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Economia

5 coisas que você precisa saber para entender a inflação brasileira hoje

Pela primeira vez desde a recessão de 2015, a inflação ultrapassou os 10% em 12 meses. Um descontrole que ameaça o consumo das famílias e possui consequências sociais perversas.

Bill Philips nasceu na Nova Zelândia, em 1914, para ser mais exato. Filho de agricultores, Phill é provavelmente o único economista a merecer uma biografia em formato de “filme de ação”.

Antes mesmo de concluir a escola, teve de se mudar para a Austrália. Por lá trabalhou como caçador de crocodilos e gerente de um cinema local. Na sequência, mudou-se para a China, mas foi forçado a deixar o país graças a invasão japonesa.

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De lá, fugiu para a Rússia, onde por meio de uma viagem na transiberiana, chegaria ao Reino Unido, onde estudou engenharia elétrica.

Com o início da segunda guerra mundial, se alistou na Força Aérea, sendo enviado para Singapura (possessão inglesa). Por lá, foi capturado por japoneses, passando 3 anos e meio em um campo de prisioneiros.

Durante a estadia no campo, seu gênio inventivo o levou a criar um rádio, que cabia em uma sola de sapato, além de outros aparatos eletrônicos.

Foi só após a guerra que Bill, voltaria ao Reino Unido, e na London School of Economics, apresentaria o Moniac, o primeiro computador da história capaz de ajustar variáveis econômicas, por meio de tubos e água.

O sistema hidráulico de Philipps era capaz de medir com precisão o efeito dos juros no aumento do PIB, da Inflação, da renda nacional ou qualquer outra variável.

Na prática, Bill demonstrou que havia uma troca possível entre inflação e desemprego. Um pouco mais de inflação diminuia o desemprego, e vice-versa.

Seria uma história de sucesso, claro, não fossem os anos 70.

Em meio a uma guerra entre Israel e países árabes, o mundo conheceu o primeiro choque do petróleo, em 1973, levando a economia global a conhecer pela primeira vez a palavra “estagflação”.

Em resumo, o crescimento diminuiu, aumentando o desemprego, em um período onde a inflação estava nas alturas.

Foi ali, que de uma vez por todas os economistas aprenderam que não há uma fórmula mágica para variáveis econômicas.

Ou melhor, deveria ter sido. Fato é que governantes, e principalmente os membros do Banco Central, não aprenderam, e em muitos casos, continuam acreditando que “um pouco de inflação”, vai aquecer e recuperar a economia.

O problema, claro, é que o pouco vira muito e a dose nunca é previsível como queria Philipps em seu Moniac. Isso é parte importante do que está rolando, um descontrole inflacionário.

Mas vamos falar do que importa: o Brasil e o seu bolso.

Isso é o que você precisa saber para entender a inflação brasileira hoje

1 – Nunca antes tanto dinheiro foi impresso no mundo

Ainda que a expressão “imprimir dinheiro” tenha se tornado popular, há um certo engano com ela. Em um mundo onde o dinheiro é cada vez mais digital, imprimir significa na prática “criar”, ou ainda, injetar dinheiro.

Pode ser criar, quando o assunto é o FED, o banco central americano, criando dinheiro para comprar títulos do governo americano, ou injetar quando falamos do Brasil.

Por aqui, o Banco Central é proibido de comprar títulos do governo. Isso ocorre por razões históricas: governantes usaram e abusaram da capacidade de criar dinheiro para se financiar.

Mas isso não significa que não tenhamos também “imprimido dinheiro”. Fizemos por aqui uma outra tática: usamos o nosso “colchão de liquidez”.

Em resumo, nosso governo costuma vender muito mais títulos públicos do que o necessário, mantendo R$700-R$1 trilhão guardados, para poder usar quando as emissões de dívida se tornam difíceis, ou quando realmente precisamos gastar, como em uma pandemia.

Isso permitiu que o governo para financiar seu déficit de R$800 bilhões em 2020, não precisasse tirar R$800 bilhões do mercado, o que seria uma catástrofe.

Pegamos a grana que tinha sido emitida ali por 2014-2015 e gastamos. É uma maneira de criar um seguro, com um custo bastante elevado. Na prática pagamos mais juros do que deveríamos apenas para nos proteger.

O custo disso pode checar a 14%, se seguir a Selic. Sobre os R$700 bilhões, significa que pagamos por volta de R$100 bilhões em juros todos os anos para nos proteger.

De um modo ou de outro, no meio da pandemia, jogamos essa grana na economia.

Pagamos o auxílio emergencial, demos dinheiro aos Estados e municípios para pagarem suas contas e aumentamos os gastos.

A consequência disso foi um aumento expressivo nas vendas do comércio, mesmo em meio a queda de renda.

Durante boa parte da pandemia, a renda de parte da população cresceu, e a desigualdade caiu.

Consumo em alta com produção sofrendo e sendo paralisada cria um “choque de demanda”. As pessoas tinham dinheiro e demandavam consumir. O problema? Quase ninguém percebia.

2 – O consumo da população mudou, e enganou o Banco Central

O IPCA, índice mais comum de inflação, é medido por uma cesta de consumo.

Isso significa dizer que se o consumo de alimentos representa 20% daquilo que as famílias consomem, e os alimentos aumentam 10%, a inflação em geral aumenta 20/10, ou seja, 2%.

O que acontece em meio a uma pandemia onde as pessoas saem menos de casa, consomem menos roupas, escritórios consomem menos energia e assim por diante? A cesta muda, e muito!

O consumo de alimentos aumentou bastante durante a Pandemia, enquanto saúde privada, alimentação fora de casa, vestuário, habitação, educação e energia caíram (incluindo aí as fábricas fechadas).

De olho no índice geral, com a cesta de consumo antiga, o Banco Central decidiu baixar os juros, pois estávamos com deflação no início da pandemia.

Os juros caíram até surreais 2% positivos. Quando a inflação voltou, passamos a ter juros negativos.

Sim. O Brasil, país que há 7 anos está em déficit primário (sem recursos para pagar suas despesas), lhe cobra para pegar dinheiro emprestado seu.

Você emprestaria dinheiro ao governo brasileiro sabendo que perde sua grana com isso? Claro que não. E nem os gringos caíram nessa.

3 – Os juros muito baixos fizeram o real implodir

Com juros muito baixos, os investidores saíram do Brasil. Na prática, não fazia sentido receber -4% no Brasil e -0.2% na Suíça.

Isso porque o Brasil e sua instabilidade política e econômica apresentam um perigo bastante elevado para quem investe.

Mesmo os brasileiros descobriram que investir lá fora faz bastante sentido.

O resultado, claro, é que com menos dólares aqui, a nossa moeda implodiu, sendo a segunda que mais perdeu valor no mundo. Só ganhamos da Argentina

Para os produtores foi relativamente positivo. Apesar de comprarem insumos para produção agrícola vindos do exterior, e pagarem mais caro por isso, conseguiram vender por valores maiores.

Não apenas o preço da soja, carne e trigo aumentou em reais, como também os produtos começaram a faltar aqui, por serem exportados.

Foi um recorde de exportações que ajudou o PIB, mas prejudicou as famílias.

E lembra que o consumo de alimentos ganhou maior importância nos gastos totais? Então.. as famílias queriam consumir mais, mas os preços aumentam. O choque nesse item da inflação ganhou peso maior ainda.

4 – A retomada desigual na economia está aumentando as crises

O crescimento chinês mesmo em 2020 garantiu uma pressão especial sobre produtos agrícolas. Na prática, a economia chinesa crescendo leva a um aumento de demanda por alimentos, o que colabora para expandir exportações.

Com fábricas fechadas, porém, essa produção acaba entrando em descompasso.

BRF, JBS e outras exportadoras de carne brasileira precisaram fechar suas indústrias, os mesmo passo, a demanda pelo país asiático seguiu.

O mesmo ocorre em diversos outros setores, e agora ganha companhia da economia americana, além da europeia.

O aumento do consumo das famílias que se segue aos empregos gerados por lá, vai pressionando as cadeias de produção globais.

O ajuste também leva em conta o fato de alguns setores estarem “sobrecarregados”, e incapazes de atender a demanda.

Veículos, por exemplo, dependem de semicondutores, uma indústria que já opera no limite.

Ainda que o preço do carro zero não entre no índice de inflação, o aumento de preço eleva os custos das famílias com IPVA e outras despesas.

Também é importante notar o aumento da demanda global de energia, que força um aumento em commodities como petróleo, de onde sai a gasolina.

5 – Os outros fatores: fiscal, crise energética e o etanol na gasolina

Falando em petróleo, o crescimento econômico tem elevado a demanda. Com o real valendo menos, pagamos hoje mais caro pelo barril de petróleo e consequentemente pela gasolina.

Some a isso o aumento da demanda global de açúcar, que reduz a disponibilidade de etanol (que por aqui compõe ¼ da gasolina vendida nos postos), e o aumento de preço vai se tornando mais relevante. O etanol já subiu 50% este ano.

A crise energética brasileira nos meses onde faltam chuvas também é uma velha conhecida. Nenhuma novidade neste período.

O risco fiscal, curiosamente, tem diminuído. Isso ocorre pois a inflação melhora as contas do governo.

Na prática, o que sempre representou um risco, agora está sob controle.

A ironia, claro, é que o descontrole na inflação gere controle nas contas do governo.

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