseguir atacar”, avaliou.
E sim, no caso de uma chance mínima de realmente a computação quântica quebrar o Bitcoin, os cenários são preocupantes, como conta Castaneda. Ele diz que um atacante poderia adivinhar a chave privada de uma carteira a partir da chave pública, e assim movimentar os fundos de qualquer um na rede.
Já no caso de uma quebra do SHA-256, que garante a mineração (validação), o atacante poderia dominar o consenso do Bitcoin e realizar ataques de 51%. Desse modo, censurando transações, reorganizando blocos no histórico da rede, e podendo “gastar o mesmo bitcoin duas vezes”, o que chamamos de um ataque de “gasto duplo”.
Quando doer no bolso…
Apesar disso, para Cauê Oliveira, analista-chefe do BlockTrends PRO, existem outros pontos para se levar em consideração. E que deixam os investidores de Bitcoin mais tranquilos em relação à computação quântica. E eles são simplesmente a capacidade do ser humano evoluir tecnologicamente, de todos os lados, inclusive no Bitcoin.
“Quando virar uma ameaça séria, acho que a maioria dos devs já irão ter passado BIPs [propostas de melhorias na rede] para evitar. Eles devem ter patrimônio todo em Bitcoin, sem falar de empresas, baleias como Saylor, Metaplanet, etc. Somente desse pessoal sentir o cheiro desse risco chegando vão começar a pressionar desenvolvimento de soluções”, avalia.
Ou seja, incentivos econômicos, e ameaças ao bolso, não iriam permitir que os grandes observem a computação quântica ameaçar o Bitcoin sem mover um músculo para tentar evitar.
“Essa é a beleza dos incentivos econômicos em torno da segurança do BTC. Todo miner é inerentemente incubido de ajudar a fazer a segurança e eventualmente, todo holder também. Diferente da moeda fiduciária, que é o holder é pressionado a articular como corromper”, finalizou Cauê.
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