A contratação de Neymar pelo francês Paris Saint-Germain caiu como uma verdadeira bomba no mundo do futebol. Pelos valores envolvidos no negócio, trata-se da mais cara transação já realizada na história desse esporte.
A pergunta gerada após dela, no entanto, você já deve ter visto na sua redes sociais em algum momento: é justo que um desportista receba tanto (cerca de 40 milhões de euros por ano pelo mesmo contrato) enquanto há professores, profissionais importantes para o desenvolvimento do país, recebendo tão pouco?
À primeira vista, a pergunta pode até parecer ter um pouco de razão. Afinal, se em última instância cabe à sociedade definir a importância de cada trabalho, suas remunerações deveriam seguir uma lógica similar. Ou seja: nós deveríamos nos basearmos na utilidade que cada trabalhador agrega a sociedade, não é mesmo?
Definir como se formam os salários é um desafio e tanto – e na maior parte das vezes, algo consideravelmente subjetivo. Como a Autoridade de Investimentos do Catar, no entanto, dona do PSG, sabe bem, o que Neymar agrega ao clube, e ao próprio país que sediará a Copa do Mundo em 2022, vai muito além do seu trabalho dentro de campo.
Assim como uma pequena elite dos profissionais de futebol, que no Brasil mal atinge 2% do totais de jogadores, Neymar é hoje uma empresa que oferece entretenimento a milhões de torcedores mundo afora – e visibilidade às marcas agregadas à sua imagem. Em um mundo, afinal, onde a maior parte da população não saberia apontar o Catar no mapa mundi, ligar-se a um dos jogadores mais conhecidos do planeta parece fazer todo sentido para quem possui a necessidade de divulgar uma Copa do Mundo.
Quando se trata de salários, porém, as coisas mudam de figura. Como mostra o INEP, órgão ligado ao Ministério da Educação, nossos professores ainda sofrem uma imensa desigualdade salarial – mas entre eles próprios. Entre os 23 mil professores brasileiros a nível federal, a média salarial para 40 horas alcança R$ 7,7 mil, contra R$ 3,47 mil da média salarial das redes de ensino estaduais. O problema nessa conta: professores federais são menos de 1% do total.
Em universidades, a média pode chegar a R$ 16,2 mil, na UNB onde se paga melhor, ou R$ 13,2 mil, se considerarmos todas as universidades públicas do país. Na prática, os 120 mil professores com mestrado ou doutorado no Brasil ganham mais do que 98% dos jogadores de futebol brasileiros. Por aqui, entre os 23 mil jogadores, apenas 620 ganham acima de R$ 12,4 mil. Não apenas isso: cerca de 82% destes mesmos jogadores ganham menos de dois salários mínimos – portanto menos que a média dos professores de ensino básico.
Como mostram diversas cidades do país, no entanto como a capital gaúcha Porto Alegre, que possui os maiores salários do setor (em média R$ 9,2 mil para professores do ensino básico) e o 4º pior resultado brasileiro no índice que mede o desenvolvimento da educação, mais dinheiro não significa necessariamente melhor qualidade. Sem gestão, é como nadar contra a maré.
E a própria educação pode ser um bom exemplo disso. Há mais professores milionários no estado de Ontário no Canadá do que milionários no Brasil inteiro – isto porque estes professores são donos de um fundo de pensão com quase US$ 130 bilhões em patrimônio, o que torna qualquer pessoa que tenha contribuído por 25 anos, um milionário.
Ainda que se trate de uma grande exceção, porém, Neymar não aparece tão bem na foto quando comparado a alguns professores que, assim como ele, deixaram de atender apenas alguns alunos e passaram a oferecer educação – e não entretenimento – a milhões de pessoas. O resultado? Como você confere abaixo, deixaram o craque brasileiro no chinelo.
Byju Raveendran
O professor indiano de 37 anos lançou um app, que leva seu nome, e disponibiliza 1000 horas de conteúdo por $400 dólares.
Em meio a pandemia de Covid, Byju tornou seu app gratuito, atingindo a impressionante marca de 45 milhões de usuários.
Mesmo antes do cenário atual porém, investidores já haviam avaliado sua empresa em $6 bilhões, e Byju havia fechado um contrato com a toda poderosa Disney, para lançar seu app nos Estados Unidos.
Enquanto o Brasil ainda engatinha em educação a distância, a despeito do empurrão ocorrido com a pandemia, o app indiano disponibiliza conteúdo a um preço quase irrisório de $0,4 por hora aula, permitindo que um mesmo professor esteja disponível para milhares de alunos.
Carlos Wizard
Tornar-se um bilionário na área de educação não é das tarefas mais fáceis. Imagine, no entanto, conseguir isso em um país tradicionalmente tão pouco afeito a investir nisto quanto o Brasil.
Carlos Wizard, ou Carlos Martins, seu verdadeiro nome, tornou-se um fenômeno ao descobrir que era possível fazer o brasileiro compreender o poder de estudar inglês nos dias de hoje.
Depois de viajar para os Estados Unidos com 100 dólares no bolso, com o intuito de aprender o idioma local, Carlos retornou ao Brasil e começou a dar aulas na própria casa, com um foco até então ignorado pelas grandes redes: conversação.
Foi ajudando as pessoas a ganharem prática na conversação em inglês que abriu sua primeira escola de idiomas – a Wizard, com cerca de 100 alunos. E depois dela foram inúmeras outras, a maior parte em um modelo de franquias.
O número 100 acabou se tornando emblemático, não apenas por marcar a quantidade de alunos que sua primeira escola contava, como também o número de milionários que a Wizard criou ao longo dos anos ao permitir que inúmeros outros professores e empreendedores utilizassem seu método para educar jovens e adultos.
Em 2013, Carlos vendeu sua rede de ensino ao grupo Person por R$ 2 bilhões, o suficiente para contar com Neymar por quase 12 anos, incluindo aí a multa rescisória com o Barcelona de R$ 880 milhões.
Adi Shamir
Graduado em matemática pela Universidade de Tel Aviv, Shamir ao contrário da maior parte dos professores que estamos acostumados, levou seu foco para a área de pesquisa, onde aliando-se à sua formação na área de computação, tornou-se célebre por desenvolver algoritmos e criptografia.
Graças às suas pesquisas e desenvolvimentos, como o RSA, Shamir recebeu inúmeros prêmios, como a medalha Turing, em homenagem ao criptografista inglês, Alan Turing, que desvendou a máquina Enigma dos alemães, ajudando os aliados a preverem ataques e vencerem a Segunda Guerra Mundial.
Suas contribuições, no entanto, se estendem à área de ensino – além da pesquisa onde se consagrou, Shamir é responsável por escrever inúmeros livros de matemática utilizados para ensinar adolescentes nas High Schools americanas. Adi é o que se pode chamar de o professor do seu professor.
Sua fortuna é avaliada em 2.3 bilhões de dólares.
David Cheriton
Sergey Brin e Larry Page provavelmente são nomes familiares para você, mas se não estiver ligando o nome a pessoa, ou mais precisamente, o nome ao invento, ambos são ex-estudantes de Stanford e criadores do Google.
Em comum, Sergey e Larry possuem um bacharelado em computação e um mesmo professor: David Cheriton.
Ainda hoje, o professor dos célebres fundadores do Google trabalha com seus estudantes na universidade americana para desenvolver sistemas transacionais de memória.
Graças à proximidade com alunos promissores, o então professor tornou-se o primeiro a assinar um cheque para ajudar aquela que se tornaria a segunda companhia mais valiosa do mundo, a Alphabet (dona do Google). Com um cheque de US$ 100 mil, e uma mentoria na área, Cheriton ajudou seus estudantes a mudar definitivamente a forma como você enxerga a internet hoje.
Seu patrimônio atual, estimado em US$ 3,4 bilhões, deve-se não apenas a isto, mas a diversos outros empreendimentos, ao menos vinte conhecidos, ligados a apostas junto a alunos que tiveram com ele não somente aulas, mas conselhos para criar empresas que mudassem a ciência e tecnologia.
Como resultado de empreendimentos tão bem sucedidos, David é hoje um dos maiores doadores do ensino privado americano.
Henry Samueli
Filho de judeus poloneses sobreviventes do holocausto, Henry Samueli tornou-se PhD em engenharia elétrica pela UCLA, na California. E por quase 15 anos deu aula na universidade, até que em 1991, junto de outro aluno, decidiu aplicar US$ 5 mil para fundar a Broadcom, companhia que cresceria e se tornaria uma das mais relevantes fabricantes de semi-condutores dos Estados Unidos.
Apenas em 1998, quando sua empresa se tornou pública – e Samueli já completava mais de duas décadas como professor – tomou a decisão de deixar as salas de aula para dedicar-se à vida de empresário. Ainda assim, seu nome ainda consta no hall de professores da prestigiada UCLA, onde é hoje um dos maiores contribuidores com doações na casa dos milhões de dólares ao ano.
Samueli, no entanto, ainda ministra aulas eventuais na universidade, como convidado, enquanto não está dividindo seu tempo entre gerir a própria empresa ou o Clube de Hockey do qual tornou-se dono (e certamente mais ricos que todos os jogadores do time canadense).
Altamiro Galindo
Fundada em 1988 no interior paulista, a Iuni é o primeiro grande salto do então professor, que tornou-se reitor, Altamiro Galindo. Sua atuação à frente da universidade tornou-se um modelo capaz de fazer o fundo americano Advent se curvar à gestão promovida pela família e colocá-la a frente de toda sua operação no Brasil, que atende pelo nome de Cogna (antiga Kroton). Mesmo com 6,3% das ações da nova empresa, seu filho Rodrigo Galindo, assumiu o comando da empresa e a levou, por meio de uma série de fusões e aquisições, a se tornar a maior empresa de educação do mundo.
Há hoje na Cogna, 1.015 milhão de alunos – número próximo dos 1,5 milhão de brasileiros estudando em universidades públicas.
Com um valor de mercado de R$ 23,99 bilhões, a Kroton é atualmente uma das empresas do setor que mais cresce e se diversifica para áreas como ensino básico.Altamiro Galindo segue no conselho da empresa, e sua família ainda mantém 5% da companhia, suficiente para comprar o passe de Neymar.
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