Com suas ações na máxima histórica, a Tesla, companhia comandada por Elon Musk, tornou-se agora a sexta mais valiosa dos Estados Unidos.
Seus $600 bilhões de dólares em valor de mercado a colocam não apenas a frente de outra gigante, a Berkshire Hattaway, de Warren Buffett, como também reaviva uma comparação que já ficou batida, com o valor de gigantes do setor automotivo.
A Tesla vale sozinha mais do que todas as maiores montadoras do planeta somadas. Coloque Volkswagen, GM, Fiat, Toyota e qualquer outra que você consiga imaginar na conta, e o resultado final ainda será menor do que os tais $600 bi.
Tudo isso, claro, produzindo 365 mil veículos, contra 92 milhões do total fabricado no mundo.
Os números estarrecedores a primeira vista, podem soar mais compreensíveis quando se tem em mente que mesmo gigantes como a alemã Volkswagen, que lucrou $19,6 bilhões em 2019, contra um prejuízo de $862 milhões da empresa americana, já manifestam seu entusiasmo com a empresa de Musk.
Em abril deste ano, com a companhia americana valendo $138 bilhões em bolsa, o CEO da empresa alemã declarou que a “A Tesla está a frente de todas as outras companhias de automóveis”.
Para quem é amante da história do automobilismo, a ideia de um veículo elétrico não chega a ser nova. De fato, os primeiros veículos seguiam essa linha, tendo a combustão vencido o jogo pela mesma maneira como o petróleo se tornou dominante no planeta: eficiência energética.
Eficiência energética também é uma das razões que fazem da Tesla a companhia líder no setor.
Para ser mais preciso, o mercado ainda possui dúvidas se a Tesla é de fato uma fabricante de veículos ou uma companhia capaz de dominar o “triunvirato energético”, como classifica a revista americana Business Insider.
O tal triunvirato que se traduz em transporte, moradia e armazenamento, seria capaz de tornar cada ser ou humano independente energeticamente.
Na prática significa que você não precisaria depender mais de uma companhia elétrica para manter sua casa ou de uma empresa de combustíveis para se locomover.
Tudo isso, claro, livre de emissões de carbono.
Se sair do papel, o plano pode tornar a Tesla uma empresa essencial para o planeta em uma época na qual as preocupações climáticas se tornam prioridade (ao menos para a classe média urbana em países ocidentais).
A Tesla se tornaria com isso não uma empresa que fábrica carros, mas uma empresa que fabrica “um mundo menos dependente de emissões de carbono”.
A eleição de Biden, que especula-se tenha levado a um rally de valorização das ações da empresa, pode indicar que estes subsídios não apenas seguirão, como ganharão uma enorme força.
Uma empresa de tecnologia, que vale algo como 1300 vezes seu lucro estimado para 2020, poderia facilmente se beneficiar deste novo direcionamento, em especial ao agregar valor a sua marca.
Explico. Carros elétricos não são coisa de outro mundo. Um carro Tesla porém, se vende sozinho, ou 365 mil vezes sozinho com direito a fila de espera, sem 1 centavo gasto em publicidade.
O poder da marca ajuda a empresa a se consolidar como uma solucionadora de um problema que tem ganhado atenção cada vez maior.
Poderia ser apenas uma bolha? Sem dúvidas. Outras empresas poderão gerar soluções melhores e mais competitivas em preço, fazendo a Tesla perder espaço em um mercado que se atribui como “natural” para ela no futuro.
A vantagem da empresa porém está em seu novo modelo de produção. Assim como o Fordismo e a linha de produção (uma invenção criada para produzir o ketchup Heinz e que Henry Ford popularizou com os veículos modelo T), ou o Toyotismo, o modelo da Tesla (e da SpaceX), de domínio da tecnologia é bastante inovador.
Isso significa que ao desenvolver uma bateria que dure 1 milhão de Km, algo surreal para qualquer veículo, a companhia pode ainda explorar essa inovação em armazenamento de energia para casas, ou abastecimento em áreas remotas.
Da mesma maneira ao reduzir em até 10 vezes o custo de lançamento de um foguete, Musk torna viável que sua empresa de internet via satélite envie dezenas de milhares de satélites para o espaço e ainda assim ofereça um preço competitivo.
Mesmo o que poderia ser uma distinção sua em relação a outras empresas de tecnologia, o alto custo de capital fixo, ganha uma solução em meio a um mundo de juros 0.
Na prática, se empresas como a própria Volkswagen, ou Toyota, tiveram de construir sua estrutura com custos de capital elevado, a Tesla encontra hoje um mercado com liquidez abundante.
Com juros zero, você sabe, o retorno esperado em outras áreas pode demorar mais. Não há pressa pra gerar resultados de curto prazo se a opção para investir em tecnologia, por exemplo, é investir no tesouro americano e ganhar exatamente 0, ou menos.
O mercado se torna mais paciente, e por vezes burro (para ser direto). Investindo bilhões em empresas que ainda não tem uma clareza de como irão ganhar dinheiro no futuro (como a Uber, ou no caso mais dramático, o WeWork, a empresa de tecnologia que era na verdade uma empresa de aluguel subsidiado pelos investidores).
Tudo isso ainda ganha uma aura mítica quando pensamos na Amazon, a empresa do hoje único homem mais rico do que Elon Musk, e também investidor em companhias de foguetes espaciais, Jeff Bezos.
Por décadas a Amazon gerou caixa, mas não gerou lucro. Isso significa que ela reinvestiu praticamente todo seu lucro.
Hoje, ao criar uma vertente de negócios que não existia na sua fundação, a Amazon Web Service, vê seu lucro crescer acima de 20% ao ano, praticamente sem concorrentes nos setores em que atua.
Se o mercado estiver errado e a Tesla não conseguir entregar estes resultados, alguns milhões de pessoas incluindo brasileiros que compraram os BDRs da Tesla na Bovespa (os BDRs mais negociados em bolsa por aqui), irão amargar um prejuízo alto, mas suportável.
Caso a empresa tenha sucesso, sua capacidade de revolucionar inúmeros setores é ainda incalculável.
Será, para o bem ou para o mal, um caso transformador do mercado e da sociedade. E o melhor é que você pode tanto investir junto quanto fazer uma pipoca e apenas acompanhar. A escolha é sua.
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