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Investimentos

iPhone 13 custará R$15,4 mil no Brasil, graças ao dólar-Apple

Poucas coisas são tão definidoras do Brasil quanto a noção de câmbio de equilíbrio. Segundo essa ideia, há uma taxa ideal, pela qual a indústria brasileira se torna competitiva. Trata-se de algo relativamente insano, com ares pomposos de ciência econômica. Para entender o motivo, basta ler uma tradução literal da ideia: vamos fazer nossa moeda […]

Poucas coisas são tão definidoras do Brasil quanto a noção de câmbio de equilíbrio. Segundo essa ideia, há uma taxa ideal, pela qual a indústria brasileira se torna competitiva.

Trata-se de algo relativamente insano, com ares pomposos de ciência econômica. Para entender o motivo, basta ler uma tradução literal da ideia: vamos fazer nossa moeda valer menos, para que fique mais barato para estrangeiros comprarem da gente.

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Faz sentido? É evidente que não, por outra razão tão óbvia quanto: nossa dificuldade em produzir bens de maior valor agregado está ligada a problemas em nossa própria estrutura.

Na teoria a ideia de câmbio de equilíbrio busca equalizar o quanto um país troca com o exterior, garantindo que consuma o mesmo que exporta. Na prática, estamos importando custos altos para exportar facilidade, o que como você já deve ter percebido, impede que a gente resolva os problemas reais, e invista em algo verdadeiramente produtivo.

A razão pela qual não produzimos iPhones, ou algo tão desenvolvido quanto não está em nossa taxa de câmbio, mas na nossa estrutura tributária, infraestrutura e capital humano.

Se você puxar na memória provavelmente se lembrará quando no ápice dos projetos mirabolantes tentamos instalar por aqui uma fábrica da Foxxcon, a empresa de Taiwan que fábrica os iPhones, ipads etc.

O anúncio chamou atenção, mas a desistência da empresa, que deveria em tese chamar muito mais, passou batido. A Foxxcon acabou desistindo do projeto graças a dificuldade em encontrar mão de obra. Faltavam engenheiros qualificados.

Durante um curto período, e longe dos $12 bilhões em investimentos produtivos, a empresa manteve uma pequena linha produzindo ipads no país. Dos 100 mil empregos aguardados, uma fração se concretizou.

Até 2017, quando a operação foi encerrada, a empresa produzia na base de incentivos fiscais. Ainda assim, não era o suficiente, de maneira que a produção foi encerrada por completo.

Como relata João Moreira Salles em um artigo escrito em 2010, o Brasil é um país que forma mais pessoas em Moda e Cinema do que em matemática ou física. 

Tal situação cria seus custos, mas ainda assim poderia ser superada, caso a demanda fosse estável e mostrasse as novas gerações os empregos possíveis nestas áreas.

Com um sistema tributário absurdamente insano porém, a produção industrial brasileira fica a míngua. Segundo a FIRJAN, o setor industrial brasileiro paga em média 42% de carga tributária, contra 23% do setor de serviços e 6% do agronegócio.

Nem se tivéssemos planejado conseguiríamos com tamanha habilidade tornar o Brasil uma enorme fazenda com pequenas cidades no meio.

O certo é que nossa indústria segue com pouca produtividade. Importa máquinas e equipamentos, ou tecnologia, é caro. Contratar pessoas? Mais caro ainda. Para cada R$1 em salários, temos R$1,03 em impostos e benefícios.

Em resumo, produzir no Brasil não é das tarefas mais fáceis, e não por coincidência, o apelo de um dólar valorizado causa tanta comoção em nossos empresários.

Os custos de se ter uma moeda fraca, que não são arcados por estes mesmos empresários, é o grande problema. 

O primeiro e mais óbvio deles, é que uma moeda fraca faz com que as pessoas tenham de trabalhar mais para consumir menos, afinal, uma taxa de câmbio depreciada impacta na inflação, pois inúmeros produtos, incluindo o trigo do pão que você consome, são cotados em dólar.

Mantemos as amarras e criamos espantalhos que impedem de resolvê-las. 

Mas essas são questões internas, e não respondem ao todo, se limitando abordar o porquê de não produzirmos internamente. E quanto aquilo que importamos? Porque é tão mais caro do que é no exterior?

O dólar-Apple

Foram os argentinos quem, com sua enorme dependência do dólar, cunharam o termo “dólar streaming”. Na prática, a taxa de câmbio que é estabelecida pelo governo ao se comprar serviços, como o Streaming da Netflix.

No Brasil, não chegamos ao ápice em que o câmbio varia de acordo com cada produto que se queira comprar (os argentinos no caso possuem 12 taxas de câmbio, incluindo dólar soja, petróleo etc). 

Há uma enorme coincidência porém, que faz com que informalmente consideramos comum uma taxa de conversão distinta daquela anunciada nos jornais.

Em todo lançamento de Playstation, ou iPhone, ou qualquer eletrônico, a taxa de câmbio costuma ficar próxima a R$10 pra 1, muito longe do câmbio oficial. 

Um Playstion que custe $499, é vendido no Brasil por R$4.999,00. Neste caso ainda há um agravante. Por se tratar de jogo, o console paga até 70% de imposto, acima de bens de luxo ou armas de fogo.

Por que exatamente isso ocorre?

O ponto mais óbvio que se poderia apontar é lucro. As margens são altas! De fato, a Apple apresenta uma margem de lucro razoável por aparelho, ainda assim, o lucro no Brasil e no exterior não chega a variar.

Uma das questões centrais é a carga tributária. Por aqui, 39,8% do preço de um iPhone é imposto. Nos Estados Unidos a margem chega a 9%.

Uma diferença e tanto, mas que explica apenas parte do problema. 

Outra questão importante é a margem do revendedor. No Brasil, as margens chegam a ser o triplo dos Estados Unidos, atingindo até 10% do valor do aparelho para pagar o revendedor.

Como não opera 100% com lojas próprias, a Apple precisa pagar uma fatia aos lojistas. Algo comum, e que aumenta o preço.

Mas há um outro fator, pouco explorado.

A empresa se tornou a mais valiosa do planeta ao expandir radicalmente não apenas a venda de aparelhos, mas ao colocar e rentabilizar serviços em cima deles.

Isso funciona de tal maneira que Microsoft e Google pagam $8 bilhões anuais apenas para que  seus navegadores sejam o padrão no iPhone.

Um cliente que use ios geram em média 3 vezes mais receita para o Google do que um cliente que use Android. 

A diferença de poder aquisitivo entre os usuários médios, explica essa questão. Um usuário de ios, da Apple, possui maior renda, e gasta mais em compras online.

Isso cria um ambiente no qual a Apple valoriza sua marca ao restringir de maneira deliberada o seu acesso. 

O status do iPhone, especialmente em países mais pobres, como o Brasil, é algo que tem valor para a empresa. Na prática, a escassez gera valor. 

Por último, mas não menos importante, o risco cambial é uma questão a se levar em conta. Por se tratar de uma moeda instável, a Apple estabelece um valor maior por aparelho, evitando assim que uma variação brusca de preços (como ocorreu este ano), possa prejudicar seu balanço.

A empresa acaba por se proteger do risco político de países como o Brasil, ao cobrar um pouco a mais. Exatamente como qualquer pessoa deveria fazer em seus investimentos. 

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