No fim dos anos 60 a internet foi criada para ser uma forma de comunicação entre laboratórios científicos americanos e mais tarde foi expandida para a academia. Mas só no fim dos anos 80, com a criação da World Wide Web (www), foi levada comercialmente ao cidadão comum. Hoje em dia, nossos jovens já não sabem como era o mundo antes das empresas como Google, Facebook, Uber, Netflix, Paypal. Em agosto deste ano, durante o BlockTrends, evento ocorrido no Rio de Janeiro, Ryan Lackey, membro do conselho da Tezos Foundation, avaliou que, em comparação com a evolução da internet, a tecnologia blockchain já estaria na fase comercial:
– A internet começou a fazer parte do cotidiano do consumidor no fim dos 90 e, nos últimos 5 anos, tomou conta de tudo na nossa vida, política, finanças entre outros. Blockchain e criptoativos são algo assim. Em relação a isso, [a blockchain] estaria em 1995, na escala do tempo.
Mesmo quando a internet começou a ser utilizada comercialmente, era restrita a um grupo de entusiastas, early adopters e acadêmicos da área. Era vista com desconfiança pela população, e geralmente pessoas mais velhas alertavam os jovens sobre os perigos de se aventurar na web. Na época, o apresentador David Letterman entrevistou Bill Gates e foi bastante cético e debochado a respeito da nova tecnologia.
Anos depois, ao entrevistar Melinda Gates, esposa de Bill, o apresentador se desculpou e disse que foi uma das suas maiores vergonhas. Durante a abertura do BlockTrends, Fernando Carvalho, CEO da QR Capital, comentou como novas tecnologias costumam ser recebidas com o mesmo receio e ceticismo:
– Toda nova tecnologia passa por um processo natural de maturação, e com a blockchain não podia ser diferente. Estamos num estágio inicial em blockchain. O movimento está só começando, e é normal que assuste. Mas, um dia, sem dúvida vai ser uma tecnologia mainstream.
POTENCIAL ESCONDIDO
O empresário Joitchi “Joi” Ito, ex-diretor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Media Lab, escreveu um texto, em 2015, comparando sua experiência como usuário e entusiasta da internet nos anos 80/90 e, mais recentemente, do bitcoin e da blockchain. Ito conta que ele dava palestras em empresas de publicidade sobre o potencial disruptivo da internet, mas tinha pouca ou nenhuma receptividade.
Segundo ele, ninguém imaginava como a internet poderia mudar o comércio e a mídia para sempre, porque as gigantes Amazon, eBay e Google ainda não existiam. “O Bitcoin é o primeiro ‘aplicativo de sucesso’ da blockchain, assim como o e-mail foi o ‘aplicativo de sucesso’ para a Internet. Estamos no processo de invenção do eBay, Amazon e Google. A blockchain será para bancos, direito e contabilidade, como a Internet era para mídia, comércio e publicidade. Reduzirá custos, desintermediará muitas camadas de negócios e reduzirá o atrito.”
É importante lembrar que esse artigo foi escrito em 2015, de lá pra cá a blockchain e os criptoativos chamaram a atenção de banco e instituições financeiras. O Facebook, um gigante tardio da internet, anunciou a criação de uma criptomoeda em parceria com outras grandes empresas da web; a ICE (Intercontinental Exchange), empresa responsável pela Bolsa de Valores de Nova York, lançou sua corretora de criptoativos, a Bakkt; o Banco Mundial já emite títulos em blockchain; e entre outros.
No Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem usado blockchain para simplificar e tornar mais transparentes seus financiamentos; o BTG Pactual criou um ativo criptográfico para investimento no mercado imobiliário; a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que criou um sandbox regulatório para permitir ambientes regulatórios experimentais; e mais. Ou seja, o potencial disruptivo da blockchain já foi reconhecido e está sendo explorado. Daqui a alguns anos os jovens já não saberão como o mundo era sem blockchain e os criptoativos.
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