O mercado securitário, especialmente no setor de resseguros, essencial para o equilíbrio financeiro de grandes riscos, ainda enfrenta sérias lacunas tecnológicas. Lacunas que a tecnologia blockchain poderia resolver, e a B3 sabe disso. Foi o que mostrou, Ícaro Demarchi Araújo Leite, superintendente de Seguros e Prevenção à Fraude da B3, durante o Criptorama 2024.
No painel do evento que a ABCripto organizou, ele destacou como o uso de blockchain pode transformar esse mercado, mas revelou em entrevista ao BlockTrends que a implementação ainda não deslanchou. “Apesar do potencial disruptivo, muitas iniciativas ainda estão ‘na gaveta’, aguardando o momento certo para serem retomadas”, disse.
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Resseguros e blockchain
Segundo Ícaro, o mercado de resseguros ainda opera com sistemas arcaicos e processos manuais que dificultam a padronização e a transparência. O mesmo sistema que usam há 400 anos, usam até hoje no mundo todo.
“Muitas seguradoras não possuem sistemas adequados para lidar com operações de resseguros, e o mercado carece de uma infraestrutura robusta para negociar, escriturar e liquidar contratos”, explicou.
Além disso, ele apontou a falta de uniformidade nas informações transmitidas entre seguradoras e resseguradoras como um dos principais entraves. “A qualidade dos dados utilizados na subscrição de resseguros é extremamente variável, o que gera insegurança e assimetria nas transações”, afirmou.
Durante sua palestra, Ícaro apresentou um modelo da B3 baseado em blockchain como solução para essas lacunas. A proposta envolve o uso de uma plataforma em DLT, blockchain privada, que automatiza processos de reporte, validação e liquidação de contratos por meio de smart contracts e um livro-razão distribuído. As partes envolvem seguradoras, brokers e resseguradoras.
Ele disse que a Suíça tinha planos de transformar o mercado através da blockchain, em um projeto similar, mas provavelmente o fato de que, no sistema deles, um broker não teria utilidade, desanimou o projeto. E posteriormente encerrou-se.
“O blockchain pode trazer velocidade, transparência, segurança e integração ao mercado. É uma ferramenta pronta para revolucionar o setor”, explicou.
Projeto ainda na gaveta
No entanto, Ícaro revelou que uma plataforma blockchain já desenvolvida pela B3 está temporariamente “na gaveta”. “Ela foi criada com a ideia de ser um serviço completo, pronto para seguradoras, resseguradoras e corretores utilizarem sem grandes adaptações.”
“Planejamos para Tudo para ser fluido e de fácil uso, mas, no momento, está parada. Desligamos os servidores em cloud, mas o sistema está pronto para ser reativado a qualquer momento”, explicou.
O motivo para a pausa, segundo Ícaro, foi a priorização de outras iniciativas dentro da B3. Contudo, ele indicou que há uma vontade de retomar o projeto. “Antes de vir para o evento, mandei uma mensagem ao meu time dizendo: ‘Vamos retomar essas discussões?’ O blockchain e os smart contracts estão ganhando força, e acredito que esse é o momento certo para voltarmos a conversar com o mercado sobre essa tecnologia.”
Conexão com o DREX
Ícaro também destacou o potencial de integração da plataforma com o DREX, o real digital do Banco Central. “O DREX é perfeito para esse tipo de operação. A ideia de usá-lo como meio de liquidação dentro de um ecossistema blockchain faz todo o sentido. Especialmente em um mercado que não exige latências extremamente baixas ou transações complexas”, comentou.
Ele mencionou ainda a possibilidade de criar uma stablecoin própria dentro da plataforma para facilitar transações específicas. “Chegamos a considerar isso no início, mas o surgimento do DREX torna esse processo ainda mais simples e viável”, afirmou.
Desafios Regulatórios e Disrupção
Apesar do otimismo, Ícaro reconheceu que o mercado securitário enfrenta desafios regulatórios significativos. “O setor é altamente regulado, e isso é essencial para proteger o dinheiro das pessoas. Mas acredito que modelos disruptivos, como os baseados em blockchain, têm espaço para crescer, ainda que inicialmente operem na borda da legislação”, destacou.
Papel do regulador
Ele enfatizou que o regulador terá um papel crucial na adaptação das normas para permitir a implementação de novas tecnologias. “A regulação muitas vezes surge como resposta à inovação. Alguém precisa testar, demonstrar valor e, a partir disso, o regulador ajusta as regras para garantir segurança e conformidade”, explicou.
O BlockTrends questionou Ícaro sobre como conceitos do blockchain, como o proof of stake, poderiam aplicar-se ao mercado de resseguros. Em um modelo futurista, segurados poderiam alocar fundos em contratos inteligentes, que funcionariam como garantia para validação de transações e pagamentos automáticos.
“É uma ideia disruptiva, mas viável. A tecnologia está pronta, mas precisaríamos de um ambiente regulatório mais flexível para que isso aconteça de forma legal. O mercado precisaria abraçar essa inovação e, a partir disso, gerar interesse suficiente para justificar ajustes regulatórios”, comentou Ícaro.
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