Por que o Peso-Real, a moeda comum de Brasil e Argentina, é uma péssima ideia

Confira os destaques

Quando defendeu a ideia de uma moeda única com a Argentina, Paulo Guedes mencionou acreditar que, em duas décadas, o mundo terá espaço para 3 ou 4 moedas, de modo que a América do Sul deveria buscar se fortalecer.

Já o petista Fernando Haddad, possível ministro da Fazenda de Lula, acredita que a criação de uma moeda única com a Argentina, ou toda América do Sul, é uma forma de fortalecer a economia da região.

O Euro, a moeda única da União Europeia, é constantemente citado como exemplo bem sucedido. Mas nem tudo são flores por lá.

A integração econômica maior, com os países negociando mais entre si pela facilidade da moeda, de fato existe, mas as disparidades locais saltam aos olhos.

Grécia e Alemanha, apesar de terem a mesma moeda, possuem estruturas de governo bastante distintas. As regras na economia são longe de serem parecidas.

Este cenário levou a Alemanha a se tornar responsável, como maior economia do continente, por ter de socorrer gregos e outros europeus em crises passadas.

No caso Brasil e Argentina, não seria estranho mesmo ocorrer. Apesar de ter um PIB per capita 25% maior, a economia da Argentina é nominalmente 4 vezes menor do que a nossa.

Na prática, o Peso-Real seria um outro nome pro Real. E é aí que os problemas começam.

Estaríamos atrelados com a mesma moeda, o que implica dizer que o governo argentino, comprometido com gastos públicos descontrolados, passaria a precisar de reais para se financiar.

Na busca por Reais, ou "Peso-Real", a Argentina teria 3 caminhos: se endividar, buscar recursos junto aos investidores brasileiros, ou forçar o Banco Central a emitir mais dinheiro.

Uma integração imediata, portanto, criaria problemas graves, isso porque a Argentina não possui a mesma confiança internacional que o Brasil, e muito menos as nossas leis fiscais.

Não há na Argentina uma regra que impeça o governo de se endividar para gastar.Estaríamos sujeitos a um parlamento mais dividido e complicado do que o nosso, com um histórico ainda mais populista e irresponsável fiscalmente que o Brasil.

Também em uma integração forçada, nossos dólares teriam de servir para aliviar o endividamento externo dos Hermanos.

Os argentinos devem $270 bilhões de dólares ao exterior (60% do PIB), e possuem $15 bilhões em reservas, já o Brasil deve, incluindo empresas, $687 bilhões (35% do PIB), mas possui $360 bilhões em reservas.

E os benefícios? Uma integração econômica via unicidade monetária nos tornaria reféns do parlamento em Buenos Aires, mas facilitaria o comércio entre os dois países.

Atualmente o comércio entre Brasil e Argentina somou $23 bilhões, um valor ínfimo para justificar os riscos.

Uma integração como essa, porém, precisaria passar por ajustes de longo prazo em ambos os países, tal qual o Euro. É improvável portanto que vejamos mesmo em 2 décadas uma integração do tipo.

Saiba mais

Acompanhe nosso trabalho

Twitter
Instagram