Foi em 12 de setembro que James Dimon, CEO do JP Morgan declarou sua opinião mais contundente sobre o Bitcoin: uma fraude!
Naquela ocasião, o Bitcoin estava em meio ao seu Bull Market. Tratava-se de um hype, o que torna sua frase ainda mais icônica. Em janeiro de 2017, cotado a $1003, todo o ecossistema do Bitcoin equivalia a algo próximo de $14 bilhões, ou o mesmo valor que o governo americano garantiu 9 anos antes para o JP evitar a falência.
Ao final do ano, o Bitcoin chegaria a $20 mil, uma alta de quase 2000% em um ano. No Brasil, o preço atingiu incríveis R$70 mil.
As razões na época eram inúmeras, mas o crescimento do mercado institucional se destacava. Na ocasião da máxima histórica, o Bitcoin estava às vésperas de entrar na CBOE, a Bolsa de mercadorias de Chicago. Uma mudança drástica, que lhe garantiria enfim um status de ativo.
De lá pra cá a discussão em torno da concepção de “moeda” se tornou inócua. Inúmeros ainda a repetem, claro, em função da ignorância. Piadas com “é possível comprar um café com Bitcoin?” circulam em frases de pessoas que não entenderam o que aconteceu neste período.
Não apenas o Bitcoin se tornou um ativo, como outros tantos passos foram fundamentais para que hoje olhemos para estes R$70 mil pelo retrovisor. Cotado a R$76 mil na data desta matéria, o Bitcoin já superou sua máxima histórica em ao menos 20 países. Estes são os principais motivos.
1. Empresas tradicionais comprando Bitcoin
Sob a sigla de GTBC, o fundo gerido pela Grayscale se tornou uma sensação do mercado em 2018.
A ideia é simples. Ao invés de comprar e armazenar Bitcoins por meio das chamadas exchanges, o investidor poderia acessar títulos do GBTC em plataformas de investimentos comuns, comprando ações equivalentes a determinada quantidade de Bitcoins.
O resultado é que grandes investidores, que muitas vezes por compliance, não podiam acessar o mercado existente até então, entraram no jogo.
Em 2020 em especial, inúmeras outras empresas começaram um processo de Bitcoins com parte de seu caixa. Empresas listadas na NASDAQ como a Microstrategy e a Square, compraram outros $250 milhões ao menos.
O mercado institucional cresceu, ao mesmo tempo em que as regulações se tornaram mais avançadas em torno do tema.
No Brasil por exemplo, a CVM autorizou a oferta de fundos que invistam em criptos, incluindo aí os fundos geridos pela QR Asset Management, única gestora com 100% de exposição em Critpo no Brasil.
Ao longo deste ano os aportes cresceram exponencialmente. Em inúmeras semanas, a quantidade de compras de Bitcoin para estocar superou a oferta de Bitcoins minerados, criando um efeito simples de demanda maior do que a oferta e pressionando o preço do ativo para cima.
2. A política monetária dos EUA e a do Bitcoin
Com um déficit orçamentário de $834 bilhões em julho deste ano, em função da Pandemia, os EUA expandiram rapidamente a quantidade de dólares no mercado.
Como Dan Morehead, gestor da Pantera Capital, comentou em sua carta aos investidores, o valor “impresso” em julho equivale ao mesmo de toda dívida contraída pelos Estados Unidos entre 1776 e 1979.
Em outro número, cerca de 11% dos dólares já criados pelo FED desde 1917, foram criados em 2020.
A pandemia levou a uma escalada da criação de moeda para garantir a liquidez e a atividade econômica, sem precedentes na história mundial.
Este é essencialmente o motivo pelo qual o lendário investidor Stan Druckenmiller, um dos gestores de maior retorno acumulado na história, aposta na queda do dólar.
Veja bem, enquanto falamos aqui no Brasil sobre a desvalorização do real e o dólar como um bote salva vidas, nos EUA a discussão é como se proteger do dólar.
Essa diferença é relativamente simples de entender, uma vez que um índice de inflação é uma cesta de bens consumidos no dia a dia, mas não de ativos reais.
Exemplo: um índice medirá o impacto do aumento de preços em alimentos, energia, aluguel, roupas, móveis etc, mas não irá medir o aumento do preço dos imóveis ou o aumento do mercado de ações.
Como Luis Stuhlberger comentou por aqui, a tendência é uma valorização de terras, imóveis, ações e Bitcoins.
Na prática, manter dólares parados em caixa é ver suas aspirações de longo prazo se tornarem menis acessíveis.
Em suma, enquanto o mercado compra ativos que não o dólar (ouro, ações, e criptos), a oferta de Bitcoins cai.
3. O risco político
As razões citadas acima explicam boa parte da alta do Bitcoin em dólar, mas há um fator no criptoativo que chama atenção em países como o Brasil.
No mercado o nome disso é essencialmente “hedge”, ou proteção propriamente dita.
A ideia é que a economia global oscila muito menos do que as economias nacionais, em especial a brasileira.
Isso significa que empresas que tem sua receita em dólar (como a WEG), ganham força.
No caso do Bitcoin, o ativo ganha um carinho especial por se tratar de algo cuja fundamentação teórica é uma proteção não apenas cambial (por ser global), mas política.
Governos ao redor do mundo que se afundam em dívidas ou criam impedimentos para acessar os mercados globais, afetam positivamente o Bitcoin.
Em suma, a cripto garante uma proteção contra os desmandos do FED e sua taxa de juros artificialmente baixa, além de governos como o brasileiro.
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