Em meados de fevereiro, dias antes de o presidente Jair Bolsonaro anunciar sua intervenção direta nas políticas internas da Petrobras, uma negociação atípica com ações da (PETR3, PETR4) petrolífera chamaram atenção dentro da B3.
Um investidor comprou no dia 18, quando a ação valia R$29,27, uma opção de vender o papel por R$26,50 no dia 22, apostando que a ação cairia ao menos 9% nos próximos 4 dias.
Dito e feito, no dia seguinte da negociação, as ações caíram 6%, e posteriormente com as notícias públicas da troca do comando da Petrobras os papéis despencaram cerca de 20% em apenas um dia.
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Esse tipo de negociação caracteriza um caso clássico de insider trading, uma operação na qual o investidor faz uso de informações privilegiadas para realizar lucros. No caso mencionado, o investidor em questão realizou um lucro na casa dos R$18 milhões.
Geralmente operações desse tipo são realizadas em quantias pequenas, de maneira que o risco de interceptação pela CVM seja mitigado. A negociação em questão destoa desse padrão, uma vez que o montante girava em torno da casa dos milhões, o que facilitou o trabalho da B3 e CVM em intervir no caso.
Casos como esse não são tão incomuns, principalmente em empresas de capital misto/privado como a Petrobras. Mas nos últimos dias negociações incomuns realizadas no mercado americano têm ganhado as manchetes por lá, a causa é simples: os investidores em questão compõem o órgão financeiro governamental que comanda a economia global, o Federal Reserve.
Em resumo, os “donos da impressora”, estão comprando títulos, incluindo alguns investidos por seus diretores.
Na última quinta (16), o presidente do FED, Jerome Powell, ordenou uma revisão das regras de ética para o Banco Central após protestos contra funcionários que possuem títulos individuais relacionados às aquisições recentes do banco.
O código de conduta do banco central diz que os funcionários “devem ter cuidado para evitar quaisquer negociações ou outra conduta que possa transmitir até mesmo uma aparência de conflito entre seus interesses pessoais, os interesses do sistema e o interesse público”.
Em meio aos crescentes protestos perante a conduta dos funcionários, a CNBC realizou uma análise aprofundada nas divulgações financeiras dos funcionários e revelou que três possuem ativos do mesmo tipo que o próprio FED adquiriu, incluindo o presidente Jerome Powell.
Com a divulgação dos dados, os protestos inflamaram ainda mais a discussão em torno da política de supervisão dos funcionários do Banco Central.
A compra dos ativos por parte do FED se deu em torno do maior período de aquisição da história do banco, que agiu em prol da mitigação dos efeitos da crise econômica causada pelo COVID-19. De fevereiro de 2020 para este mês o balanço total de ativos do FED mais do que dobrou, saltando de US $4,1 trilhões para US $8,4 trilhões.
O gráfico abaixo mostra o balanço geral dos ativos adquiridos pelo FED:
Desde ao menos 2008, o FED vem expandindo suas aquisições em títulos sob a justificativa de ajudar na retomada econômica. Desde então o balanço do banco cresceu cerca de 10 vezes.
Essa atuação tem fortalecido o que os analistas chamam de “inflação de ativos”, ou em outras palavras: uma alta generalizada no preço de ações, imóveis e outros ativos.
Os questionamentos se dão ainda sobre a maneira como o FED injeta os recursos na economia, uma vez que boa parte dos títulos já são de propriedade de empresas de grande porte.
Na prática, o dinheiro do FED muitas vezes não chega na ponta, o que implica em menor impacto econômico, e serve apenas para enriquecer aqueles que já possuem patrimônio.
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