Encarar uma fila, discutir a convocação da seleção ou o final da novela, reclamar do governo ou do trânsito, não são poucos os hábitos cotidianos dos brasileiros que poderiam ser classificados como um verdadeiro esporte nacional. Nenhum destes hábitos, porém, sequer se compara à nossa maior especialidade: apoiar políticos especializados em dificultar a nossa própria vida.
Poucos países do mundo tornaram-se tão especializados nesta arte. Por aqui, 2 em cada 3 brasileiros, pertencentes justamente à parcela mais pobre da população, pagam em média 53,9% de impostos para cada R$ 100 em renda. De quebra, 15 milhões de famílias não têm reconhecido pelo governo sequer a propriedade da própria casa – o que em outras palavras significa dizer que negamos um patrimônio de R$ 1 trilhão aos mais pobres. Coisa pouca, não é mesmo? Cerca de 32 vezes o que paga o bolsa-família.
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Cuidamos de tudo para garantir que você esteja cercado, não importa o caminho que decidir tomar. Se optar por estudar e seguir em um emprego com carteira assinada, ganha de brinde a maior carga tributária sobre salários no mundo. Se optar por empreender, levará para a casa os maiores juros do planeta e uma burocracia que lhe fará gastar 2.600 horas por ano apenas para pagar os impostos em dia (e isso para não falar da dificuldade que é identificá-los).
É como jogar videogame no modo difícil, mas sem poder salvar. Segundo o IBPT, o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, nenhum país do mundo oferece serviços públicos tão ruins em troca de tantos impostos. E se você tem mais de 18 e já teve de encarar a realidade de pagar suas próprias contas, talvez tenha percebido que passar um mês no Brasil com salário mínimo torna aqueles programas de sobrevivência em lugares inóspitos como florestas ou desertos um desafio tão grande quanto passar férias na Disney com tudo pago.
Como bem definiu Tom Jobim, o Brasil não é um país para principiantes. E aqui, nós separamos 20 fatos que lhe farão ter certeza disso.
São em média uma a cada dois minutos, ou pelo menos quatro no tempo que você levará para ler esta matéria. O resultado ao longo dos primeiros 25 anos de vigência da Constituição Federal? Inacreditáveis 4.875 milhões de normas, sendo 309 mil delas apenas para definir impostos e taxas que você deve pagar.
Na média, cada um dos 9,4 mil donos de cartório no Brasil levam para casa todo ano R$ 1,1 milhão. Logo abaixo, os membros do Ministério Público, que levam em média R$ 527,6 mil e os do Judiciário e tribunais de conta, que embolsam por ano R$ 512 mil. A primeira profissão do setor privado a aparecer na lista é justamente a profissão de médico, ocupando um modesto quinto lugar.
Cerca de 4 vezes o gasto com o Bolsa-Família é o que nos custa todos os anos manter tantas normas tributárias. São cerca de 27 legislações distintas apenas para o ICMS, o principal tributo cobrado pelos Estados, com cada uma podendo chegar até 67 páginas.
Um grupo de garçons responsável por servir o café e cuidar da copa no Senado tornou-se parte da elite do funcionalismo público ao receber uma promoção realizada por meio de atos secretos assinados pelo presidente da casa, ainda em 2001. Recebem até hoje R$ 14,6 mil, ou 7 vezes o piso salarial de um professor.
São R$ 4,3 mil para ajudar os magistrados a bancar o custo de aluguel, além dos salários e outros auxílios, como R$ 3,2 mil anuais para a compra de livros. Manter uma criança no ensino médio, porém, custa R$ 2,2 mil por ano
Manter a estrutura prisional brasileira não é algo barato. Para amenizar a situação, foi criado o Fundo Penitenciário da União, que arrecada em média R$ 400 milhões todos os anos. Por falta de planejamento, no entanto, os governos estaduais acabam não utilizando os recursos, favorecendo a superlotação em presídios.
Apesar de ser extremamente comuns ao redor do mundo, as bombas de autosserviço que permitem aos clientes abastecer o próprio carro, foram proibidas por lei no ano 2000, em um projeto encabeçado pelo deputado Aldo Rebelo.
Para a Constituição, o cidadão deve ser protegido por lei de ter seu trabalho substituído por uma máquina. Aldo, o autor da lei específica sobre os postos e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, alega que ela garantiria o emprego de milhares de pessoas da categoria.
Isso acontece porque, apesar de funcionar como um meio de defesa da categoria, a OAB e outros conselhos regionais não são considerados sindicatos, mas sim associações de ordem, garantindo alguns privilégios especiais, como o monopólio para cobrar anuidades em função do exercício da profissão e multar ou punir quem exercer tal profissão sem a permissão legal.
Ao contrário de inúmeros países onde os impostos sobre consumo são calculados por fora – ou seja, em cima apenas do valor do produto – no Brasil é possível que um imposto seja cobrado inúmeras vezes durante um processo produtivo, gerando um efeito cascata. Na sua conta de luz, por exemplo, o valor do consumo é acrescido da Cofins, a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, e o ICMS que você paga é calculado com base no consumo mais a Cofins. O resultado? Uma conta de luz mais cara.
A luta para derrubar essa excrecência segue rolando, com um parecer favorável por parte do STF para derrubar a prática.
A parcela mais pobre da população, que recebe até 3 salários mínimos, responde por 53,8% do total de impostos pagos no país. Isto ocorre pois, segundo o IPEA, quem possui renda de até 2 salários mínimos pode chegar a pagar 48,9% de sua renda em impostos, contra 26,3% de quem ganha acima de 30 salários. O motivo é justamente a forte incidência de impostos sobre o consumo.
O compilado é feito anualmente pela revista Exame, com uma média entre as 1000 maiores empresas do país, considerando lucros e prejuízos, e refere-se ao ano de 2014 – antes, portanto, da crise atual.
Você sabe quanto rende o FGTS? Pois é, muito pouco. Menos do que a inflação. O resultado para os 34 milhões de brasileiros que possuem uma conta no fundo é um prejuízo estimado em R$ 229 bilhões entre 1999 e 2015.
Loucura, não? Somando exportações e importações, o comércio exterior brasileiro equivale a 11,5% do PIB, número menor do que o de Cuba, que exporta e importa 14% do PIB. O embargo deles é norte americano. O nosso é do governo.
Sétima economia mais desigual do planeta, o Brasil ainda é um país de extremos. Uma pessoa que recebe um salário mínimo de aposentadoria está, de acordo com o IBGE, entre a metade de maior renda da população.
Em 2013, todos os portos brasileiros movimentaram juntos 8,93 milhões de conteineres, o equivalente ao porto de Hamburgo na Alemanha e menos do que o porto de Dalian (o oitavo maior porto da China).
Em cargas totais todos os portos brasileiros exportaram 931 milhões de toneladas, contra 697 milhões de toneladas exportados pelo porto de Shangai, o maior do mundo.
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